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14 de Fevereiro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

No âmbito do ciclo “Memórias da Guerra em África”, uma iniciativa do Centro Mário Cláudio, decorreu, em Venade, o evento “Concerto. Um piano na Guiné”, com audição de obras do compositor e professor Cândido Lima compiladas durante a sua comissão de serviço na Guiné e comentadas pelo próprio.

Num sábado de frio gélido e cortante, o Centro Mário Cláudio tornou-se, mais uma vez, afetuoso e cativante, para ouvir palavras e tons de um mestre da música portuguesa, decidido a revelar a sua participação na guerra colonial, acompanhado pelo seu piano, cuja aventura seria digna de um documentário.

Foi uma sessão memorável. Cândido Lima é um excelente comunicador, intercalando fotografias com sons de piano, saídos de partituras compostas aquando da sua passagem pela Guiné-Bissau.

Perante um auditório repleto, o compositor falou de si, mas mais ainda do piano, que viajou, encaixotado, como se fosse sarcófago de faraó egípcio por descobrir, desde a Vila de Punhe, no Alto Minho, até à cidade de Bolama, no Arquipélago dos Bijagó, da Guiné-Bissau.

Perguntei-lhe, em conversa mais amena, se poderia considerar o seu piano um guerreiro. Respondeu-me que não, porque ele próprio foi tropa com funções administrativas (embora tenha sido, algumas vezes, assim advertido por alguém hierarquicamente superior: “Olhe se quer ir para o mato!”), sabendo da frente da guerra pelos testemunhos que presenciou e escutou ao longo de dois anos.

Na verdade, o piano foi um verdadeiro Cavalo de Troia. Ou seja, um embrulho estranho, corpulento, robusto, que tinha dentro de si a cultura, muito mais poderosa que as armas.

Terminada a guerra, o piano voltou, como outros soldados, com ou sem patente, mortos ou vivos, mas não para as suas ágeis mãos, porque nada sabe do seu paradeiro.

As armas da guerra colonial silenciaram-se, mas os sons do coro de Bolama ainda são audíveis e podem ser admiravelmente apreciados por todos aqueles que veem na música a nobre educação das pessoas.

E nobre foi a sessão com Cândido Lima, como nobres têm sido as iniciativas do Centro Mário Cláudio, na partilha de memórias sobre os longos e absurdos treze anos da guerra colonial.

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