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Colocaram o presente… num museu

15 de Setembro de 2015 | Helena Ramos Fernandes
Colocaram o presente… num museu
Opinião

Todos os anos é assim. Depois de um mês de Agosto completamente “alucinante” em Paredes de Coura, chega um Setembro assustadoramente depressivo para quase todos os que cá vivem. Já no ano passado escrevi sobre este marasmo. Este ano volto a lembrar.

E continuarei a lamentar esta situação até que apareça uma solução minimamente positiva para todos nós, courenses.

Passaram pelos quatro dias do Festival Vodafone cerca de 100 mil pessoas. Em cada um desses dias, o anfiteatro natural recebeu perto de 25 mil pessoas. Ficou-me na retina uma fotografia aérea da multidão que foi tirada na edição deste ano. E depois passou-me pela ideia o seguinte: Toda aquela multidão é o triplo da população que neste momento reside em Paredes de Coura. O triplo!!!
Isto é mais do que preocupante. É gravíssimo.

Durante o mês de Agosto foi inaugurado o Museu Regional, mais precisamente, as beneficiações efectuadas. Uma obra que a meu ver está bem feita. O edifício bem recuperado e tudo o que está lá dentro exibe muito bem a história e a tradição do nosso concelho. Porém, vou procurar saber daqui a alguns meses os números relativos aos visitantes. Espero receber números precisos e não exageradamente inflacionados!

Os courenses chegam a Setembro e pronto. Parece que em todo o lado se ouvem suspiros. Estou quase certa que todos lamentam o vazio repentino a que voltamos sempre que o calendário marca o tão pouco desejado dia 1. Fim de férias… fim de Verão… fim de animação… fim daquilo que realmente gostamos, que é ver Paredes de Coura a fervilhar de gente.

Começa a fazer-me aflição e sinceramente estou quase saturada de viver esta sensação de forma sucessiva há mais de duas décadas. Todo o mérito aos fundadores do festival, mas não há bela sem senão. E aqui o que realmente importa é com bater esta “ressaca” com que todos os anos ficamos depois da música. É tudo muito bonito, mas quem sofre não são os que vão. Somos sempre nós que cá ficamos durante mais um ano onde nada vai mudar.

O caro leitor ainda acha que não tenho razão? Não me responda a mim. Responda a si mesmo a esta questão: o que mudou realmente em Paredes de Coura no espaço de um ano? E em dois? Uma coisa posso apontar, temos certamente menos gente do que em 2013. Este assunto dói. E dói sobretudo aos que têm responsabilidades nesta matéria. Uma dor de quem não manifestou ainda a capacidade de inverter uma linha que apenas desce: a demográfica. E curiosamente, é essa mesma linha que nos dá agora as “boas-vindas” no Museu Regional de Paredes de Coura. Ora… a pensar bem, a colocação deste gráfico naquele espaço parece não fazer sentido. Um museu, regra geral, é onde são colocadas obras e dados que fazem parte do nosso passado e que desejamos lembrar e preservar.

A desertificação de Paredes de Coura, infelizmente, não é ainda uma “peça de museu”. É uma realidade que todos deveríamos estar interessados em combater. Eu estou. Mas há, pelos vistos, quem pretenda transformar já esta realidade…num dado museológico.

Não parece ser aceitável que num museu, seja de que género for, sejam mostrados/afixados dados que devem fazer parte do presente de cada um de nós.

E não adiantará aos responsáveis argumentar com o facto de que são apenas elementos de apresentação do território.

Continua a ser ilógico. Os dados demográficos mudam ano após ano. Será que estes dados serão actualizados a cada ano que passa? Fica a dúvida. Este tipo de números não deveria figurar num museu deste tipo. Consciente ou inconscientemente, fica a impressão de que o envelhecimento da nossa população é um assunto secundário para o poder autárquico. Um assunto…de museu.

Sinceramente considero que a desertificação de Paredes de Coura não é certamente um tema de exibição, mas sim de discussão. Para mim, esta que da demográfica nunca foi tema de afixar em paredes, mas sim de estar em cima da mesa. E sempre o será. Pelo menos até que a linha suba. O leitor poderá evidenciar esta minha preocupação em crónicas anteriores, sobre a recessão demográfica, sobre o PDM e as restrições à construção, e entre outras participações, nomeadamente de responsabilidade política.

Curiosidade: Há, no entanto, apenas um caminho e apenas um que valida a exibição daqueles dados no Museu Regional de Paredes de Coura.

A palavra “museu” vem do grego “templo das musas”. E as musas, como é sobejamente conhecido, eram entidades mitológicas a quem era atribuída a capacidade de inspirar a criação artística ou científica. Observar os preocupantes números demográficos num museu não trará muito de inspirador a quem os olha. Mas pedem uma solução. Logo, mesmo sem querer (até porque – que se conheça – esta interpretação nunca foi dada por ninguém), os responsáveis pelo espaço desafiam-nos a encontrar uma solução para este problema. E será encontrada.

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