DIZER INSALDE É DIZER PEDROSA DOS SANTOS
Continuando o periplo pelo concelho, ao encontro de figuras de relevo na vida comunitária do outrora Celeiro do Minho, rumamos, nesta edição, até à freguesia de Insalde.
Falar em Insalde é associar à freguesia nomes de relevo, sobressaindo, desde logo, o nome de António Pedrosa dos Santos, figura muito admirada e respeitada, sobejamente conhecida no meio courense, não só pela actividade profissional desenvolvida ao longo de uma vida, mas também pela dedicação exemplar a causas sociais, desde a igreja até às atividades culturais e desportivas.
Para conhecer um pouco melhor a história de mais um courense com muitas histórias, nada melhor do que registar os factos na primeira pessoa.
Nascido no longinquo ano de 1930, do século passado, António Pedrosa dos Santos, casado, pai de 5 filhos, tem um percurso de vida com mais de sete décadas atrás do balcão. Aliás, nasceu praticamente atrás do balcão, ali no Lugar da Feteira, à entrada da vila de Paredes xde Coura, onde o pai possuia uma pequena casa comercial.
Dada a proximidade do centro urbano, o negócio era pouco rentável, levando o progenitor a optar por vender a mercearia, rumando, de armas e bagagens, até ao Lugar do Sobreiro, onde abriu novo negócio.
Chegado aqui, começou a auxiliar o pai no atendimento, lembrando, com saudade, que face à pequena estatura de então, colocava uma caixa para poder chegar à balança, onde pesava os produtos aos clientes. Assim começou o bichinho pelo negócio, que iria durar pela vida toda.
Aos 14 anos e face ao desembaraço então demonstrado na actividade comercial, foi convidado a ir trabalhar para a mercearia do Mário Gomes, localizada na vizinha freguesia de Bico. Por ali permaneceu durante 4 anos, até que, em 1948, rumou a Insalde, onde assumiu uma sociedade com uns tios, na gerência da mercearia então existente. Essa sociedade durou 4 anos e, perante o falecimento da tia, optou por se estabelecer por conta própria, gerindo, com raro denodo, a conceituada e conhecida mercearia Pedrosa, hoje entrega ao filho Carlos e à nora, face ao acumular dos anos e à necessidade de um merecido repouso.
Para trás ficou uma vida de mais de sete decadas atrás do balcão, numa profissão atractiva mas, hoje em dia, de elevado risco, atenta a proliferação das grandes superificies comercais que asfixiaram as pequenas casas de comércio das nossas aldeias.
Além de uma vida profissional preenchida, António Pedrosa dos Santos ainda congregou esforços e tempos livres para se dedicar a causas sociais. Aliás, ainda hoje, às portas dos 90 anos, é um elemento activo na freguesia, exercendo as funções de tesoureiro da Comissão Fabriqueira da paróquia de Insalde, cargo que exerce há 34 anos. “Queria sair, para dar lugar aos mais novos, mas o amigo padre Peixoto pediu-me para ir pelo menos até aos 90 anos, e cá estou eu”, adianta o senhor Pedrosa.
Para lá da dedicação à igreja, serviu também a Junta de Freguesia duarente 12 anos, como secretário, entre 1960 e 1972. Nesse ano, o então presidente da Câmara, o saudoso Dr. Regueiro, propôs a recondução da Junta de então ao Governo Civil, numa época em que não havia eleições autárquicas, porém, os elementos efectivos acabaram por abdicar, assumindo os destinos da Junta os elementos suplentes da lista, que, em Abril de 1974, acabaram por ser exonerados.
Foi ainda director, durante 30 anos, da Cooperativa do produtores de batata da Boalhosa, onde exerceu também funções de contabilista da empresa, perante o curso de contabilidade, entretanto adquirido. Recorda, com saudade, o grande volume de produção daquele tuberculo, com excelente escoamento no mercado nacional, chegando a encher vagões do produto no comboio de mercadorias na estação de S. Pedro da Torre. Com a revolução de Abril a Cooperativa começou a desmonorar-se, acabando por se extinguir.
A actividade cultural e desportiva foi outra das vertentes marcantes na vida desta figura ímpar na história de Insalde e do concelho. Sócio fundador da Associação Cultural e Desportiva da Insalde, nos anos oitenta do século passado, onde exerceu, anos a fio, as funções de secretário da direcção, presidida primeiro pelo saudoso Manuel Ramos e mais tarde também pelo não menos saudoso Paulo Fernandes, foi no Campo do Outeiro que viveu grandes emoções, vendo o clube do coração fazer história quando, na década de 1990, conseguiu o feito de se tornar tri-campeão distrital de futebol do Inatel. Eram tempos de grandes emoções, mas onde também se cativavam grandes amizades, que perduram pela vida. Infelizmente, com o correr dos anos, tudo se transformou, acabando o tempo por diluir os projectos e ambições de uma comunidade.
Muito mais haveria para narrar, mas o espaço disponível delimita-nos a acção, no entanto é justo reconhecer e validar todo o trabalho desenvolvido por uma figura de proa do nosso burgo. Obrigado, senhor Pedrosa pelas lições vida e pelos exemplos legados nos mais novos. Saibam as gerações mais novas receber os seus testemunhos e ensinamentos.