A propósito da recente abertura da nova ligação à A3, impunha-se ouvir Vítor Paulo Pereira, o presidente que tanto se empenhou neste que era desde há muito um melhoramento tão ansiado por Paredes de Coura.
Encontrámos um Vítor Paulo Pereira emocionado por ver, finalmente, atingido um dos maiores objectivos do seu percurso como presidente da Câmara de Paredes de Coura.
A estrada foi um caminho muito sinuoso?
Sabíamos que o desafio era tão difícil que, no programa de 2013, sublinhámos que, atendendo à situação financeira do país, da altura, seria mais fácil conseguir financiamento para uma via nacional corrigida do que uma via rápida que custaria milhões de euros. Aliás, se fosse fácil não teria demorado tanto tempo. Não podemos esquecer que esta obra é o investimento maior dos últimos anos, feito pelo Governo Português, sem recurso a fundos europeus, no distrito de Viana do Castelo. E foi em Coura, o que também não era costume.
Então, o presidente não estava com grande fé?
Não é uma questão de fé. É uma questão de ser sensato e de não prometermos o que não é possível. Mas sempre tivemos ao longo destes anos uma capacidade de não nos abatermos perante as dificuldades. Nas alturas mais difíceis, chegámos a fazer 1000 km, a caminho de Lisboa, para estarmos presentes numa cerimónia qualquer, em que o Primeiro-ministro estava presente, apenas para o cumprimentar e lhe dizer para que não se esquecesse da ligação de Paredes de Coura. E foram muitas vezes que o fizemos, acreditem.
O Governo ser do PS também ajudou.
Se calhar, sim. Mas não podemos esquecer que antes do PS ser Governo já tínhamos muito trabalho feito e um estudo prévio da estrada que desejávamos. Importa dizer que esta estrada não se deve à nossa gordura política, até porque somos magros. O que é um facto é que nesta altura crescemos muito industrialmente, isso reflectiu-se nas exportações. O Governo esteve sempre atento ao nosso crescimento industrial e à coragem dos nossos industriais. Não é por acaso que apenas 8 meses depois de tomar posse, o Primeiro-ministro António Costa veio visitar a nossa zona industrial. Não é motivo de pasmo de que o nosso Primeiro-ministro, desde 2013, tenha vindo 3 vezes à Zona Industrial de Formariz e mais 2 ou 3 vezes, informalmente, ao nosso concelho.
Sim, mas com tantas visitas é impossível não dizer que a proximidade ao Governo ajudou muito.
Entendo porque insiste. É claro que quase tudo na vida é político. Não escondemos que desde da primeira hora o nosso Primeiro-ministro simpatizou connosco. Sempre fomos próximos e tratei das coisas mais importantes do nosso concelho directamente com ele. Contudo, muitos outros autarcas tinham proximidade e não conseguiram nada. Mas poderemos reconhecer que foram três as coisas que ajudaram muito a realizar esta obra histórica para Paredes de Coura: crescimento industrial, exportações e músculo político. Ademais, não concebo a hipótese de influência política, junto de quem quer que seja, sem trabalho ou reconhecimento eleitoral. É uma estrada arrancada a ferros e uma luta colectiva de tanta gente que lutou por este projecto. Desde o presidente Pereira Júnior, que muito lutou, aos meus vereadores, uma equipa notável, cheia de entusiamo e incansável, aos engenheiros da Câmara e a todos os técnicos da autarquia que estiveram envolvidos na obra. Até tenho de incluir neste rol algumas pessoas que me entusiasmaram a enveredar pela política, numa altura em que não estava muito encantado. Mas sempre me ajudaram. Na altura certa, todas serão objecto da minha gratidão. Não existem homens sozinhos. Não acredito nisso. Aliás, sinto-me mais uma tocha a arder que abre caminhos, do que uma pessoa muito inteligente. Estou sempre a dizer ao meu filho que o mundo não pertence aos fortes, mas aos fracos com capacidade de adaptação e que lutam sempre. Como costumo dizer: nenhum dia é dia sem sonho.
A ligação da A3 a Coura é a sua grande obra?
Somos pessoas em envelhecimento constante. De forma científica, dizem-nos que oxidamos todos os dias. Na verdade, somos seres a arder. E se ardemos todos os dias um bocadinho, mais vale arder com força, com paixão, com amor, do que arder lentamente e apenas nos preocuparmos com a nossa vidinha. Trabalhamos muito por Coura, às vezes até ao limite, e isso teria que deixar obra visível. De forma objectiva, a estrada é, no fundo, a maior obra porque representa também o impossível. Lembro-me de ouvir pessoas em 2013, altura da primeira candidatura, a gozarem com o facto de colocarmos no programa a luta por um melhor acesso a Paredes de Coura. A estrada mostra, de facto, que não existem impossíveis. Aliás, detesto a palavra impossível bem como a maledicência ou lamúria. Gosto mais das pessoas que estão dispostas a lutar, do que daquelas que preferem a chorar. Como vocês, o NC, que, no meio de tantas dificuldades, continuam todos os dias a arder para que as gerações futuras possam saber da nossa história, da nossa identidade. Possam saber de que terra somos feitos.
Sentimos, já nas palavras tão emocionadas, um certo balanço, uma certa despedia.
Despedida? Não! Mas temos consciência de que tudo o que começa também acaba. Mas antes disso temos de assegurar a obra da restante ligação de Formariz a Castanheira e resolver o problema da Ponte de Mantelães. Alguns não acreditam, como da outra vez. Temos também de iniciar rapidamente a construção da habitação a custos controlados, na vila, e na Nogueira, para arrendamento acessível. Estamos a falar de 82 habitações. O regulamento para selecção de pessoas será feito com a participação de todos para que seja o mais justo possível. Queremos também lançar rapidamente a construção da nova Zona Industrial de Linhares. Para não falar da construção de um novo Centro Tecnológico Especializado, financiado pelo PRR, e integrado na Eprami, no valor de 1.600.000 euros. Os alunos de Paredes de Coura terão uma das estruturas mais desenvolvidas do país para apenderem em num contexto muito próximo de uma fábrica. E muitos outros projectos estão na calha. Há ainda muito fazer. Temos estratégia e um longo caminho a percorrer.
ASSIM SE FAZ HISTÓRIA
Numa proposta inicial o valor da obra era apenas de 5.400.000 € e o projecto apenas tinha como objectivo o melhoramento da Estrada Nacional 303.
A obra final custou 10.800.000 € e com uma extensão de 8,8 kms.
No decurso da obra foi detectada a interferência da nova via com um troço de calçada romana, tendo os estudos de caracterização arqueológica determinado a sua preservação, designadamente no sítio arqueológico identificado como Via Romana XIX, coincidente com o Caminho de Santiago. Esta situação obrigou ao ajuste dos traçados da nova variante e do restabelecimento inicialmente previsto para o Caminho, materializado com uma passagem superior para peões. Esta situação acabou por atrasar a obra em vários meses.
Muitos foram os políticos que estiveram em Coura no âmbito da ligação. Pedro Marques e Pedro Nuno Santos estiveram em Formariz. Quando vier o Primeiro-ministro para inaugurar será a segunda visita. Relembramos que em Outubro de 2018, António Costa esteve em Formariz na cerimónia de consignação da obra.
Perde-se no caminho da memória o desejo antigo de melhorar as acessibilidades a Paredes de Coura. Amiúde encontramo-lo nas vozes do parlamento do tempo de Fontes Pereira de Melo. Nesse longínquo tempo, inúmeras foram as vezes que o Conselheiro Miguel Dantas e outros deputados falavam no parlamento do célebre ramal a Coura. Paredes de Coura precisava de um acesso melhor porque o que existia era penoso. Manuel Leite Ribeiro e Silva, deputado por Valença, falava que os carreiros através de montanhas é toda a viação que possuímos até chegar a Coura, e que unicamente se deviam à natureza. Em de Fevereiro de 1859 é finalmente aprovado no parlamento o desejado ramal de Valença a Coura. Porém em 1868, o deputado Bernardino Meneses queixava-se que nem estudos existiam para a feitura da obra e, portanto, desistia da interpelação ao ministro das Obras Públicas. Passaram 4 anos e o deputado Bandeira Coelho, de Viseu, que das muitas estradas feitas na altura, havia apenas uma estrada que não via feita, nem mandada fazer, que é o ramal de Coura, no distrito de Viana. Nos anos seguintes, sem consequência alguma, muitos outros deputados continuaram a falar da injustiça de Coura não ter um acesso digno. No século XX, com a construção das estradas nacionais, a situação melhorou ligeiramente. Contudo, no último quartel com os fundos europeus o país conseguiu melhorar muito as suas vias, contudo os acessos a Paredes de Coura eram cada vez piores em comparação com outos concelhos.