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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA

22 de Setembro de 2020 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA
Destaque

ANTÓNIO FERNANDES, O SAPATEIRO QUE VIROU COMERCIANTE

De regresso ao encontro de courenses com história, a viagem desta edição leva-nos ao simpático e emblemático Lugar de Penim, freguesia de Cunha.

António Manuel Fernandes, casado, pai de 4 filhos, 88 anos de idade, é o alvo principal da nossa viagem. No conceituado “centro comercial” de Penim, merceraria com longas décadas de existência, encontramos o homem de quem se fala, que prestes a completar 89 primaveras, é detentor de capacidades únicas, capaz de fazer furor junto das gerações mais novas.

Nascido no vizinho Lugar de Lizouros, António concluiu o exame da 3ª classe, depois de 5 anos a frequentar a escola de Cerdeira, durante 4 anos, e a escola da meia de baixo, no último ano. Como filho mais velho de um casal de agricultores, a prioridade era ajudar os pais no trabalho do campo. Por isso, só ía à escola uma vez por semana. “Os restantes dias eram para trabalhar na lavoura”, adianta.

Concluida a instrução primária, os anos seguintes foram dedicados no trabalho do campo. Aos 17 anos, optou por enverdar pela profissão de sapateiro, motivado pelos ofícios do pai, que era um conceituado tamanqueiro.

Como sapateiro trabalhou durante 10 anos, chegando a ter empregados a trabalhar na oficina, que abriu no Lugar de Penim. De entre os empregados, recorda o conhecido Hermenegildo, mais tarde engraxador da nossa praça, o Rogério Viana e o Tomás, de Resende, este último ainda vivo.

Na oficina possuía duas máquinas, uma de conserto e outra de moldar. Recordou que, aquando da aquisição das máquinas, vendeu um rebanho de 14 ovelhas, para poder efectuar a compra das mesmas. Ficámos ainda a saber que um par de sapatos, de boa qualidade, levava em média, dois dias para ser feito. “Por isso já não podiam ser muito baratos, atendendo ao custo do material e mão-de-obra”, remata o António.

Ainda com a sapataria em funcionamento, decidiu apostar na abertura de uma mercearia, no Lugar. Corria então o ano de 1957. Durante algum tempo ainda manteve a sapataria em funcionamento, com os empregados durante o dia e ele, mais a esposa, a trabalhar no ramo à noite.

Com mais de seis décadas de existência, a mercearia é uma das resistentes no concelho, tendo hoje à frente do balcão, o filho mais velho, José Lopes Fernandes.

Reconhecendo que, nos dias que correm, o negócio “está de rastos”, com o volume de negócio a baixar drasticamente nos últimos anos, principalmente após o aparecimento das grandes superficies comercais, vai valendo a parte do bar e café, para fazer face aos muitos encargos envolvidos. “Anseio que o meu filho atinja o direito à aposentação para repensar seriamente em continuar a manter a porta aberta”, afiança.

Para lá de conceituado empresário e comerciante da nossa praça, António tem sido ainda, ao longo da vida, figura de proa ao serviço de várias instituições da freguesia.

Durante 16 anos, em mandatos intercalados serviu a Junta de Freguesia. Aliás, estava na Junta aquando de revolução de Abril, em parceria com os saudosos José Viana e  Virgilio, de Cerdeira. Substituidos, por uma Comissão Adminstrativa, voltou mais tarde, a integrar uma lista candidata à Assembleia de Freguesia. Vencidas as eleições regressa à Junta, agora na era da democacria, então acompanhado por José Brandão e de novo com Virgilio Cunha. Foram 16 anos de dedicação à causa autárquica, sempre como secretário. Hoje, sente-se orgulhoso pelo trajecto autárquico e, com um brilhozinho nos olhos, acompanha o desempenho do filho Manuel Fernandes, actual presidente da Junta de Freguesia, a cumprir o último mandato, dizendo, em tom de brincadeira, que filho de peixe sabe nadar.

Mas o contributo de António Sapateiro, como carinhosamente também é conhecido, não se ficou apenas pela autarquia. Ainda houve tempo para, além da actividade profissional e a criação de quatro filhos, integrar a comissão de obras da freguesia e a Comissão Fabriqueira, onde serviu durante 17 anos. “Dei sempre o meu melhor pela igreja”, recorda, destacando, entre outros, os trabalhos efectudos na capela de Santo Estevão.

Muito mais haveria para narrar de uma figura incontornável da história da freguesia de Cunha e, consequentemente, do nosso concelho, mas fica o essencial do trajecto de vida de um homem com mais de sete décadas ligados à área comercial, de premeio com anos de dedicação às causas nobres da freguesia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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