MANUEL BARBOSA, O MOLEIRO RESISTENTE
Casaldate foi o ponto de paragem desta edição. Na simpática freguesia de Parada fomos ao encontro de Manuel Barreiro Barbosa, 90 anos de idade, casado e pai de 2 filhos. Vamos lá então saber o que nos trouxe até aqui.
Nascido no Lugar da Requeijada, na vizinha freguesia de Bico, o Manuel Barbosa chegou a Parada há cerca de 50 anos. Concluída a escola primária, dedicou-se, desde logo, ao trabalho de carpintaria. Carpinteiro foi a profissão de vida, tendo feito, ao longo dos tempos, inúmeros carros de bois, pipos para vinho e um sem-número de trabalhos na área. Aos 27 anos partiu numa aventura até terras de África. Angola foi o destino e por ali permaneceu durante 2 anos. Não satisfeito com a vida por lá, optou então por rumar até França, onde trabalhou na construção civil durante 12 anos. Foi aí que, “apesar das privações, ganhei muito dinheiro”, adianta.
Fruto do trabalho e dos rendimentos auferidos em terras gaulesas, surge então a oportunidade de comprar a Quinta de Casaldate, onde hoje ainda reside. “Corria então a década de setenta, do século passado, e a compra custou-me, na altura, 300 contos. Era muito dinheiro na época, ao ponto da vizinhança afirmar que eu estava maluco”, afiança Manuel Barbosa.
A quinta englobava, para lá de outros prédios rústicos e urbanos, 5 rodas de moinho, todas a funcionar em pleno e um engenho de serração. Tinha então uns caseiros, da família dos Ritos, que geriam os moinhos e o engenho. A mulher ocupava-se, o dia todo, dos moinhos, e o homem, do engenho. Era uma época de escravidão e as pessoas deslocavam-se desde, por exemplo, Padroso ou Senharei, entre outros lados, até aos moinhos, para a moagem do milho que colhiam. Muitas faziam mais de 10 quilómetros. O engenho, na altura, era também praticamente o único no concelho, recebia pessoas de todo o lado para serrar a madeira, transportada em carros de bois. Os caseiros, responsáveis pelos moinhos, cobravam aos clientes, numa altura em que o dinheiro era coisa rara, uma décima parte do produto moído. Ou seja, em cada 5 quilogramas de milho moído, meio quilo de farinha ficava para o moleiro. A medição era feita através dos medidores da maquia, pequenas caixas em madeira, de diversos tamanhos, conforme o peso da carga.
Com a chegada da energia eléctrica e o aparecimento dos moinhos eléctricos, agravado com o declínio da produção agrícola, hoje praticamente não se cultiva milho no nosso concelho, a não ser para silagem, começou a verificar-se uma decadência nos serviços de moagem, ao ponto dos caseiros terem abandonado a quinta, e os postos de trabalho.
Foi então que Manuel Barbosa chamou a si as tarefas de gerir os moinhos, hoje reduzido apenas a uma roda em funcionamento, o suficiente para dar satisfação a alguns clientes que ainda vão aparecendo. Longe vãos os tempo em que os famosos moinhos de Santa e dos Cavaleiros funcionavam em pleno. Hoje em dia, para moer uma boa farinha caseira, só mesmo nos moinhos de Casaldate, com as mãos sábias de um moleiro de 90 anos, com energia e dedicação a tempo inteiro.