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VIDA DE EMIGRANTE EM ANGOLA

26 de Abril de 2022 | Utilizador Independente
VIDA DE EMIGRANTE EM ANGOLA
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CASAL COURENSE NA MAIOR EMPRESA DO PAÍS

Angola já faz parte da minha vida desde 2004, ano que o meu pai (Manuel Pereira) rumou para Angola e aceitou o desafio de acompanhar a criação e crescimento da empresa Omatapalo na cidade do Lubango.

Eram tempos difíceis, num país desconhecido que estava ainda muito devastado da guerra e onde havia muita escassez de bens de primeira necessidade. A comunicação com Portugal nem sempre era possível, passavam-se dias sem conseguirmos falar. Água, electricidade e até comida, nem sempre estavam ao alcance dele e dos colegas Portugueses que foram chegando ao longo do tempo. Tomar banho com água de cisterna (que nem sempre chegava para todos), dormir numa carrinha para garantir combustível no dia seguinte no trabalho, ter energia apenas com geradores, são algumas das histórias que nos contam os nossos Courenses. Todas estas vivências e o facto de pertencerem muitos deles à nossa Terra Amada, deram origem à “família” Courense do Lubango. A persistência deste grupo de pessoas que foram pioneiras neste projecto, a sua entrega e dedicação ao trabalho, o não se deixarem abalar com as adversidades, faz com que hoje se sintam orgulhosos da Empresa da actualidade, a maior Empresa de construção Angolana.

Em Janeiro de 2017 decidimos nós (eu e Zé) arriscar numa mudança profissional e rumámos também para Angola à procura de novos conhecimentos, novas experiencias e novas vivências. Angola não era totalmente novidade para nós e sentíamo-nos tranquilos por saber que tínhamos muitos outros Courenses conhecidos por aqui, entre eles os nossos próprios pais.

Apesar de Angola de 2017 estar muito diferente de Angola de 2004 e da empresa ter todas as condições para acolher os trabalhadores, os primeiros tempos foram difíceis. Um novo país, uma nova cultura, uma pobreza a que não estávamos acostumados, as nossas famílias e amigos que deixámos para trás e o facto de nos primeiros seis meses estarmos em províncias diferentes, o Zé no Dundo (norte do país) e eu no Lubango (sul do país).

Com o tempo fomos percebendo que ao contrário do que inicialmente achávamos, em Angola é possível constituir família, por isso em 2019 nasceu o Rodrigo. O receio de trazer um bebé para Angola prende-se apenas com questões de saúde e educação. Também não temos a variedade de produtos como em Portugal. Coisas simples como legumes, frutas, iogurtes e leite nem sempre se encontram nas lojas. Aprendemos a remediar com o que encontramos. Tentámos nas viagens a Portugal trazer alguns mimos e bens necessários que sabemos que por cá não se encontram com facilidade.

O Rodrigo adora estar aqui, para ele Angola é a sua casa. Gosta do clima, de poder andar com pouca roupa, de ter contacto com a natureza, de conhecer os vizinhos, de brincar com as outras crianças e dos tios Courenses com quem lida normalmente. Frequenta uma creche Angolana e tem uma babá Angolana que nos ajuda também com as lidas da casa, enquanto estamos a trabalhar.

É importante referir que todas estas condições e facilidades são proporcionadas pela Empresa Omatapalo, que para nós Courenses deve ser um motivo de orgulho, pois foi fundada por um dos nossos.

Pretendemos no futuro voltar para Portugal e para Paredes de Coura, pois é aí que pertencemos. Mas, as experiências vividas e os laços criados com as pessoas que Angola nos deu, irão certamente ter sempre um lugar especial no nosso coração.

Cristina Pereira e José Lopes Pereira

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