Num mundo ideal, a amizade e o negócio teriam que seguir caminhos paralelos, ou seja, nunca se iriam misturar. O provérbio “amigos, amigos, negócios à parte” sobrevive através dos tempos como um lembrete dessa mesma demarcação necessária, uma linha invisível que muitos ousam cruzar, mesmo que inconscientemente, frequentemente com prejuízos para ambas as partes.
O motivo da minha escolha resultou de uma confusão que fiz entre estes dois mundos. Recentemente deparei-me com uma situação que me deixou de tal maneira desconfortável que acabei por concluir que este provérbio tem uma analogia que devemos relembrar com frequência. Não devemos envolver os nossos amigos na nossa actividade profissional e caso surjam, não levar a peito nem remoer sobre isso. Apesar de muitas vezes acreditarmos que a nossa atitude poderia ser diferente, devemos evitar questionar uma amizade quando a profissão se atravessa nessa relação, principalmente quando estamos a falar de concorrência. Ser modelo é uma profissão particularmente individual, obriga-nos a ter bastantes momentos de introspecção, estamos em constante atenção e esforço na busca do caminho para o sucesso, e isto, sem nunca passar por cima dos outros. Ser modelo é uma profissão solitária, os colegas são maioritariamente concorrentes, no entanto as amizades surgem, fortalecem-se e mantêm-se, se tivermos o discernimento de separar as águas. Ajudar é gratificante, mas também pode ser intrigante, porque mesmo que o façamos sem o intuito da retribuição, acabamos por, involuntariamente, expectar que no nosso lugar a pessoa que ajudamos faria o mesmo por nós. Mas como isto não é uma relação directa, a meu ver, devemos sempre resguardar-nos dos sentimentos negativos associados à sensação de injustiça. Sobretudo quando percebemos que um colega, que temos como amigo, não pratica o mesmo acto, ou então, não o retribui. Nesta profissão, como em qualquer outra, devemos centrar o nosso esforço em busca daquilo que pretendemos alcançar. Podemos aceitar a mão de um amigo, podemos estender-lhe a nossa, no entanto devemos evitar que estas ajudas nos coloquem em situações desconfortáveis no futuro. Deste modo devemos sustentar-nos no princípio simples e profundo: a amizade deve ser preservada das complexidades e exigências do meio laboral, porque as bases de cada um são diferentes.
A questão que muitas vezes ecoa é: Porque é que será então que tantos têm dificuldade em manter essa separação? Talvez porque, essencialmente, a amizade é uma relação de apoio e altruísmo, procura-se pelo bem do outro sem esperar algo em troca, por outro lado, as relações profissionais têm outra natureza, transacionais e muitas vezes competitivas. Quando misturamos estes dois campos, corremos o risco de danificar a simplicidade do que deve ser uma amizade com a inevitabilidade dos interesses que os negócios exigem.
E como já devem ter percebido, eis o núcleo da questão: não devemos confundir a troca de favores que ocorre naturalmente na amizade com as exigências de um ambiente de trabalho. Na amizade, ajudamos sem contabilizar cada gesto; no negócio, cada acção tem um peso e uma medida. Quando as duas esferas se confundem, o desequilíbrio é quase inevitável, que pode resultar em desentendimentos que são na sua origem alheios à amizade.
“Amigos, amigos, negócios à parte” não é apenas um conselho para prevenir conflitos; é uma orientação para cultivar tanto amizades quanto negócios saudáveis. Quando as linhas entre ambos começam a desaparecer, é essencial reconhecer os sinais e ter a coragem de redefinir os limites, assegurando que a amizade floresça na sua área e os negócios prosperem no seu próprio campo. Assim, conseguimos preservar a integridade de ambas as partes, mantendo uma amizade sincera ao lado de um ambiente profissional competente.