Já estavam com saudades minhas, felizmente as minhas crónicas não se ficaram por 2022. Espero que tenham conseguido entrar em 2023 com o pé direito e que este ano vos reserve muita saúde, amor, felicidade e coisas boas. Como já puderam perceber, não é sobre estas entradas que irei escrever, mas sim acerca das entradas do nosso português. A nossa língua, apesar de bem estruturada e definida, tem sofrido ajustes desde sempre. Mas quem é que executa esses ditos “ajustes”? Não, não são as editoras e muito menos o governo em particular. Somos todos nós, os portugueses. É através dos diálogos que vamos construindo ou adaptando a nossa língua, o nosso português. Melhor dizendo, só assim foi possível a evolução das normas aplicadas acerca da melhor forma para se escrever e falar.
São as interacções sociais as principais responsáveis por estas alterações. Apesar de serem apresentadas por uma entidade, esta não possui qualquer poder em definir as novas aplicações sem se fundamentar em algo que seja mais abrangente. Contudo, esta evolução não é vista de bom grado por muitos portugueses. Apesar de já me ter sido incutida a gramática actual, do novo acordo ortográfico, consigo perceber aqueles que são cépticos em aceitar estas alterações. No meu ponto de vista, é completamente natural pessoas que conviveram durante toda a sua vida com uma forma de escrita e de dicção, sentirem dificuldade em alterar grande parte do que lhes foi ensinado. Homens e mulheres que trabalharam e se desenvolveram segundo regras que mais tarde foram drasticamente modificadas e de repente dadas como sendo a forma “correcta”. Acredito que muitos se tenham questionado acerca do que é correcto e porque é correcto. E a verdade é que muitos viram-se obrigados a ter que corrigir algo sem compreender o porquê de estar errado. Resultado da pressão social e da falta de uma resposta objectiva às suas dúvidas. “É assim e pronto, só tens que corrigir”. Foram obrigadas a estudar a reestruturação de uma língua que achavam dominar na perfeição, uma linguagem a que estavam habituados e conviviam diariamente.
E do passado constrói-se o futuro. Sim, é isso mesmo que estão a pensar. Algo me diz que no futuro iremos sofrer novas alterações, não nas nossas gramáticas, mas nas nossas expressões. Muitas das expressões portuguesas irão ser substituídas ou ficarão perdidas nos livros. Algo que hoje vemos como sendo a nossa língua vai se alterar, e aí sim, vamos compreender o que aqueles que em 2009 foram confrontados com uma nova gramática sentiram. Perder-nos nas nossas próprias palavras e vamos ser os novos “velha guarda” que se vão opor ao desconforto de aceitar uma nova forma de expressão. Tornar-nos-emos incompreendidos e incompreensíveis. Por isso, para além de olharem, observem e tentem ver as diferenças, que cada vez estão mais presentes no nosso dia-a-dia. Mais concretamente, atentem às interacções entre e com os mais novos. Pois, tal como toda gente diz, “eles são o nosso futuro”. Um futuro que usa mais o gerúndio que o presente, um futuro que cada vez mais sente dificuldade na disciplina de “Português”, um futuro que prefere expressões provenientes de outras línguas em detrimento das portuguesas. O português está a perder a sua independência. A título de exemplo temos os tão visualizados conteúdos do youtube e as letras dos novos autores da música portuguesa. Primeiro porque existem mais conteúdos estrangeiros que portugueses e segundo porque as letras da mais recente música nacional estão repletas de estrangeirismos. O estereótipo de que o que é de fora é que é bom, também pode ser aplicado à linguagem. Visto ser mais “cool” falar recorrendo ao inglês e brasileiro, do que ao nosso querido português.
Sei que esta reflexão, pode não corresponder às vossas expectativas ou até mesmo chocar contra a vossa opinião. Mas lá está, não passa de uma reflexão de uma jovem que apesar de não se identificar com esta nova abordagem do português, convive com vários jovens e crianças e que quis partilhar convosco a sua opinião. Não só por ser amante do português, mas por também ela recorrer a algumas expressões estrangeiras, sem quase se aperceber. E sabem porquê? Porque é uma jovem que interage socialmente, e como todos nós não se quer sentir excluída da sociedade. E assim, acaba por assimilar, mesmo que inconscientemente, alguns desses estrangeirismos. Tal como todos os seres humanos, temos a necessidade de interagir, partilhar e assimilar conhecimento de forma contínua, e sobretudo de forma actual.
O português é mutável e disso todos temos noção. No entanto, espero que nunca se perca nas nossas memórias. Finalizo a escrever em português para que 2023 preserve e defenda a língua do nosso querido e acolhedor Portugal.