SILVINO SANTOS, 68 ANOS A TOCAR BOMBO
Nesta edição, o rumo de courenses com história levou-nos de viagem até à freguesia de Agualonga, ao encontro do homem dos bombos, figura de proa dos Zés P’reiras da nossa praça.
Silvino Joaquim dos Santos, viúvo há 9 anos, pai de 13 filhos, 7 dos quais vivos, com 87 anos de idade, é o motivo principal da nossa deslocação até S. Paio, da dita Agualonga.
Entre dois dedos de conversa, numa amena cavaqueira com uma personagem que todo o concelho conhece, e não só, foi gratificante verificar que, apesar da idade avançada, o Silvino ainda detém capacidades fisicas e intelectuais que apraz registar, fazendo mossa a gerações mais novas. Encontramos um homem conversador e ainda com pujança para uma vida duradoura.
Do diálogo estabelecido, ficámos a saber que o Silvino começou a tocar bombo aos 14 anos e arrumou as botas aos 82. Foram 68 anos de actividade. Hoje, apesar de já não exercer funções, continua ligado ao grupo, sendo aliás o responsável máximo do mesmo. O grupo, denominado Grupo de Zés Pereiras de Agualonga, está em meu nome e é da minha responsabilidade toda a contabilidade e organização fiscal do mesmo, tendo os filhos, Ângelo e Sérgio Vidal, como gerentes. São eles que gerem e que contratualizam as actuações, afiança o nosso interlocutor.
O gosto pelos Zés Pereiras está no sangue da familia. Depois de conluida a escola primária, integrou o grupo, que tinha como responsável o pai, mas a origem dos Zés Pereiras em Agualonga vem de mais longe. Segundo nos adiantou, estudos efectuados, dizem-nos que remontam já ao século XVIII, ou seja, com mais de 200 anos de existência. “Para lá do meu pai, o meu avô, bisavô e trisavô foram distintos executantes e agora, depois de mim, estão aí os meus filhos e netos para dar continuidade aos bombos”, afirma.
Depois do casamento, enveredou pelo grupo de Zés Pereira de Bico, que tinha como timoneiro o saudoso Arnaldo Azevedo. Com a morte deste, regressa a casa e funda então empresa própria, denominada Grupo de Zés Pereiras de Agualonga, que, tal como se disse, ainda hoje possui e que integra 14 elementos, com 3 gaitas de foles, pratos, caixas e bombos grandes. Num dia podem assumir entre duas a três actuações simultaneas, de acordo com as exigências de cada comissão de festas.
Por norma, o grupo consegue entre 50 a 60 actuações por ano. “Este ano, face ao estado em que se encontra a humanidade, efetuámos apenas um serviço, em Monte Redondo, no concelho de Arcos de Valdevez, logo no mês de Janeiro. Depois veio a pandemia e parou tudo”, esclareceu.
Com milhares de actuações ao longo da carreira, são muitos os episódios vividos e muitas estórias haveria para contar, no entanto, prefere realçar a excelência do grupo, reforçadas pelo facto de se deslocarem anos seguidos aos mesmos eventos, sinal evidente de qualidade, apreciada pelas respectivas organizações. “Só ao S. Bento dos Anhões, no concelho de Monção, fomos lá 60 anos seguidos, interrompidos este ano pela maldita pandemia. Mas, para lá do S. Bento, fomos 14 anos consecutivos a Torres Vedras, para não falar nos 18 anos consecutivos em Alhariz, na vizinha Espanha. Aliás, a Galiza é um dos pontos fortes de deslocação do grupo, para lá das muitas romarias pelo nosso país, com destaque para o Senhor de Matosinhos, Festa da Agonia, entre outras. Somos os verdadeiros embaixadores dos genuinos Zés Pereiras da nossa região por todo o lado”, atira sorridente o Silvino, acrescentando que “hoje proliferam grupos por todo o lado, mas sem a genuidade verdadeira de um grupo que, para lá de animar os arruados festivos, também presta serviços de cariz mais religioso, nomeadamente em procissões. Hoje, acompanho o grupo mais na retaguarda, mas fico muito feliz por ver a continuidade dele, graças ao empenho e dedicação dos meus filhos, Ângelo e Sérgio Vidal”.
Para lá de uma vida toda ela dedicada aos bombos e às tarefas agricolas que lhe ocuparam uma vida dura e de sacrificios, para criar a basta prole de filhos, o Silvino ainda foi homem de destaque na freguesia, servindo a comissão fabriqueira, durante 8 anos, diversas confrarias e a comissão de festas vezes sem conta, para lá do importante papel desempenhado na autarquia, onde ocopou o cargo durante 25 anos, 2 como secretário da Comissão Administrativa, pós 25 de abril, e 23 anos como presidente da Junta de Freguesia.
“Na autarquia dei sempre o meu melhor e as eleições eram ganhas durante o exercicio do mandato, onde colocava sempre na frente a bandeira da freguesia. Hoje, olhando para trás, orgulho-me da obra feita, que transformou a freguesia para melhor. Deixei todos os lugares servidos por caminhos dignos, que permitem o acesso rápido e fácil das pessoas, edifiquei a sede da Junta de Freguesia, o campo de futebol, o polidesportivo, balneários e o arranjo aprimorado da capela de São Caetano, hoje o verdadeiro cartão de visitas da freguesia. Sinto-me um homem realizado com um passado que fala por mim. Dei sempre o melhor pela minha terra e pelos meus conterrâneos, mesmo que para isso, muitas vezes, tivesse que ir contra as decisões das forças partidarias que me apoiavam. Comigo foi sempre Agualonga em primeiro lugar”, remata Silvino Santos.