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17 de Janeiro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Por estes dias, li um ensaio sobre a “Sala de Aula sem Paredes”, da autoria do canadiano Marshall McLuhan e publicado em 1957. Logo o associei à página web da Câmara Municipal, que tem por nome “Coura sem Paredes”.

É uma das páginas que mais consulto, com informação, ideias e imagens que não me canso de ler e olhar.

No ensaio do académico canadiano, as paredes de sala de aula foram derrubadas pelos meios de comunicação social de massa, isto é, jornais, revistas, rádio e cinema, instituindo nova linguagens, com novos e diferente poderes, e outras capacidades de análise crítica da escola, com todo o seu conhecimento focado no manual.

Assim, o que distingue a pessoa educada das outras (que por cortesia se poderá dizer as não educadas, mas que, no caso do assalto aos três poderes do Brasil, a 8 de janeiro de 2023, chamarei de selvagens) é a capacidade de diferenciar o que é válido socialmente e de saber usar a informação de uma forma verdadeira, sem quaisquer fanatismos.

Acerca destes, são ainda mais perigosos os que misturam a política com a religião, como se observa presentemente no Irão, e também a infame união entre a igreja ortodoxa russa e o poder czarista do Kremlin, que nada fica atrás dos denominados exércitos de deus (sim, escrevo em minúscula, porque outra forma de escrita não será nunca digna daquilo que essas pessoas  armadas até aos dentes fazem às indefesas pessoas, e basta ver o que está a acontecer em Cabo Delgado, território do norte de Moçambique).

Tais paredes das escolas serão ainda mais derrubadas pelas tecnologias digitais, em que o modo de aprender e ensinar está numa mudança radical, abrindo novos e perigosos mundos, sobretudo se o humano perder a mão em relação à inteligência artificial, que nutre os pós-humanos, com quem já conversamos diariamente quando acedemos a serviços ou navegamos pela Internet.

Por sua vez, a imagem de Coura sem paredes é uma das mais brilhantes ideias, transmitindo leveza – mas uma sustentável leveza, contrariamente ao título de um romance de Milan Kundera – tranquilidade e vontade de ser courense e de estar em Coura.

Por menos que sejamos em número de habitantes, por menos quilómetros quadrados que tenhamos, e por mais distantes que estejamos da capital, somos, acima de tudo, pessoas que gostam de partilhar, participar, conviver, dizendo com todo o orgulho que se possa ter que Coura ao mundo pertence, e é nesse mundo sem paredes que gostamos de habitar.

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