De Miguel Dantas, Narciso Alves da Cunha disse que fez a ressurreição do concelho e Bernardo Chouzal proclamou que era o maior de todos.
De todos, talvez não, porque em 1896, Bernardo Chouzal iniciou, juntamente com Manuel Joaquim de Figueiredo, a publicação do JORNAL DE COURA, numa edição paralela, que se manteve de 8 de março a 16 de agosto de 1896. Ou seja, a cisão local do Partido Regenerador, tutelado por Miguel Dantas, colocou em confronto a fação dos novos (leia-se, da Guarda Nova, impulsionados por António Cândido Nogueira, eleito presidente da Câmara Municipal) contra a fação dos velhos (entenda-se, da Guarda Velha, seguidores de Miguel Dantas).
O primeiro jornal concelhio, da Guarda Nova, foi editado e impresso na “tipografia do Jornal de Coura”, da qual era proprietário e administrador Alfredo Machado, sendo o jornal da Guarda Velha impresso no Porto, como diz Narciso Alves da Cunha, e depois no concelho de Paredes de Coura.
Recorde-se que Bernardo Chouzal e Casimiro Rodrigues de Sá eram os redatores do JORNAL DE COURA, e que assim se mantiveram nos primeiros números, porque na edição n.º 15, de 8 de março de 1896, aparece como redator, na Guarda Velha, Casimiro Rodrigues de Sá e, no Guarda Nova, surgem Manuel Joaquim de Figueiredo e Bernardo Chouzal. Ou seja, Casimiro Rodrigues de Sá manteve-se fiel a Miguel Dantas, não por muito tempo, e Bernardo Chouzal optou pela ala mais liberal do Partido Regenerador, estando em campos opostos na política, mantendo-se somente unidos na religião.
Analisaremos a argumentação das duas fações, em próxima crónicas, pois o que está em causa é a figura de Miguel Dantas, fazendo lembrar o ditado popular “santos da casa não fazem milagres.”
Contudo, parece que se tratou de uma “rixa política” temporária, já que 27 anos depois da morte de Miguel Dantas, no dia 11 de setembro de 1932, no largo visconde de Moselos, Bernardo Chouzal proferiu um dos discursos, reconhecendo que “a dívida de gratidão que Coura contraiu para com o seu maior benemérito, vai ser hoje finalmente saldada pela inauguração deste mui singelo, mas bem expressivo monumento.”
E continuou: “Nenhuma terra, porém deve a um só homem, como Coura a Miguel Dantas, tão copiosa e variada soma de benefícios … que todos os courenses sempre o saúdem, respeitem e amem com a mais alta expressão do valor courense todo e só devotado ao engrandecimento da sua terra.”
Na edição especial de O COURENSE, António Cândido Nogueira escreveu um texto na qual não só se penitencia da dissensão com Miguel Dantas, como também apresenta as razões pelas quais se afastou da política, em 1910, com a República. Sobre a discordância política, diz que a cisão do partido Regenerador “determinou a nossa rotura no campo político, mas a decisão pessoal ficou intacta através das lutas em que nos debatemos, renhidas, mas leais de parte a parte”.