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“Black Friday” no fisco

4 de Dezembro de 2019 | Helena Ramos Fernandes
“Black Friday” no fisco
Opinião

À porta de mais um “Black Friday”, uma sexta-feira que se espera repleta de grandes promoções, todos almejam poder adquirir aquele produto ou serviço que sai fora do seu poder de compra. Uma compra constantemente adiada, porque o orçamento familiar mensal a isso obriga.

E porque é que o nosso poder de compra está tão limitado? Porque é que a maioria das famílias portuguesas deixaram de conseguir juntar dinheiro para gastar em coisas que lhes proporcionam felicidade? Aquelas que estas consideram acessórios prescindíveis, fúteis e supérfluas. Deixámos de ter capacidade de poupança!

As famílias restringem os gastos em lazer, prazer e por vez em mais conforto. Porquê? Talvez porque exista um orçamento familiar com inúmeras rubricas prioritárias para ser criteriosamente respeitado. A rubrica das infra-estruturas e equipamentos, por exemplo. Onde estão situados os gastos com empréstimos para ter casa, carro e um ou outro electrodoméstico mais oneroso e indispensável. E onde estão incluídos os gastos da manutenção do nosso lar. E outras coisas não menos importantes.

Outra das rubricas prioritárias no orçamento de algumas famílias, é o gasto com os filhos e outros dependentes. Educação, saúde, tecnologia e muitas outras “canas de pesca para que estes possam pescar abundante e melhor peixe”.

Tal como qualquer outro orçamento, o das famílias portuguesas também inclui um grande número de rúbricas que classificam os gastos. E os proveitos também, imprescindíveis para fazer face as despesas que mensalmente não perdoam atrasos. Principalmente quando o Estado é o credor.

Em qualquer orçamento para que haja saídas financeiras é necessário que haja entradas. Todos nós sabemos disso, ou quase todos. Porque as despesas são pagas com esses proveitos. E estes sabemos de antemão de onde provêm. Do nosso trabalho diário. Do que produzimos ou dos serviços que prestamos. Às vezes aparece um extra, um presente, uma herança, um prémio. Ou um “Black Friday” que nos proporciona uma poupança quando a compra visada já se encontrava planeada no orçamento familiar.

Seria interessante que o Estado, a quem entregamos parte do que ganhamos, se lembrasse de aderir a um “Black Friday” na carga fiscal e nos encargos sociais que nos convida a entregar periodicamente. Esse dinheiro que o Estado colecta mensalmente, anualmente ou diariamente sob a forma de impostos directos ou indirectos para supostamente nos ajudar. Sem falar dos encargos sociais para que não deixemos de ter direitos. E que o faz sobretudo para não termos que incluir nas nossas contas familiares, despesas excessivas com saúde, educação e segurança. Tudo grátis, dizem eles! Tudo grátis uma ova, digo eu! Se eu contribui para que assim fosse, então estou a pagar para isso. Certo? Ou estarei eu, mais uma vez, confusa?

Faço-lhe então um desafio, caro leitor. Analise o seu orçamento familiar e procure pelas despesas associadas a saúde, a educação e a segurança. Essas despesas são ou não são nulas ou diminutas? Isto pressupostamente porque já as pagou. Ao Estado, por sinal.

A verdade é que as despesas com saúde e educação são cada vez maiores e absorvem uma fatia considerável dos nossos proveitos. Poderia eu enumerar vários exemplos, mas basta apontar para a saúde oral ou para a visual. A simples necessidade de adquirir um par de óculos com lentes graduadas é na maioria das vezes ponderada ou adiada para não desequilibrar a balança do orçamento familiar.

Fica aqui registada a ideia para o “Black Friday” dos impostos e encargos sociais. “Black Friday” no fisco! Do género, “este mês o Estado não colecta nada, podem trabalhar e produzir mais que o lucro é todo vosso”. Seria um sucesso! A economia e todas as siglas a ela associada iriam responder de forma positiva a esse estímulo.

Pensem nisso, caros governantes. Os orçamentos familiares agradecem e as famílias merecem esse gesto. Se não for por mais nada, que seja porque elas contribuem também para que vocês recebam aquele ordenado e regalias associadas, que felizmente vos distancia da necessidade de ter que aproveitar a “Black Friday” para poupar.

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