Para conhecer alguém de verdade, não basta ouvir o que este tem para contar. É possível, com alguma mestria e atenção, traçar um perfil desta forma, integrando apenas algumas características. No entanto só se torna possível, a meu ver, quando as conversas estão contextualizadas na pessoa, no tema, no local e no tempo. Por outro lado, haverá também quem, voluntariamente, não se deixe conhecer utilizando essa mesma ferramenta social, a conversa. Conseguindo, através dela, construir uma personagem, um disfarce, de forma voluntária, com motivações e finalidades variadas. Tanto para o bem como para o mal.
A chamada ‘primeira impressão’ que alguém nos provoca, pode resultar de uma mensagem. Se bem que na maioria das vezes esta é formada a partir de uma imagem. Na minha opinião, caro leitor, a mais certeira é aquela que nos chega através de um gesto. De um gesto, não estudado nem premeditado. De uma reacção involuntária e imediata perante um estímulo não esperado. Eu acredito que este tipo de acontecimento pode desarmar, ou desmascarar, qualquer um.
Quantos de nós, caro leitor, não construíram, ou pelo menos tentaram construir, em algum momento, a sua própria armadura ou disfarce. Aquilo que supostamente se pretende utilizar como forma de escudo ou protecção contra o que nos possa atingir. Ou que envergamos para talvez transmitir uma mensagem. Verdadeira ou sorrateira.
E falando em disfarces, ou máscaras, o Carnaval já passou. Aqueles três dias de festa que antecedem a quarta-feira de cinzas. Dias em que nos é permitido o uso da máscara com o propósito de provocar reacções alheias. Boas e más. Retratar a realidade, os bons e maus exemplos, em tom de brincadeira inocente e pervertida. Supostamente nesses dias os disfarces servem para provocar. Mas estes também servem como meio para transmitir uma mensagem. De alegria, por vezes, mas sobretudo de revolta, de indignação, de reprovação. Uma forma estranha, ou alegre, de nos manifestarmos contra acontecimentos, pessoas e histórias que de alguma forma nos afectam negativamente. Mas outros motivos não faltarão.
Dizem os historiadores que no Carnaval de Veneza, os nobres que gostavam da diversão escondiam-se atrás de um disfarce para não chamar a atenção do povo.
Parece-me, caro leitor, que hoje em dia, o povo tenta chamar a atenção de todos através desses mesmos disfarces, na tentativa de desmascarar o nobre sem trono, o político corrupto, o bandido arrependido, ou simplesmente a tristeza e por vezes a desgraça alheia.
O Carnaval já passou, caro leitor, mas as máscaras e armaduras vão continuar por aí o ano inteiro. Proteja-se com as boas e afaste-se das más. Lembre-se, caro leitor, que nem tudo o que parece é.