Última Hora

COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA

25 de Janeiro de 2022 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA
Destaque

ALCIDES BARREIRO, BARBEIRO DE MEIO SÉCULO

Nesta edição centramos o foco na sede do concelho. Foi na vila de Paredes de Coura que fomos ao encontro de uma figura sobejamente conhecida no nosso meio, que durante anos a fio, foi responsável pelo corte de cabelo e barba de centenas de courenses.

Alcides Sousa Barreiro, casado, pai de 2 filhos, oriundo da freguesia de Insalde, é o homem que hoje, com 61 anos de idade, nos vai narrar algumas das muitas histórias de vida, acumuladas com uma actividade profissional de 5 décadas.

Apesar de natural da altaneira freguesia de Insalde, o Alcides chegou à vila logo aos 7 anos, onde veio morar com um tio materno, o saudoso e muito conhecido José Sousa Brito, então proprietário da conceituada barbearia Brito, localizada ali na rua principal. Recordou-nos que a barbearia, ainda nos dias de hoje em laboração, no mesmo local, teve como antecessores do tio, os saudosos Alberto Pires e o Armando Barbeiro. Foi este último que trespassou a barberia ao tio, José Brito.

Chegado à vila, o Alcides frequentou então a escola primária, onde concluiu a 4ª classe. Na época, o prosseguimento de estudos resumia-se à saudosa Telescola ou ir estudar para concelhos vizinhos, tendo então optado, por terminar a formação académica pela instrução primária. Foi dessa forma que, aos 11 anos de idade, foi lançado no mundo do trabalho, mais propriamente na barberia do tio. Nunca sonhou ser barbeiro, mas as circunstâncias da vida, na altura, levaram-no a enveredar por esse caminho, e hoje, atingida a aposentação, sente-se um homem realizado com um percurso de vida que muito o orgulha.

 

Ainda miúdo, então com 11 anos, recorda que o primeiro corte de cabelo foi ao saudoso e amigo para a vida, Mário Braga, falecido recentemente. Adiantou ainda que foi o próprio cliente a chamá-lo para lhe cortar o cabelo. “Anda cá rapaz, corta-me o cabelo”, terá dito o sr. Mário. “Desejoso dessa tarefa estava eu”, afirma o Alcides, com um brilhozinho nos olhos. “A partir dessa data fui sempre o barbeiro dele.

Nunca mais quis outro”, acrescenta orgulhoso.

Por sua vez, o primeiro corte de barba foi a um tal António da Brizída, como era conhecido. Recorda que foi num sábado e, de início, estava muito receoso em realizar essa tarefa, mas tudo correu bem.

Os problemas de saúde que o apoquentaram no início do ano de 2021, onde se incluem 24 dias de internamento hospitalar, repartidos entre os cuidados intensivos e cuidados intermédios, apressaram-lhe a aposentação e a consequente impossibilidade de continuar a actividade profissional. Dessa forma, foram 50 anos a cortar cabelos e barba, com milhares de cortes ao longo deste percurso.

Foi-nos ainda dizendo que é muito mais complicado cortar o cabelo que cortar a barba e que, num dia bom em termos de clientela, conseguia fazer uma média de 30 cortes, num horário laboral de 8 ou 9 horas. Acrescentou ainda que, em média, um corte de cabelo ronda os 20 minutos, sendo esse tempo um pouco variável, podendo demorar um pouco mais ou menos, conforme o corte seja com a tesoura ou com a máquina e conforme os gostos dos clientes. Por outro lado, assegurou que conseguiu, por uma vez, o corte de uma barba num tempo recorde de 50 segundos. É obra…

Com este extenso rol de cortes, há sempre histórias hilariantes, umas cómicas, outras nem por isso. A propósito, contou-nos que a situação mais preocupante que recorda, aconteceu quando fazia um corte de cabelo com a máquina e, de repente, o pente saltou fora. “Para remediar a anomalia, tive que cortar o cabelo rente, e o cliente saiu da barbearia com uma carecada”, ironiza. Outro quadro preocupante deu-se quando cortava o cabelo de um outro cliente, da freguesia de Ferreira, chegando entretanto um amigo deste que diz: “corta-lhe uma orelha“, e não é que, inadvertidamente, deu mesmo um corte na orelha do homem. “Depois foi complicado estancar o sangue”, recorda.

Muito mais havia para narrar, mas fica o essencial da actividade, enquanto barbeiro, não ficando no entanto por aqui a vida desta figura sobejamente conhecida.

Para lá de barbeiro, trabalhou ainda, cumulativamente, numa loja de electrodomésticos, também propriedade de tio, localizada também na Rua Miguel Dantas. Essa loja abriu ao público num sábado de feira e foi ele, aos 14 anos, o primeiro a trabalhar na mesma. Por ali reparou muitos electrodomésticos, nomeadamente, rádios, ferros de soldar, entre outros, aproveitando os tempos mortos na barbearia para fazer reparações. Confidenciou ainda o tempo do contrabando e os muitos fogões de lenha que, na época, foram comercializados no mercado negro, um pouco por todo o distrito. “Íamos buscar os fogões a Melgaço, junto de fronteira, sempre noite dentro, para fugir às autoridades, chegando a Coura sempre na madrugada”, afirma.

Para lá de uma vida profissional preenchida, o Alcides nunca regateou esforços em servir diversas instituições concelhias. Durante 17 anos, intercalados, serviu a direcção do SC Courense, auxiliando diversos presidentes de direcção. Foi também elemento activo na Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Paredes de Coura, integrando, por diversas vezes os órgãos sociais e actualmente faz parte do Conselho Fiscal da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Paredes de Coura, instituição que serve há 19 anos consecutivos, entre direcção e conselho fiscal, tudo isto para lá do serviço prestado, por diversas vezes, às confrarias da paróquia de Santa Maria de Paredes.

Hoje a desfrutar de um merecido descanso, junto de família, o Alcides continua a ser uma figura deveras conhecida e respeitada da urbe courense.

 

 

 

 

 

 

Comments are closed.