Última Hora

Boas saídas e boas entradas

20 de Dezembro de 2022 | Helena Ramos Fernandes
Boas saídas e boas entradas
Opinião

Chegamos ao final de 2022 com muitas pedras na algibeira. Pedras estas que fomos colectadas ao longo do caminho percorrido neste ano que acaba. Pedras de todos os tamanhos e feitios enchendo a algibeira que a vida, a sorte, ou outra coisa qualquer, nos proporcionaram.

Estes últimos anos não têm sido fáceis para quem ganha o seu pão com o seu trabalho, ou melhor dizendo, a partir pedra. Primeiro, a pandemia e a nossa adaptação a ela, e agora, a nossa convivência com ela. Depois, veio a guerra da qual todos falam, mas poucos ou nenhuns entendem. Uma guerra que mata inocentes, de ambas as frentes, e glorifica culpados, talvez de uma só frente. Num duelo sem regras, onde a culpa morre quase sempre sozinha. Ao olhar para este cenário vivido em terras frias, talvez devêssemos aceitar carregar todas as pedras colectadas sem reclamar. Afinal ainda nenhum de nós morreu atingido por um míssil perdido, daqueles nunca propositados ou planeados. Talvez, uma vida, uma sina! E qual será a nossa sina, afinal?

A meu ver, caro leitor, por um lado somos solidários com o sofrimento dos outros, com a dor dos outros, por outro lado diminuímos a nossa dor e esquecemo-nos de quem realmente somos. Somos fortes, somos verdadeiros e somos lutadores. Porque será, caro leitor, que deixamos, sem ripostar, que nos tirem o que é nosso de direito? Sobretudo o que nos custou horas a fio de trabalho, por vezes sem descanso suficiente, ou sem a côdea de pão merecida.

O nosso Estado retira da nossa algibeira repleta de calhaus os únicos trocados que lá conseguimos amealhar. Esse mesmo Estado, que se denomina de democrata, e que, segundo a Constituição, nos deveria proteger e defender, entre outras coisas, parece só se preocupar em colectar tostões que tanta falta nos fazem. Estarei eu a exagerar, caro leitor? Talvez.

Poderia ter optado por só escrever frases de alento e esperança para o novo ano que se aproxima. No entanto, preferi ser realista. Porque e felizmente, a nossa nação está em paz. Apesar das ameaças vindas da velha Europa. Porque e felizmente a nossa saúde já não é contabilizada diariamente por contágios e mortes. Apesar da Covid-19 ainda provocar dores e lágrimas. Porque e felizmente a nossa pátria sente-se gloriosa. Apesar da nossa saída do Mundial no Qatar. E, apesar da polémica acerca do treinador da Seleção Nacional que ainda deve uns largos milhões ao fisco, ao povo português, ao contrário do CR7 que por vezes se substitui ao Estado, doando milhares em prol do benefício de todos.

Porque e infelizmente os nossos governantes sentem-se demasiado soberanos. Apesar da corrupção, com alguns inocentes e muitos culpados. Apesar de uma ministra que fala com tantas certezas sobre coisas que desconhece, sobre milhares que nada mudam quando distribuídos por milhões. Uma ministra com uma pasta diferente dos seus antecessores, a pasta da “Agricultura sem agricultores”.

Porque e infelizmente o ambiente está ressentido. Apesar do esforço de alguns, sobretudo agricultores, provocados pelos excessos de outros meios, sobretudo urbanos, e que apontam os erros a quem realmente os pratica e com consequências graves. Mas depois percebemos, através de sorrisos políticos, que também existem fundos comunitários para resolver problemas ambientais causados por irresponsabilidade e/ou incompetências.

Depois deste desabafo com ou sem fundamento, dependendo do ponto de vista, que venha o novo ano, que venha 2023, e que venha com muita esperança. Para que possamos construir o castelo almejado com todas as pedras arrecadadas. E que este castelo seja para todos nós mais do que um porto seguro. Que este reflcta o futuro daquilo que realmente somos, um povo unido que jamais será vencido.

Boas saídas e boas entradas para todos, caros leitores.

Comments are closed.