Perto de metade dos eleitores portugueses não foram votar no último domingo de Janeiro. Terá sido do frio? Não me parece, caro leitor, tendo em conta as temperaturas diurnas amenas e preocupantes que este mês de Janeiro nos tem proporcionado. Talvez estes 42% de portugueses abstencionistas tenham simplesmente decidido enriquecerem-se em vitamina D, sem recorrer ao SNS, pelas areias portuguesas.
A abstenção baixou em relação às últimas eleições, mas continua a ser a terceira maior desde 1975. Para alguns, esta pequena diminuição parece ser vista como uma vitória. Para mim ela é apenas uma derrota mais leve.
Os motivos para esta abstenção são variadíssimos, sem dúvida, e alguns até aceitáveis. No entanto, e a meu ver, a maioria deles não são válidos. E arrisco-me a dizer que são desonrosos para quem os pratica. Perceber que perto de metade dos portugueses recenseados simplesmente não quis saber desta e de outras eleições deixa-me preocupada. E um pouco decepcionada. O país de quem lutou contra o regime autoritário do Estado Novo envergonha-se, com certeza, dos que hoje desprezam este direito conseguido de forma honrosa. Esta não passa de uma opinião minha, sobretudo porque não consigo entender o porquê desses 42% de abstenção. Para mim este número esconde demasiada indiferença, talvez alguma pobreza de espírito, e alguma ignorância. A desilusão, para quem a sente, tem sempre a hipótese de um voto em branco. Desprezar o direito ao voto, estará, no meu entender, longe da razoabilidade. E estes ‘não eleitores’ não merecem a democracia pela qual muitos outros lutaram dignamente.
Não entendo, caro leitor, este alheamento pelo direito à liberdade de escolha. Não entendo este facilitismo em entregar de mão beijada à uma outra metade mais activa, no bom e no mau sentido, a decisão da escolha dos nossos representantes políticos. Não me parece a melhor opção assobiar para o lado nestas questões tão importantes.
A título de curiosidade, será que estes sabem que a sua abstenção acaba por não ser anónima? E será isso importante para eles?
Eu, ao contrário destes abstencionistas, fui votar no passado domingo eleitoral, e este meu acto foi devidamente registado no caderno eleitoral da freguesia onde estou recenseada. Isto, apenas para realçar que a ausência destes abstencionistas também ficou registada. Talvez, caros governantes, caras estruturas políticas, esteja na hora de fazer algo com essa informação. Torna-se importante analisar este fenómeno que tende a manter-se alto e tentar solucionar esta passividade tão expressiva em número e tão desprovida de razões válidas que a justifiquem.
E… como canta, e bem, o Carlão, talvez seja caso para dizer a estes abstencionistas: se um dia precisares que a democracia resolva um dos teus problemas de forma justa, esquece e faz como fizeste no dia da passada eleição, assobia para o lado…