Quantas pontes tem o rio Coura?
Antes de qualquer resposta, ter-se-á que concordar com o local onde se forma o rio Coura, se os seus afluentes, como ribeiros e regatos, também são tidos em conta e o que se considera ser uma ponte, já que, ao longo dos anos, as passagens de uma margem para outra foram recebendo designações diferentes, por exemplo, pontões e poldras (pedras sobre a água de um curso de água).
É provável que no lugar de poldras tenham sido construídas pontes, as primeiras, em alvenaria de pedra e, as mais recentes, em betão armado, muitas vezes, denominadas pontes novas.
Se mais critérios existirem, então a contagem tornar-se-á mais difícil. Se aceitarmos como critério único as pontes usadas como locais de passagem para pessoas e carros, e que o rio Coura se forma na junção dos caudais de Casaldate, chegaremos ao número 13, sem que seja invocado qualquer sentido azarento.
Se a contagem dos leitores for diferente, facilmente a aceitarei, porque este número resulta de uma conversa muito breve e fugidia que tive com alguns dos atuais presidentes de juntas de freguesia.
Dessas 13 pontes, apenas tenho presente uma, que une os lugares de Santa e Afe, e à qual se chama, desde a Idade Média, ponte da Peideira.
Trata-se de uma velhinha ponte, em alvenaria de pedra, musgosa e amarelada, que conheceu muitíssimas pessoas, ao longo de muitas gerações. À época, deve ter sido uma obra de grande impacto, tornando possível a passagem de carros de bois, de pessoas descalças ou de botas cardadas, sem que fosse enaltecida em documentos escritos, que nos ajudariam, agora, a saber quem foram os seus construtores, nos tempos em que a “Terra de Coyra” fazia parte do “Julgado de Frayão.”
E esta ponte conheceu, também, períodos de seca, vendo o rio diminuir-se, como se tivesse miopia severa, bem como períodos de inundações, vendo chegar-lhe ao queixo águas rezingonas, barulhentas, conflituosas.
No lado sul desta ponte, o rio escondia-se, silenciosamente no verão, permitindo que os rapazes saltassem de pedra em pedra, como se de um jogo se tratasse, e mostrava-se no inverno, na sua fúria desalmada, que transportava ramos de árvores caídos, sem destino.
Correndo mais uns longos metros, já no sentido de oeste, nos “fundos” de Afe, Santa, Cabanela e Codessal, o rio, que sempre coube na ponte, pelo menos não há notícias contrárias, foge das suas margens e fertiliza os campos, que lhe servem de proteção, como que dizendo que terá de regressar ao leito original logo que as chuvas terminem.
E quando isso acontecia, o que era muito frequente, dizia-se que seria um ano agrícola de abundância, para alegria dos agricultores que viviam do magro e cíclico sustento da terra. Neste ano de 2022, de seca extrema, o rio Coura manteve-se dentro das suas margens, à espera de melhores dias, e sobre ele transitam, nas tantas pontes existentes, pessoas que não acreditam no número do azar.