“Haveria deleite maior que contemplar as trutas, no deflúvio matutino, com a água do córrego a cair no batedoiro dos seixos, oxigenada da frescura do orvalho e o azul do céu? – pergunta Aquilino Ribeiro na sua/nossa Casa Grande
Romarigães permitirá certamente outros deleites, maiores ou menores segundo a retina de quem os olha, mas o prazer de olhar o nosso rio, ribeiro se atentos ao seu pouco caudal, está a partir de agora mais convidativo e facilitado.
Maltratado pelo tempo, pela incúria e pelo progresso (A3), pela agricultura que já o foi, e pela pesca que já o era, o rio foi-se perdendo aos poucos, sombreado por impenetráveis salgueirais, quase desaparecido por entre matos, fentos e outros invasores.
Ficaram, para quem perto dele passava, as memórias de infância e aquele doce cantar da “água do córrego a cair no batedoiro dos seixos”, como tão bem descreve mestre Aquilino, que mais não serviam que para avivar a lembrança dos banhos de pouca água de outrora e do quão felizes já fomos num ribeiro que para nós… sabia a mar.
Pois bem, a Junta de Freguesia, numa tentativa de “devolver o ribeiro às pessoas”, decidiu fazer uma pequena intervenção no nosso “rio de baixo”, a caminho de Santa Rita, envolvendo trabalhos de diversa ordem, a saber: limpeza de vegetação e inertes, represamento de águas, arranjo e areamento de margens, colocação de aparas de protecção em madeira e pequeno e pontual alargamento na via de acesso.
Para breve, segundo nos foi dito, está a dotação do espaço com mesas, papeleiras e escada de acesso à água em madeira. Acreditando ainda, no executivo autárquico, na disponibilidade dos proprietários dos terrenos circundantes para a sua cedência, em moldes a definir, tendente ao alargamento e melhoria da área de lazer agora criada, algo que, até ao momento, por razões várias, ainda não se revelou possível.
Esta é daquelas obras fáceis de criticar, algo que, dizem, faço menos que antes, talvez sim, talvez não… talvez porque esta seja mesmo ”a minha praia”, a praia dos afectos, das obras em forma de “mimo”, dos cantos e recantos do nosso imaginário, do “fio de terra” protector dos choques do progresso, de gostar de ser aldeia e ter medo que queiram que ela pareça cidade, enfim, de gostar de ver a minha aldeia sem vaidades, lavadinha, com um vestidinho de chita bem garrido e florido.
Contemplar o belo é fazer das pequenas coisas um espectáculo aos nossos olhos, é descobrir as coisas lindas e ocultas que nos rodeiam, é admirar as nuvens, o canto dos pássaros, o baile das folhas sob a orquestra do vento, é perceber além das imagens e das palavras… é ir/vir ao “Ribeiro de Baixo” a Romarigães.
Tudo isto para dizer que gostei da ideia e da obra, há que melhorar, necessariamente que melhorar, mas… Romarigães e Pavia não se fizeram num dia.