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Cheirinho a férias

11 de Agosto de 2021 | Helena Ramos Fernandes
Cheirinho a férias
Opinião

O mês de Agosto entra de pantufas quando o esperávamos em chinelos de dedo. As temperaturas teimam em não querer subir no Alto Minho, o que para quem trabalha acaba por ser conveniente. Para mim, por exemplo, estas até são bem-vindas.

Mas para quem pode usufruir uns dias de férias merecidas, este será um motivo válido para colocar os chinelos na mochila e rumar em direcção ao Sol, deixando para trás as baixas temperaturas.

E o caro leitor, em qual destes panoramas se encontra? Ainda se encontra a trabalhar ou já está de malas prontas? Rumo ao Sol nascente ou rumo à terra natal?

Espero, todavia, que não se encontre nos 72,6% de pessoas que não conseguem pagar uns dias de férias. Sim, caro leitor, segundo o Eurostat, gabinete estatístico europeu, são pouco mais de 28% dos portugueses, a trabalhar em Portugal, que se podem dar ao luxo de uns dias de férias pagas. Estão incluídos nestes números os desempregados, muitos reformados, e milhões de trabalhadores que apesar de trabalharem muito, apenas auferem o ordenado mínimo nacional, ou um pouco mais. Novamente segundo a Eurostat, estas são pessoas em risco de pobreza. Na Europa, não somos os piores. Antes de nós posicionam-se, por ordem decrescente, a Roménia, a Croácia, o Chipre e a Eslováquia.

Estes 72,6 % de portugueses sem condições financeiras para pagar férias, equivalem a cerca de 7,3 milhões de pessoas. Este número é assustador. Concorda comigo, caro leitor?

Não querendo retirar importância à problemática que esta situação encerra, principalmente porque diferencia as famílias, desta podem resultar outros dissabores. Não havendo dinheiro nas carteiras da grande maioria dos portugueses, como pode a nossa economia resistir e crescer?

Nos meus parcos conhecimentos em economia, existe uma frase que teima sempre em aparecer, ‘dinheiro faz dinheiro’. Logo, não havendo dinheiro para se gastar dificilmente se consegue gerar mais riqueza. Se as empresas não criam mais riqueza também não conseguem aumentar os ordenados dos seus trabalhadores.

Não obstante esta situação pandêmica em que nos encontramos actualmente, o trabalho dos portugueses continua a criar riqueza. Se esta é depois distribuída de forma justa, eis uma questão que talvez deva ser estudada por quem de direito. É certo que existem empresas que valorizam e gratificam quem os ajuda a crescer. Mas também há aquelas que teimam em olhar só para um lado, esquecendo-se que o seu sucesso depende sobretudo dos seus trabalhadores. E que um trabalhador satisfeito vale por dois.

Enquanto não houver vontade política para contrariar este cenário, ele será sempre, caro leitor, o nosso peixinho de rabo na boca. Menos dinheiro, menos riqueza, mais pobreza… uma triste fórmula em que a pobreza de muitos justifica a riqueza de alguns. Assim, continuaremos a ser um país que quer passar por rico, povoado de muitas famílias no limiar da pobreza, além dos 28 % de pessoas que se podem dar ao luxo de umas férias pagas.

Se podemos mudar este cenário? Talvez possamos ajudar quem decide a mudá-lo.

No meu entender, caro leitor, é possível contrariar este círculo vicioso. Com trabalho, com conhecimento, mas sobretudo com humildade. Repito uma frase de Mahatma Gandhi, o dinheiro faz homens ricos, o conhecimento faz homens sábios, a humildade faz grandes homens. Grandes homens e de preferência com algum dinheiro para conseguir além de tudo o resto, pagar umas férias fora, mesmo que cá dentro.

Termino esta crónica de opinião desejando-lhe umas férias reconfortantes. Com ou sem dinheiro, existe sempre uma opção possível. Há motivos que nos podem estragar as férias, o orçamento que lhe destinamos não precisa de ser um deles. Sejamos ousados e criativos.  Por isso, caro leitor, faça com que as suas férias tenham um cheirinho agradável.

 

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