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A ORIGEM SOMOS NÓS

20 de Outubro de 2020 | Helena Ramos Fernandes
A ORIGEM SOMOS NÓS
Opinião

A nossa vida também depende do orçamento do qual tanto se fala nestes dias, na Assembleia da República. Ao que parece, um orçamento de difícil aceitação para uns, sendo que para os proponentes este é mais do que aceitável. No entanto, caro leitor, este deverá ser aprovado. E este será aprovado com ou sem as negociatas entre partidos. Com a particularidade de o Governo só estar a negociar à esquerda, o que poderá transformá-lo num orçamento demasiado à esquerda. O que pode ser prejudicial para a economia nacional, que já não se encontra bem devido à crise provocada pela pandemia. Concorda ou não comigo, caro leitor?

Talvez seja aprovado! sobretudo por inerência da situação em que nos encontramos.

O chumbo deste orçamento seria penoso para todos nós. Mas eu tenho a ligeira sensação de que a sua aprovação o será igualmente, sobretudo para a economia da qual fazemos parte integrante, e para a qual contribuímos, dia após dia, com o nosso trabalho.

É muito importante perceber de onde vem o dinheiro que estes supostos gestores pretendem gastar ou até dar. Perceber, caro leitor, este fluxo de entradas e saídas do cofre do nosso país, abstraindo-nos das distrações que só servem para nos toldar a visão, a razão, mas sobretudo a atenção.

O ministro das Finanças dizia há uns dias atrás que o orçamento dificilmente seria chumbado, porque este é, supostamente, “um orçamento bom para os portugueses”. Talvez este o seja sr. ministro, bom para alguns.

Este orçamente parece ter esquecido as empresas e os empresários. Pouco ou nada lhes destina. O que não me parece nada bem, sr. ministro. Não me parece sensato esquecer os principais motores que abastecem o cofre do Estado. E não me parece nada prudente criar medidas que os faça abrandar o ritmo que a custo tentam manter.

Este orçamento parece querer dar mais a quem não está a trabalhar, e bem quando esta atribuição seja legítima e possível. Mas este irá igualmente dar a quem não quer e a quem nunca fez nenhum esforço para trabalhar. O que já não me parece nem justo nem viável. E aos outros, sr. ministro, aqueles que trabalham, não me parece que este orçamento lhes dê da mesma forma. Por um lado, apresenta-lhes a subida do ordenado mínimo ainda envolta em negociatas. Será, caro leitor, que o sr. ministro tem algum estudo na manga sobre o impacto que esse aumento irá ter nas empregadoras, neste enquadramento de crise mundial? Não estará aqui em causa a sustentabilidade de muitos empregos por este país fora? Por outro lado, o orçamento galanteia os trabalhadores com a redução da retenção na fonte de IRS no vencimento mensal, sem, no entanto, alterar a taxa de IRS a coletar, mas isto só para alguns também. Temo que esta medida, caro sr. ministro, possa criar uma falsa ilusão de mais dinheiro disponível para gastar, nas carteiras dos portugueses? Para depois estes terem que o devolver ao Estado na entrega da próxima declaração de IRS. Não me parece nem acertado nem merecido.

Sabe, caro leitor, aquela sensação de quando alguém, do nada, nos oferece um rebuçado. Esta sensação está tão presente neste orçamento. Qual é a carteira que vai custear tudo isso? Infelizmente, o dinheiro não nasce espontaneamente do nada, nem aparece de forma milagrosa ou mágica, nem no cofre do Estado, nem nas nossas carteiras.

Em sua casa, caro leitor, sabe de onde vem o dinheiro que arrecada no cofre do seu orçamento familiar? E quais são as portas que possibilitam a sua entrada?

O Estado arrecada dinheiro de diversas formas. Algumas delas, se não todas, são bem conhecidas por nós e muitas vezes causam-nos alguns dissabores. Os impostos, as taxas, os descontos para a segurança social, as multas, as coimas, os juros sobre as supostas dívidas ao Estado, entre outras, são entradas que nos são bem familiares. E a origem delas, caro leitor, consegue adivinhar qual é? Somos nós! A origem somos nós.

E não, caro leitor, não me esqueci dos benditos fundos comunitários, os que supostamente existem para nos ajudar a desenvolver e gerar capital para consequentemente aumentar as entradas para os cofres do Estado. O dinheiro existente nesses benditos fundos também não aparece por magia, também somos nós e todos os outros cidadãos europeus que contribuem para a existência dos mesmos. E isto, através de parte do IVA que todos os dias pagamos, mesmo quando nos mimamos com um simples rebuçado. A origem do dinheiro somos sempre nós.

Este orçamento “desenhado”, bem ou mal, dependendo de quem o analise, decidirá o rumo de muitos caminhos traçados. As entradas, essas, já percebemos quais são. Em relação aos gastos, ou as saídas, como lhe queiram chamar, as previsões naturalmente não são de tão simples percepção. No entanto, estas saídas devem ser planeadas de forma clara, justa e sobretudo bem aplicadas.

Se somos nós, caro leitor, a principal origem do dinheiro que aparece no cofre do Estado, este, e bem, deverá principalmente ser gasto connosco. Mas de forma justa! Quem trabalha e contribui com a sua parte, não deve ser desprezado em detrimento daqueles que com nada contribuem para o bolo comum. Todos devem ser apoiados. Mas as origens destes apoios não podem sair sempre dos mesmos bolsos. Se alguns não podem pagar, poderão talvez retribuir de outras formas. Haja imaginação e razoabilidade, porque o dinheiro não cai do céu. Nem mesmo em época de eleições.

Se somos a origem, também merecemos ser o destino.

 

 

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