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A sombra das palavras: A terra mais bonita do mundo

17 de Novembro de 2015 | Armando Lopes
A sombra das palavras: A terra mais bonita do mundo
Opinião

“Somos ou não somos a terra mais bonita do mundo?! Nunca se esqueçam disso.”

Acompanhada de uma fantástica paisagem (vista do Monte da Pena), foi esta a frase que um amigo meu publicou no seu mural do Facebook num belo domingo de manhã. Não demoraram os comentários, “Somos pois”, “A terra do meu coração”, “Sem dúvida”, mas alguém mais atrevido escreveu: “Não se fiem nisso… uma das…”.

Quando se fala da terra, da nossa terra, é normal existir um sentimento de pertença, uma força de a defender acima de todas as coisas. E se calhar, é assim que deve ser! Quem escreveu a frase é natural de Coura, aqui cresceu, estudou, fez amigos; aqui casou, aqui trabalha e aqui escolheu viver e criar um filho, haverá melhor razão para justificar o amor à terra?

Há uns tempos, alguém me perguntou se ainda estava apaixonado por Paredes de Coura. Se calhar ficou perplexo com a minha primeira frase, mas logo depois percebeu. Respondi-lhe: Eu nunca estive apaixonado por Paredes de Coura. Continuo sim, apaixonado pelas pessoas que encontrei, continuo a sentir-me apaixonado pelo trabalho que desenvolvo, pelas coisas (muitas) que Coura me deu, mas a mim, as terras dizem-me muito pouco. Estar apaixonado por tudo isto é sinal de amor pela terra, só pode, no entanto continuo a defender que as terras são as pessoas que lá vivem, são as relações que se estabelecem, são as atitudes e os comportamentos que se têm. De que servirá uma bela paisagem sem pessoas com as quais nos sintamos bem? De que nos valeria viver na mais bela aldeia, se depois nos sentíssemos sós? Embora por vezes a paisagem possa ajudar a mudar comportamentos, e cada individuo seja dono da sua consciência, “creio que é a força coletiva exercida sobre os indivíduos que faz com que eles ajam e vivam de acordo com as normas da sociedade onde estão inseridos.” (Durkheim, 1858-1917)

Voltando ao amor pelas terras, e ao meu estranho sentimento de não me sentir apaixonado por nenhuma, acabo por ter de confessar que afinal, há uma terra que me faz respirar de forma diferente quando penso nela: a Ilha do Pico, nos Açores. Foi para lá que fui em 1999, era a primeira vez que ia morar fora do seio familiar, era a primeira vez que como professor, ia ter um horário completo e anual, podendo assim acompanhar os alunos de setembro a junho, eram demasiadas “primeiras vezes”. Foi lá que conheci alguns dos amigos que ainda hoje preservo, foi lá que conheci a minha esposa, devo demasiado àquela ilha e àquela montanha!

Lembro-me de ter um colega de Viseu, professor de Português, que “odiava” estar nos Açores. Dizia que não aguentava o isolamento, contava a cada hora os dias que faltavam para regressar ao continente, perante as minhas manifestações de alegria e deslumbre pelas paisagens, dizia: “Isto é muito bonito, mas é para o postal.” Aprendi com ele que a beleza das terras não está só nas paisagens, está acima de tudo nas pessoas, naquelas que queremos ter ao nosso lado. Para ele, nada naquela terra lhe aliviava a saudade dos que amava. Está nos meus planos fazer uma visita ao Pico dentro de alguns meses, vou gostar de regressar, vou adorar poder voltar a subir a montanha, vou estranhar estar lá sem algumas das pessoas que lá conheci. Se calhar por isso, não vou achar a ilha tão bonita.

Obrigado Carlos Barbosa e Sandra Santos por me terem, sem saber, arranjado inspiração para mais uma crónica. Obrigado acima de tudo por contribuírem para que Paredes de Coura seja, também para mim, uma das mais bonitas terras do mundo!

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