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Comer também é prazer

11 de Fevereiro de 2020 | Helena Ramos Fernandes
Comer também é prazer
Geral

Comer não é só um acto vital. Uma refeição representa muito mais do que um processo biológico. A nutrição, essa sim é vital para o ser humano, mas não só para este.

Não somos autotróficos como as plantas. Estas não comem. Elas são capazes de produzir o seu próprio “alimento” a partir de compostos inorgânicos. Digamos que as plantas são as fábricas de alimento do mundo. Além disso, elas conseguem que os níveis de gás carbónico e oxigênio na atmosfera se mantenham praticamente constante. E por isso são demasiado importantes para serem somente consideradas alimento.

Nós, e todos os outros heterotróficos, precisamos de comer alimentos, isto é, compostos orgânicos, para nos nutrir. E insano é, para mim, pensar numa ementa mundial somente constituída por vegetais. Poderia apontar razões biológicas ou outras razões científicas para justificar este meu comentário. Não o faço porque tornaria esta crónica de opinião num artigo entediante e difícil de ler.

Uma refeição representa muito mais do que um acto de nutrição. Envolve gostos, hábitos, tradições, saúde e prazer. Dificilmente nos desviamos do tipo de alimentação que nos caracteriza, ao qual nos habituámos, e com a qual vivemos felizes.

Eu, pessoalmente, gosto de cereais, principalmente integrais, de água, de fruta, de legumes, de um bom azeite, de peixe, de ovos, de leite, de carne branca ou vermelha e de um bom vinho. E você, caro leitor? Cumpre com aquilo que nos diz a pirâmide da alimentação, mesmo que a invertamos de quando em vez?

Obviamente que a qualidade e a quantidade de alimentos que ingerimos pode condicionar aquilo a que todos chamam de “boa alimentação”, ou boa nutrição. No entanto é tão importante quanto os parâmetros atrás referidos a variedade e a diversidade de alimentos que ingerimos. E isto está comprovado pela ciência e pela história.

São imensas as teorias baseadas em estudos e experiências científicas associadas a entidades e especialistas mais ou menos credíveis. Entidades e especialistas mais ou menos idóneos ou mais ou menos tendenciosos são responsáveis pela disseminação de boas e más tendências.

Tendências! Estas conseguem influenciar pessoas, grupos formados por indivíduos com objectivos semelhantes, mas nem sempre com o mesmo propósito.

E, caro leitor, tendências não passam de tendências. O passado diz tudo e o futuro mantém-se mudo.

A história está aqui para provar que não é nem a alimentação, nem as formas como nos alimentamos que estão a esgotar o nosso planeta. Nem a produção agrícola, e nem a produção pecuária são assim tão esgotantes.

São outras as variáveis que entram nesta equação, cujo resultado tende a piorar. A variável mais preponderante, e mais influenciador, é o Homem e a sua ganância pelo poder e pelo o dinheiro.

Não tenho dúvida da boa fé de quem acredita em soluções, mesmo que estas não resolvam nada. Existe aqui sempre a boa vontade de encontrar a ponta certa do novelo dos problemas que se avizinham.

Mas irrita-me profundamente as estratégias que certos políticos apontam como soluções para impor a quem os elegeu, ou pior, a quem não os elegeu, códigos de ética alimentar idealizados por eles em função dos seus gostos e anseios.

Toda esta divagação, caro leitor, deve-se à proposta do PAN de uma suposta taxa sobre a produção pecuária, para diminuir o consumo de carne.

E o ridículo desta situação, para mim, e não passando de uma opinião, é que, ou estes não querem ler, ou estes não sabem ler o passado. A história está escrita em muitos capítulos e alguns expõem claramente que o fruto proibido é sempre o mais apetecido.

Obviamente fica aqui clara a minha posição sobre tal proposta. E com isto concordo com esta breve descrição sobre o propósito do PAN, retirada de um artigo online da “Abrilabril”, “partido, que não é de esquerda, nem de direita, adoptou a estratégia de apoiar todas as causas que parecem mobilizar suficientemente o eleitorado, sem esclarecer qual a posição de fundo sobre as questões”.

Acabo este artigo afirmando que eu não admito que ninguém me impinja uma dieta da qual retirem o que eu mais gosto de comer, nem aceito que me descriminem por tal motivo. E confesso que para mim, além de necessário, comer também é prazer. E para si,  caro leitor?

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