O Centro de Estudos Mário Cláudio, sediado na antiga escola primária de Venade, em Ferreira, tem desenvolvido intensa actividade cultural no concelho de Paredes de Coura. Reunindo acervo literário e pessoal do consagrado escritor que divide a sua residência entre o Porto e Venade, o Centro de Estudos prepara mais um ano de actividade, que se estende desde exposições ao lançamento de livros.
A propósito da divulgação da programação para 2018, o NC esteve à conversa com José Alberto Pinheiro, o programador cultural do Centro de Estudos Mário Cláudio, que nos fez um pequeno balanço da ainda jovem vida do pólo de cultura de Venade que enriquece Paredes de Coura.
Apesar de o Centro de Estudos Mário Cláudio pautar a sua existência por um trabalho de proximidade com a população, nem sempre esta tem correspondido. O que faltará para que as gentes de Coura criem o hábito de visitarem com mais frequência Venade?
A inércia verificada por vários segmentos de público, no que toca à participação em iniciativas do foro cultural, não é um problema exclusivo de Coura, verificando-se frequentemente em localidades com maior oferta cultural e densidade populacional. A cultura assusta. Assusta maioritariamente devido a um código silencioso que se instalou no imaginário popular durante décadas e que leva muitos a crer que este tipo de iniciativas se destina exclusivamente a uma elite social, artística e/ou académica. Esse é um mito que nos propusemos desconstruir, desde o primeiro momento, fazendo todos os esforços para que todos se sintam acolhidos e acarinhados nesta casa.
É certo que uma grande fatia do nosso público se desloca a Venade a partir de diversos centros urbanos, contudo creio que se tem vindo a verificar progressivamente uma maior adesão da população de Coura.
A quem, por desconhecimento, desconforto ou receio, ainda não nos visitou, podemos apenas pedir que por um momento coloquem esse sentimento de lado e venham partilhar um dia connosco.
Sendo Mário Cláudio um escritor premiado e reconhecido pela sua obra, será que Paredes de Coura tem a noção do significado deste Centro de Estudos para o concelho?
Creio que uma parte significativa da população tem essa plena noção, outra não a terá, por desconhecimento da obra do autor e do seu impacto na cultura portuguesa do século XX e XXI. Uma vez mais, creio que não podemos colocar este peso exclusivamente sobre os ombros da população courense. A nossa literatura não tem sido bem tratada, um pouco por todo o país, e uma das consequências directas é a falta de conhecimento e acesso que muitos portugueses têm às mais importantes obras da nossa contemporaneidade. Coura é absolutamente essencial para compreender o percurso de Mário Cláudio e Tiago Veiga, pelo que a sua obra reservará certamente grandes surpresas aos que nela ainda não se aventuraram. Fica o desafio.
Anunciando-se esta Câmara apaixonada pela educação e cultura, tem sentido reflectido no apoio ao Centro de Estudos esta paixão do executivo liderado por Vítor Paulo Pereira?
Absolutamente. Estabeleceu-se, desde o primeiro momento, uma relação de grande proximidade e cumplicidade, sem a qual o projecto teria certamente tomado um rumo muito diferente.
Falando agora das actividades previstas para 2018. Sabemos que o Centro de Estudos vai ter artistas a trabalhar sobre Coura…
Em 2018 iremos dar continuidade ao projecto de residências artísticas que tem desafiado jovens promessas no campo das artes a pensar Coura e a trabalhar em proximidade com a população. Este esforço já nos permitiu a criação de duas exposições: “Coura-Mãe” de Rafael Farias e “Lugar de Venade” de Tiago Dias dos Santos. Este ano iremos apostar em mais um jovem que trará o seu contributo para este puzzle documental, que não se esgota na exposição, participando de um acervo visual por nós guardado, que se quer como perpetuação da memória para as gerações presentes e vindouras.
Sabemos ainda que o Centro vai promover mais uma Antologia de Contos…
A vocação do Centro, além da promoção do trabalho de Mário Cláudio e outros autores consagrados, sempre passou pela abertura de portas a jovens criadores e novos talentos. Parte da intenção do concurso literário que todos os anos promovemos é precisamente a de proporcionar uma montra a estes jovens valores, que podem ver os seus trabalhos publicados lado a lado com talentos já confirmados. É bom constatar que muitos dos nomes hoje mais falados no campo da nova literatura portuguesa viram trabalhos seus publicados na nossa antologia. Em dois anos foram publicados dois livros, contendo o trabalho de 21 autores. Este ano será lançado o terceiro volume, sob o tema “A Festa”.
Gostaria que nos falasse de outros destaques da programação para 2018.
A programação desenvolvida ao longo dos últimos anos tem sido diversificada: literatura, fotografia, cinema, artes visuais, música, psicologia e até gastronomia! Promovemos actividades que contaram com nomes como Júlio Machado Vaz, António Victorino D’Almeida, Aurelino Costa, Hélio Loureiro, António Durães, Evelina Oliveira… e tantos outros que de igual forma nos honraram com a sua presença.
Este ano a programação será desenvolvida sob o signo da década de 60, onde uma série de iniciativas potenciarão uma reflexão, apreciação e debate que ultrapassa largamente o campo da nostalgia. Embora especiais para quem os viveu, os anos 60 que irão povoar o Centro, são para todos – miúdos e graúdos.
Dentro deste ciclo inclui-se a continuidade da exposição biográfica sobre o escritor Mário Cláudio, que após ter passado pela sua infância, entra agora na sua juventude.
Estejam atentos, e visitem-nos!