JOSÉ MARTINS, 93 ANOS, REI DOS TRACTORES EM COURA
Infesta é o local de paragem desta edição. Nesta freguesia fomos ao encontro do tractorista mais antigo de concelho e ainda em actividade, apesar dos 93 anos de idade.
José Ferreira Martins, natural de Infesta, casado com uma senhora de 90 anos, pai da professora Maria Emilia Martins, é a figura central da crónica desta edição.
Em Infesta frequentou a escola primária, embora sem concluir o exame da quarta classe. Esse haveria de ser conseguido mais tarde, então com 27 anos, quando trabalhava na capital. Desde cedo começou a trabalhar no campo, em auxilio dos pais, juntamente com mais dois irmãos, até chegar o tempo de tropa, tendo assentado praça no Regimento de Artilharia 5, em Viana do Castelo. No serviço militar foi obrigado a repetir o percurso, face a um problema de saúde que o apoquentou aquando do primeiro alistamento, tempo perdido o da recruta.
Cumprido o serviço militar regressou às origens e ao trabalho no campo. Entretanto conheceu a mulher para a vida, também ela oriunda da freguesia de Infesta. Depois do casamento rumou até Lisboa, onde permaneceu durante dois anos, a trabalhar num armazém de vinho. De regresso à terra, optou então por rumar até França, onde permaneceu durante 11 anos.
Nos primeiros quatro anos trabalhou numa vacaria, onde até trabalhou sábados e domingos, e os últimos a conduzir tractores. Trabalhava mais de 10 horas por dia sempre em cima do tractor. Volvidos todos esses anos chegou a hora de regressar às origens.
Chegado a Portugal comprou então o primeiro tractor, com as poupanças conseguidas em terras gaulesas. Corria o ano de 1970 e a máquina custou a módica quantia de 90 mil escudos, noventas mil contos de reis, como então se dizia. Comprado o tractor foi então tempo para tirar a carta de condução. “Fiz o exame em Braga”, adianta.
Na época eram escassos os tractores no concelho, logo o trabalho era coisa que não faltava. “E então no mês de Maio era sempre a aviar”, graceja José Martins, que recorda as muitas horas que fazia diariamente em cima da máquina. “Tinha clientes nas mais diversas freguesias do concelho e os dias não chegavam, por isso tinha que lavrar também durante a noite”.
Nestes 51 anos no ramo teve quatro tractores, o último dos quais, que ainda hoje possui, foi adquirido há 34 anos, tendo custado 2.330 contos, o que contrasta, e muito, com os 90 contos investidos no primeiro.
Relembrou ainda que quando comprou o primeiro tractor o serviço à hora custava ao cliente 80 escudos e, quando deixou de trabalhar para fora, há cerca de 10 anos atrás, o preço por hora ultrapassava e muito os mil escudos (cinco euros), reconhecendo que era muito mais vantajoso quando o preço era mais baixo, porque o gasóleo e a manutenção das máquinas era muito mais barato.
De todos estes longos anos que leva como tractorista, surgiiu um outro susto, mas nada de maior, a não ser um acidente um pouco mais grave, quando ao descer uma ladeira o tractor começou a deslizar nas pedras e ao tentar segurar a máquina, numa manobra mais brusca, o tractor virou, tendo fracturado a bacia. “Estive três meses no hospital”, afirma, mas “o seguro de acidentes pessoais que detinha na altura, pagou-me os dias de baixa e ainda sobraram uns trocos para o conserto da máquina”.
Tendo deixado de trabalhar para outros aos 83 anos, hoje ainda manobra como ninguém o tractor, efectuando os mais diversos trabalhos agrícolas no âmbito familiar, com uma série de alfaias que possui e desloca-se, com toda a facilidade, à sede do concelho ou mesmo até Ponte de Lima, quando necessita levar o tractor ao mecânico. “Cheguei a ir com o tractor a uma oficina a Braga, gastando duas horas e meia na viagem”, assegura José Martins-
Na presença do tractorista mais antigo do concelho no activo, não é fácil encontrar pessoas que, aos 93 anos de idade, demonstrem uma capacidade, lucidez e força de viver tão impressionantes, não dispensando os trabalhos no campo e na bouça, sempre que é necessário o tractor. Gosta muito de ler e manter-se sempre actualizado sobre o mundo que o rodeia.
Foi uma enorme satisfação conversar com José Martins, pessoa de fino trato e de diálogo cativante, com uma vida de trabalho árduo, mas cativante