A inauguração da Casa da Biodiversidade, em Castanheira, foi o mote para a visita do ministro do Ambiente, Matos Fernandes e, naquela ocasião, o presidente da Câmara, Vítor Paulo Pereira, afirmava solenemente que a protecção da biodiversidade só se pode fazer através da criação de mecanismos que beneficiem as pessoas que todos os dias cuidam dela – os courenses. Estávamos em 8 de Fevereiro de 2019, passou um ano. O NC quis perceber o que foi feito desde então e analisou o protocolo assinado.
Além da inauguração do edifício,n o dia 8 de Fevereiro de 2019 foi também assinado um protocolo de colaboração entre a ACHLI – Associação de Conservação do Habitat do Lobo Ibérico, representada por José Lima Teixeira –, o homem-forte da EEVM, antiga Ventominho, a Junta de Freguesia de Castanheira, representada pelo presidente Celestino Rodrigues, e a Comissão Directiva da Paisagem Protegida do Corno de Bico, representada pelo vice-presidente da Câmara, Tiago Cunha, com o intuito de gerir uma área de baldio, integrada na Paisagem Protegida do Corno de Bico, com 118 ha, por um período de 15 anos.
A ACHLI é uma Associação sem fins lucrativos, criada em 2006 por um grupo de empresas promotoras de parques eólicos (Ventominho, actualmente EEVM), que tem como objectivo a preservação da paisagem natural e cultural de áreas sensíveis em território nacional, em particular em áreas onde se detecte a presença do lobo ibérico. A particularidade desta instituição é o facto de financiar totalmente as intervenções que faz, sejam limpezas florestais, plantações ou outras acções de conservação de habitat, tudo planeado e acompanhado no terreno pelos técnicos Cindy Loureiro (engenheira florestal) e Gonçalo Brotas (biólogo) em conjunto com os membros da Junta de Freguesia e da Comissão da PPCB.
Ao que conseguimos apurar a principal actividade da ACHLI é o desenvolvimento de projectos orientados para a conservação do habitat do lobo ibérico, designadamente projectos de gestão florestal, de minimização de conflitos decorrentes da predação de animais domésticos, de gestão de caça e de fomento da população de presas silvestres. Em resumo, esta associação investe dinheiro e conhecimento na gestão da floresta de maneira a que a conservação da biodiversidade possa trazer benefício para as populações locais, seja pela criação de áreas de pastoreio para os animais, pela diminuição de risco de incêndios para as casas e aldeias, pelo resultado da venda de madeira ou pelo aumento de caça para exploração cinegética.
No caso de Castanheira, o protocolo assinado visava a gestão de espaços florestais para criação de clareiras de pastoreio, novas plantações de árvores, nomeadamente com espécies autóctones de folhosas, tudo para favorecer as condições de habitat e, simultaneamente, contribuir para a protecção das populações de eventuais fogos florestais.
Apurou o NC que, até ao momento, no prazo de um ano, a ACHLI fez uma intervenção em 17,50 hectares de baldio, distribuídos por 4 parcelas e uma faixa de gestão de combustível. A intervenção incluiu a limpeza total dos matos, nomeadamente das giestas numa área de 5 hectares (no local conhecido como o Monte das Chãos), a limpeza de uma linha de água (conhecida como Ribeiro da Pontelha), correspondente a 1,7 hectares, a limpeza de uma área de pinheiro, de cupressus e de carvalho, num total de 6 hectares (numa área conhecida como Côto da Coqueira), a limpeza dos matos com preservação dos carvalhos e dos pereiros bravos na mesma zona do Côto da Coqueira, numa área de 4,25 hectares.
No final de 2019 foi realizada uma plantação de 5 hectares com cerca de 3500 árvores folhosas nativas, carvalhos e medronheiros, com protectores individuais (tubos verdes), soubemos ainda.
Todas estas acções de conservação da biodiversidade resultaram no aumento de área de pastoreio para os produtores de gado locais, na diminuição do risco de incêndio para a população e numa melhoria do habitat para as presas selvagens. De referir que, ao que apurámos junto de um residente em Castanheira, todas as acções executadas não condicionaram o uso tradicional do Baldio pelas pessoas – até porque as zonas de trabalho estavam completamente inacessíveis, cobertas de giesta e mato.
Pelas informações prestadas pela Comissão Directiva da PPCB, o protocolo em vigor prevê para este ano de 2020 a limpeza do Monte da Coroa (junto aos depósitos de água de Chavião), da Costa do Formarigo e toda a área envolvente ao Ninho do Corvo.
Feito o balanço dos trabalhos executados no prazo de um ano, recordamos a Assembleia Municipal em que, nas palavras de Tiago Cunha, o vereador e responsável da PPCB, se definiu que o maior desafio para a Paisagem Protegida do Corno de Bico é fazer sentir às pessoas que lá moram que ela lhes trouxe algo de bom e as discrimina positivamente. Apesar de não haver ainda um resultado económico, a verdade é que o caminho nos parece francamente positivo, garantiu ao NC fonte do executivo.