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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA

11 de Fevereiro de 2020 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA
Geral

ZÉ QUEIRÓS CHEGOU A RECEBER 70 CONTOS (350 EUROS) POR MATAR UM PORCO

Retomando a divulgação de courenses com história, desta vez rumámos até Cossourado, ao encontro de José de Queirós Rodrigues.

Com 80 primaveras vencidas, este simpático ancião ainda denota capacidades de fazer inveja a gerações mais novas. Viúvo há 9 anos, sem filhos, dedica ainda hoje parte da vida ao trabalho agricola, possuindo um galinheiro que dá gosto ver, para lá de uma suculenta e bem nutrida vaca. Ainda poda e trata da vinha e faz sementeiras de batata e milho, com o auxilio de uma motocultivadora que conduz com agilidade. “Até serve para ir às pinhas”, adianta o nosso interlocutor.

Sem previsões de parar no horizonte, adiantou ao NC que teve, ao longo da vida, duas grandes paixões. Matar porcos e aplicar injecções nas pessoas necessitadas.

Concluida a instrução primária, aos 14 anos, na laia do sucedido com muitos courenses, rumou até Lisboa. Destino, trabalho numa carvoaria, propriedade de um vizinho de Linhares. Passados 3 meses após a chegada à capital, a carvoaria muda de donos, passando a ser gerida por um espanhol. Dos três meses de trabalho prestados inicialmente, ainda hoje espera pela cor do dinheiro.

Em tempo dificeis, onde uma deslocação a Lisboa demorava uma eternidade, recorda que permaneceu por lá 5 anos e meio sem vir à terra. Era trabalho atrás de trabalho, sem folgas ou pausas, até que, em 1962, surge o serviço militar, prestado também pela capital, na serra de Monsanto. “Conheci muito mais de Lisboa no tempo da tropa do que nos 8 anos que lá estive a trabalhar”, adianta. Cumprido o serviço militar regressa à terra natal, vindo a casar em 1964.

Apesar de gostar de Lisboa, como a mulher era analfabeta e sem vontade de saír da terra, acabou por ficar por Cossourado para sempre, dedicando-se, ao longo da vida, ao trabalho agricola, trabalhando terrenos próprios. “Felizmente nunca fomos caseiros”, afiança José Queirós.

Foi a partir daqui que se iniciou uma das grandes paixões da vida, matar porcos. “Inicialmente era o meu pai o matador mas, em 1966, iniciei eu essa tarefa. O primeiro porco que matei foi aqui para um vizinho. A princípio estava algo receoso, mas felizmente tudo correu muito bem. A partir daqui foi sempre a aviar. Parei há cerca de 5 anos, até porque hoje em dia, pouco gente mata porcos em casa”, afirma sem esconder alguma sauadade desses tempos. “Nestes 50 anos de matador, foram milhares os animais abatidos, com muita estórias pelo meio. De início o trabalho era pago com os chamados ‘presentes’, não faltando lá em casa a carne de porco, com abundância. Mais tarde, comecei a receber dinheiro. Cheguei a receber 70 contos pelo trabalho efectuado”.

Com maior incidência no período de inverno, o pico de matanças centrava-se por altura do Natal. Nessas semanas, antes e depois do Natal, tinha matanças todos os dias, com serviço nas freguesias de Cossourado, Linhares e Sapardos. O maior registo de abates aconteceu em dois sábados, com 5 matanças em cada dia.

De entre os muitos e variados episódios vividos com as matanças, recordou dois dos mais marcantes. Um sucedeu em Linhares, quando foi abater um porco. Na casa existiam, na altura, dois suinos, mas apenas um era para abater naquele dia. Com o animal colocado no carro de bois e já na fase da sangria, eis que o outro porco se liberta da corte e veio de encontro ao matador, tombando a senhora que segurava o alguidar que recolhia o sangue, destinado ao famoso verde, belouras e sarrabulho. O outro episódio aconteceu quando, num sábado, foi convidado para duas matanças. A primeira em Linhares, na parte da manhã, na casa do João Melro, e a segunda, na parte da tarde, em Cossourado, para o António Domingues. Depois dos trabalhos matinais terem decorrido muito bem, com muita bebida pelo meio, a tarde chegou com o matador muito ébrio. A matança era próximo da capela de S. Bento e, quando se preparavam para iniciar os trabalhos, eis que surge uma excursão de Guimarães, com mais de 50 pessoas, que ao pararem para visitar a capela de S. Bento, fizeram questão de asistir à matança. “No estado em que me encontrava, deu para rir, mas felizmente correu tudo muito bem. Valeu muito a experiência”, reforça José Queirós.

Muito mais haveria para descrever, mas o espaço delimita-nos a narração da actividade de um homem com cinco décadas dedicadas ao abate de porcos, uma das maiores paixões da vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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