Será que teremos que voltar a deslocarmo-nos a pé até aos concelhos vizinhos? Como faziam os nossos antepassados não há muito tempo atrás. Que disparate este, que eu acabo de escrever. Mas, com o andar da carruagem, de um comboio ainda não movido a carvão, atrevo-me a escrever que esta realidade improvável paira sobre as cabeças de quem não quer saber. De quem só olha para o seu umbigo sem querer entender porque é que tantas pessoas e entidades gritam por razoabilidade nesta questão acerca do aumento dos combustíveis.
É verdade que gastar vinte euros por semana de combustível não será nada de mais para as carteiras de alguns. Podem até passar a gastar mais cinco euros por semana que a balança ainda se manterá estável para o lado deles. Mas será que essa balança está assim tão estável, caro leitor? O que acha? O que irá acontecer com as empresas que gastam combustíveis em quantidades elevadas, por semana, por dia, por hora? Algumas chegam a gastar 20 euros por minuto ou por segundo.
Aparentemente, talvez essa balança esteja estável, sobretudo quando o problema é analisado considerando apenas o orçamento pessoal ou o da família. Sem esquecer da ajuda que um certo digníssimo prometeu, com graciosidade e alegria, que iria oferecer a todas as famílias. Que prontidão no lançamento de tão bondosa oferta, 25 euros convertidos em voucher, a receber até Março de 2022. Não sei se concordará comigo, caro leitor, mas seria caso para dizer, a ninguém em particular, que pode utilizar ou enfiar esse voucher redondinho como e onde bem lhe apetecer, desde que não seja no tambor do meu automóvel. Digo eu. Não passando apenas de uma opinião, ou de um desabafo espontâneo e não programado.
Aparentemente, talvez essa balança esteja estável, considerando que diminuíram, em um ou dois cêntimos por litro, o imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (IPS). Que pronta bondade dos nossos governantes, quando alguns se juntam em massa numa luta pela qual outros viram a cara para o lado. Simplesmente porque não entendem, ou não querem entender. Ou porque simplesmente não lhes diz respeito. Mas será que não, caro leitor? Então vejamos. O que poderia acontecer em relação à balança se os transportadores de bens e matérias-primas parassem? Em modo de protesto, ou porque deixaram de conseguir pagar a factura do IPS no final do mês, da semana, do dia ou do minuto. Imaginem. Por exemplo, o que aconteceria se em união deixassem de transportar bens alimentares para as zonas urbanas? Para o que é que serviria o voucher numa situação dessas? Talvez o oferecêssemos às empresas transportadoras para que estas voltassem para a estrada, normalizando a vida de quem talvez já não continuaria a não querer saber, deixando de olhar para o lado ou para o seu próprio umbigo. Digo eu. Não passando apenas de uma suposição, ou de uma consideração espontânea e não programada.
Vejamos, caro leitor, um trecho do cenário desta novela do sobe-sobe dos combustíveis. O preço está demasiado alto para a carteira dos portugueses. E está actualmente a subir por pressão do mercado. Mais de metade do valor pago por litro vai directamente para os cofres do Estado. Logo mais de 50% do preço são impostos, 58% na gasolina e 53% no gasóleo. Neste panorama lamentável o que representa afinal 1 ou 2 % de redução no preço por litro? Nada. Apenas uma bondade aparente. Que gulosos que são os nossos estadistas, que oferecem migalhas em troca de fatias de pão. É certo que por vezes migalhas são pão, mas não se aplica de todo a esta situação. Para mim, caro leitor, repito-me dizendo que tudo isto não passa de bondade aparente. Em qualquer situação, mas sobretudo quando se está na iminência de uma crise social, económica e política, não basta parecer, é preciso ser.