PAIXÃO MUSICAL DE ANTÓNIO SABARIZ
Sem recurso a GPS, a bússola da rubrica de courenses que têm história levou-nos de novo até Rubiães, agora ao encontro de António de Castro Araújo, nascido no Lugar do Rodizio, desta freguesia, há 69 anos atrás.
O António Sabariz, alcunha que advêm do avô, pai de 2 filhos, leva já 50 anos como emigrante em terras de França, para onde rumou aos 19 anos de idade, na altura para fugir ao serviço militar que se avizinhava, e cujo destino mais provável seria a inglória Guerra do Ultramar, que vitimou muitos patrícios. Era o escape encontrado por muitos jovens da altura. Depois de concluída a escola primária, aos 11 anos, dedicou-se à ajuda aos pais nas tarefas agrícolas, até se iniciar na construção civil, como ajudante de trolha, antes de rumar a terras de Notre Dame.
Chegado a França, trabalhou numa carpintaria durante 3 anos. Nesse período aproveitou para tirar a carta de condução, com todas as categorias, incluindo pesados e transporte de passageiros. Obtida a permissão para conduzir, estavam reunidos os pressupostos para enveredar pela profissão com a qual sempre sonhou enquanto criança, ser motorista de autocarros. Vai daí, pediu trabalho numa empresa do ramo e, passada uma semana após o pedido, foi aceite como motorista. Trabalhou nessa empresa durante 2 anos e, numa acção de trabalho, foi fazer um serviço para uma colónia de férias, nos Altos dos Pireneus. Essa colónia pertencia a uma Congregação Católica e o director da Congregação convidou-o a ir trabalhar para lá como motorista. Feito o convite, acabou por aceitar. A partir daqui ficou responsável pelo transporte dos alunos, de casa até à escola e vice-versa, num colégio com mais de 1.000 alunos. No período de férias levava os alunos para colónias de férias, nomeadamente para os Pireneus, onde os instruía a fazer esqui. “Foram 36 anos fantásticos”, adianta o António, radiante com a vida profissional que desenvolveu. “Fui muito feliz com a minha profissão e, hoje, sinto-me um homem realizado”. Agora é tempo de usufruir da merecida aposentação, dividindo o tempo entre França, “onde tenho muitos pertences e amigos, e a minha terra natal, onde tenho as minhas raízes e muita família”.
Para lá de uma vida profissional preenchida, o António Sabariz é um apaixonado pela música e uma enciclopédia viva das bandas do nosso concelho, em especial da saudosa Banda de Rubiães. O gosto pela música veio-lhe do ventre da mãe. Os primeiros passos foram dados graças ao ensinamento do avô, Manuel Ferreira (Nelo de Sabariz), mais conhecido por Sabariz, que serviu a banda da terra durante 63 anos, repartidos, pelo primeiro cornetim, durante 40 anos, maestro, pelo período de 10 anos, e contra-mestre até tocador de bombardino, por mais 13 anos. “Fui o último aluno do meu avô”, acrescentou. Aproveitámos para ficar a conhecer um pouco melhor toda a história da Banda de Rubiães. Segundo ele, de 1900 a 1930, o grande chefe e responsável da banda foi o Professor Guerreiro, conhecido rubianense que viria mais tarde (anos 20, 30) a ser presidente da Câmara. Depois foi o avô de António, o Nelo de Sabariz, a assumir a banda, até que, na década de 1950, “a banda passou a ser regida pelo sr. Neves”. “Entretanto, com a saída do Neves, o Arménio, que era elemento da banda, assumiu a regência da mesma, durante cerca de 5 anos”, explica o nosso interlocutor. Em 1964, a banda ficou sem maestro, foi então que 4 homens se deslocaram a pé, desde Rubiães até Castanheira, na intenção de aliciar o saudoso Albano Rodrigues, músico de alto gabarito na região, na altura a tocar na banda dos Arcos de Valdevez. O Albano não aceitou o convite, mas indicou-lhes o cunhado, o também saudoso Américo Cunha, distinto maestro da nossa praça. Este acabou por aceitar o desafio, corria o mês de Março de 1964, trazendo com ele músicos como o António de Bico, o Daniel e o Rufino, de Cristelo. Recorda que, na altura, era o filho do Américo, o conhecido Eduartino Cunha, que transportava os músicos para os ensaios, num carro que possuía então. Em 1965, então com 14 anos, dá-se a sua entrada na banda, para tocar clarinete, tendo como maestro o referido Américo Cunha. “Um senhor maestro” sublinha. “Escrevia muito bem as músicas e era um senhor regente, sempre com a banda com poucos elementos, mas muito afinada”. Recorda ainda que, no regresso de uma festa na Ponte da Barca, alguns músicos tiveram um comportamento reprovável, havendo uma forte zaragata entre eles em pleno autocarro. “O senhor Américo, como homem muito recto, ao passar na freguesia de Cristelo, saiu do autocarro e abandonou, de imediato, a banda”, explica. Para terminar a época regressou de novo o Arménio. A última atuação da banda ocorreu então na festa da Sra. da Ajuda, em Mentrestido, no mês de Setembro, “Aí a banda já estava em decadência, com poucos executantes”. Depois de alguns anos de inactividade, a banda regressa ao activo em 1968, de novo com o Américo Cunha, como maestro. A última actuação que fez ao serviço da Banda de Rubiães, antes de emigrar para França, foi em Cossourado, na festa de Santo Amaro, em Janeiro de 1970. Partiu então para França, em Março do mesmo ano.
Em 1973, quando já se encontrava em terras gaulesas, dá-se o fim, em definitivo, da Banda de Rubiães. Nessa altura a maioria dos músicos eram de Valença e Cerveira e então os ensaios passaram a realizar-se na freguesia de Cossourado. O pessoal da terra tinha que se deslocar a pé, começando a desmotivar-se e a abandonar, precipitando o fim da banda. O maestro na altura, de novo Arménio, fundou então a Banda da Casa do Povo de Cerveira, levando todo o instrumental que era pertença da banda rubianense.
Para lá do serviço prestado na banda da terra, o Sabariz, como carinhosamente é conhecido, ainda passou pela Banda de Infesta, durante 1 ano, a que se junta mais 3 anos na Banda de Moreira de Lima e 4 anos na Banda dos Bombeiros Voluntários de Paredes de Coura, para lá de um ano e meio numa banda em França. Apesar de estar emigrado e não poder participar nos ensaios durante o Inverno, tinha sempre 4 meses de férias no Verão e aproveitava para vir cá, “dando a minha colaboração nas bandas referidas”. Tudo isto além da colaboração que dava no colégio onde trabalhava, onde tocava órgão em todas as cerimonias que se realizavam.
Com excelente memória, qual enciclopédia viva, ficámos ainda a saber que a Banda dos Bombeiros Voluntários de Paredes de Coura foi fundada em 1989 e teve a primeira actuação nas Festas do Concelho, no dia 10 de Agosto do mesmo ano e o último serviço, em termos de festas, foi na festa de Chavião, em Castanheira, em finais de Agosto de 1992. Por sua vez, a última aparição pública da banda deu-se aquando da visita do Dr. Mário Soares, então Presidente da República, ao nosso concelho.