Nestes últimos dias as temperaturas elevaram-se para valores que já não sentíamos há largos anos. Aliás, nestes últimos meses as altas temperaturas e a falta de chuva precipitaram esta grande seca que se estende pelo território continental. Apenas fica de fora deste cenário de extremos, parte da nossa região, que apenas, e não fique feliz com isto, se encontra em seca moderada.
Neste cenário de seca, no passado dia 12 Julho, o Governo reconheceu oficialmente através de um Despacho publicado no Diário da República, a existência de uma seca severa e extrema agrometeorológica em Portugal. Esta decisão já devia ter sido tomada. Já se fala de seca extrema desde Fevereiro, caro leitor.
Vivemos uma situação dramática que tende a piorar, sobretudo para a agricultura, mas não só. Todos, caros leitores, iremos sofrer com as consequências deste estado do clima. E todos somos culpados. Ou quase todos. Aquela fatídica questão do ambiente, e das alterações climáticas. Talvez este assunto não passe de uma ‘grande seca’ para alguns.
Em final de Fevereiro a situação já era muito grave. Depois disso choveu, cara ministra da Agricultura, mas a sua dança não pegou. Era previsível que a situação agrometeorológica não melhorasse. Teria sido importante que os nossos governantes tivessem decretado esse Estado de Emergência prontamente. Pois, mas não fossem as eleições, caros leitores, que é o que realmente importa para uma grande maioria desses governantes. Esta temática para estes, não passa de uma grande seca.
Com tanto dinheiro que se gasta em estudo e pareceres, não entendo o adiamento de acções que poderiam fazer a diferença em situações de perigo iminente, como esta. Será que alguém anda a procrastinar, cuidado, que isto poderá querer dizer que alguém se encontra em Burnout. Mas desculpem-me a sinceridade, não consigo identificar a causa.
Em alturas como essa, a política não pode nem deve planear e, muito menos tomar decisões, sozinha. Por muito dinheiro que se gasta em assessores, principalmente quando estes apenas têm experiência académica e política, isso não chega para idealizar, muito menos concretizar, a decisão mais acertada em situações de calamidade. Sobretudo em sectores tão importantes como é o caso da agricultura. Esta deve obrigatoriamente ir beber na fonte do conhecimento da ciência e da tecnologia, mas sem nunca se desligar das estruturas profissionais sectoriais. Que trabalham com os sectores envolvidos todos os dias e há anos a fio.
Para quem não sabe, profissionalmente, eu sou engenheira agronómica, ligada ao associativismo há mais de 25 anos. Trabalho com e para os agricultores. E em momento algum menosprezei o conhecimento desses empresários e trabalhadores multifacetados. Quando falam dos seus problemas, da sua lavoura, do seu produto, ouço-os sempre com muita atenção, porque sei que as respostas para muitas questões estão ali, naquela sabedoria pura e firme. Na resolução de uma questão, a componente científica e tecnológica auxilia-me na organização e tomada de decisão, já quem trabalha comigo ajuda-me na resolução. As coisas, caros políticos, podem e devem funcionar desta forma, se não em todas, mas em algumas tomadas de decisão, sobretudo quando estas afectam directamente terceiros. Ouçam as estruturas associativas envolvidas, porque além de serem os legítimos representantes dos sectores que defendem, eles sabem muito, se não quase tudo, sobre o assunto. Estas não podem ser consideradas, por vós, como sendo do contra.
E quando se trata de agricultura, é preciso ter o discernimento para não desafiar, pela negativa, os agricultores, muito menos através das suas estruturas. São estas que os representam legitimamente, ou a sua maioria. São elas que estão sempre ao lado do agricultor, faça chuva ou faça sol, como é o caso actual. Caso fosse necessário tomar uma posição de força, estas teriam a oportunidade de mostrar o quão poderosas são. Olhando para o passado, este conta-nos histórias bem interessantes sobre o poder desta esfera, sobretudo nas questões políticas. Os agricultores não são nem nunca foram os pobres coitados, ou subsídiodependentes, como muitos engravatados lhes chamam. Representam um sector demasiado importante, e sabem dessa responsabilidade. Em situação de crise iminente, o que realmente importa para estas estruturas, mais precisamente confederações, é ajudar na tomada de decisão dos governantes. Posso afirmar, por conhecimento de causa, que esta é e sempre foi a posição da CAP, a Confederação dos Agricultores de Portugal, onde a prioridade assenta na defesa do sector e de todos os envolvidos nele.
Esta grande seca, caro leitor, associada ao impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia, e depois de uma pandemia que teima em marcar presença, irá trazer alguns, para não dizer muitos, dissabores, principalmente aos mais desatentos ou menos informados. Isto não vai correr nada bem! Principalmente para as nossas carteiras. Não escrevo para as nossas poupanças, porque uma grande maioria já nem as tem. No que toca ao balanço mensal do orçamento familiar, a história poderá ficar caótica. O nosso dinheiro não estica, ao contrário das despesas, que parecem ter uma elasticidade tal, que até dói só de pensar. Todo este cenário económico está directamente ligado não só à guerra na Ucrânia, a situação pandêmica, mas também a seca associada ao calor e a falta de chuva que se fez sentir por todo o país.
Encontramo-nos no tempo dele, o tempo do calor, como diz, e bem, a minha mãe. Mas estas temperaturas não estão a ajudar, nem os decisores, nem os agricultores. E todos seremos afectados, caso não se tome o ‘touro pelos cornos’. Porque ele vem aí, e está bem descontrolado.
Que grande seca é esta grande seca, nesta altura de férias, mas se não a trouxermos para as manchetes, temas como escassez de recursos, aumento das despesas, falta de água, para não mencionar consequências mais dramáticas, ocuparão as primeiras páginas e o dia-a-dia de cada um de nós. Portanto não deixem que a aceitação seja sinónimo de fechar os olhos para estes problemas que, a curto, médio e longo prazo, afectarão cada um de nós.