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Assobia para o lado

22 de Fevereiro de 2022 | Helena Fernandes
Assobia para o lado
Opinião

Perto de metade dos eleitores portugueses não foram votar no último domingo de Janeiro. Terá sido do frio? Não me parece, caro leitor, tendo em conta as temperaturas diurnas amenas e preocupantes que este mês de Janeiro nos tem proporcionado. Talvez estes 42% de portugueses abstencionistas tenham simplesmente decidido enriquecerem-se em vitamina D, sem recorrer ao SNS, pelas areias portuguesas.

A abstenção baixou em relação às últimas eleições, mas continua a ser a terceira maior desde 1975. Para alguns, esta pequena diminuição parece ser vista como uma vitória. Para mim ela é apenas uma derrota mais leve.
Os motivos para esta abstenção são variadíssimos, sem dúvida, e alguns até aceitáveis. No entanto, e a meu ver, a maioria deles não são válidos. E arrisco-me a dizer que são desonrosos para quem os pratica. Perceber que perto de metade dos portugueses recenseados simplesmente não quis saber desta e de outras eleições deixa-me preocupada. E um pouco decepcionada. O país de quem lutou contra o regime autoritário do Estado Novo envergonha-se, com certeza, dos que hoje desprezam este direito conseguido de forma honrosa. Esta não passa de uma opinião minha, sobretudo porque não consigo entender o porquê desses 42% de abstenção. Para mim este número esconde demasiada indiferença, talvez alguma pobreza de espírito, e alguma ignorância. A desilusão, para quem a sente, tem sempre a hipótese de um voto em branco. Desprezar o direito ao voto, estará, no meu entender, longe da razoabilidade. E estes ‘não eleitores’ não merecem a democracia pela qual muitos outros lutaram dignamente.
Não entendo, caro leitor, este alheamento pelo direito à liberdade de escolha. Não entendo este facilitismo em entregar de mão beijada à uma outra metade mais activa, no bom e no mau sentido, a decisão da escolha dos nossos representantes políticos. Não me parece a melhor opção assobiar para o lado nestas questões tão importantes.
A título de curiosidade, será que estes sabem que a sua abstenção acaba por não ser anónima? E será isso importante para eles?
Eu, ao contrário destes abstencionistas, fui votar no passado domingo eleitoral, e este meu acto foi devidamente registado no caderno eleitoral da freguesia onde estou recenseada. Isto, apenas para realçar que a ausência destes abstencionistas também ficou registada. Talvez, caros governantes, caras estruturas políticas, esteja na hora de fazer algo com essa informação. Torna-se importante analisar este fenómeno que tende a manter-se alto e tentar solucionar esta passividade tão expressiva em número e tão desprovida de razões válidas que a justifiquem.
E… como canta, e bem, o Carlão, talvez seja caso para dizer a estes abstencionistas: se um dia precisares que a democracia resolva um dos teus problemas de forma justa, esquece e faz como fizeste no dia da passada eleição, assobia para o lado…

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