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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA: AMARO PIRIBIBI, 36 ANOS DE DEDICAÇÃO AO COURENSE

4 de Dezembro de 2018 | Marlene Cunha
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA: AMARO PIRIBIBI, 36 ANOS DE DEDICAÇÃO AO COURENSE
Geral

Continuando na senda da divulgação de figuras conhecidas que, ao longo da vida, se têm destacado pela dedicação e trabalho em prol de associações e colectividades courenses, o NC rumou, desta feita, até à Cotaleira, na Vila, ao encontro de Amaro Fortuna Rodrigues de Sousa.
Com 76 anos de idade, o Amaro “Piribibi”, como carinhosamente é conhecido, goza hoje de uma merecida aposentação, após décadas de actividade profissional, como cozinheiro, no antigo Hospital Psiquiátrico de Paredes de Coura. Viúvo, pai de 4 filhos, dois dos quais já falecidos, denota ainda excelentes faculdades físicas e psíquicas.
Com um rol de estórias vividas ao longo de 36 anos dedicados a servir o SC Courense, que dariam para preencher todo o jornal, registamos alguns momentos vividos no seio do clube do coração.
Recorda que iniciou a prática desportiva, como guarda-redes, aos 16 anos, tendo jogado cerca de 14 anos, de 1958 a 1972, numa altura em que o clube ainda não participava em provas federadas. Não havia Associação de Futebol em Viana, logo, o Courense efectuava apenas partidas amistosas, nomeadamente contra equipas da zona do Porto, como os Passarinhos da Ribeira, o Gondomar, entre outros. De premeio ainda jogou pelo Racing de Mozelos nos torneios inter-freguesias.
Já na altura, o Amaro desempenhava diversas funções no clube. Para lá de defender as balizas, varria as folhas no antingo Campo do Testo e procedia à marcação do mesmo, indo jogar no final destas tarefas.
Por volta dos 30 anos abandonou a prática desportiva, mas não abandonou o clube, continuando a servi-lo como dirigente e roupeiro, tarefas que desempenhou durante quase 4 décadas, merecendo, inclusive, um louvor da direcção, em 1978/1979, “pela colaboração prestada ao longo da época, tendo a seu cargo a secção de equipamentos”, pode ler-se no texto.
A alcunha de Piriribi, nome pelo qual é conhecido nos meandros desportivos do distrito, adveio do facto de, sendo ele um guarda-redes franzino, mas com forte poder de elevação e velocidade, e, existindo na altura, um guarda-redes com essas características, os adeptos decidiram baptizá-lo com o nome, que perdurou a vida toda.
De entre as muitas estórias vivenciadas ao serviço do clube, destaque para algumas delas, com o seu quê de mirabolante.
Recorda, com saudade, tempo vividos no campo de jogos, onde marcava o campo, com pó de pedra ou calcário, para todos os jogos de seniores e formação. Lembra que, num determinado jogo, depois de ter efectuado todas as marcações, uma bátega de água abateu-se sobre o campo, levando as marcações na enxurrada. Com o aproximar do início do jogo, foi a própria equipa de arbitragem, chefiada pelo conceituado Rui Fernandes, que ajudou na remarcação do campo.
Sendo uma voz reconhecida e admirada pelos adeptos, que através das amplificações sonoras, ouviam a constituição da equipa e alguma publicidade, muitos ainda hoje se lembram quando, num célebre jogo, o Amaro se engasgou ao ler a constituição do onze inicial. “Tudo aconteceu porque no manuscrito que me entregaram havia um nome ilegível. Ainda procurei ajuda de um agente da GNR de serviço ao jogo, mas este também não conseguiu decifrar o nome. Entretanto, esqueci-me de desligar o microfone e, inadvertidamente, comentei com o agente – que se f… o preto”. Frase ouvida, com espanto, por todos os espectadores presentes no jogo.
Outro episódio recordado, prende-se com um pesado castigo aplicado ao clube, na sequência de uma invasão de campo, num célebre jogo de uma noite de sábado, frente ao Meadela. Com o campo interditado por vários jogos, o clube foi obrigado a fazer jogos, na condição de visitado, em Lanhelas e na Areosa. Num desses jogos, em Lanhelas, frente ao Lanheses, aconteceu o insólito de os 2 clubes se apresentarem com equipamentos de cor igual. Na condição de visitado, era o Courense que tinha que alterar o equipamento. Perante esta situação e na falta de alternativo, socorreu-se da colaboração da equipa do Lanhelas, que emprestou uns equipamentos do clube para se poder realizar o jogo. Ora, sendo Lanhelas, na altura, um local de muito bairrismo e com muito público a assistir aos jogos, os adeptos da terra, nomeadamente as muitas senhoras presentes, começaram a apoiar o Courense pensando que era o Lanhelas que estava a jogar.
O amor ao Courense pode espelhar-se aquando do falecimento do próprio pai. Durante o velório, de sábado para domingo, foi há meia-noite, durante os momentos de repouso, com o saudoso Nelson Lima, aos balneários do campo de jogos, preparar os equipamentos para a equipa poder ir jogar no domingo.
Do vasto rol de treinadores que passaram pelo clube ao longo dos anos, recorda, com mais saudade, os limianos José Poças e Franklim Sousa, para lá do bracarense Bino. “Tudo boa gente”, acrescenta.
“O Courense faz parte de minha vida e ainda hoje ajudo o clube naquilo que posso, apesar de estar afastado há cerca de 4 anos. Mesmo assim, vou a todos os jogos e ainda vou buscar muitas bolas ao cemitério. Não me arrependo de tudo o que fiz pelo Courense e, agora, está lá o meu filho Alfredo a colaborar”, afirma Amaro Sousa.
Muito mais haveria para contar, mas ressalta o principal desta crónica, o apego e dedicação desinteressada de uma vida, a uma das nobres instituições do nosso concelho. Parabéns pelo percurso no movimento associativo.

Guarda-redes do Courense em 1960

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