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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA : QUIM SÁ, O SENHOR ATLETISMO

10 de Julho de 2019 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA : QUIM SÁ, O SENHOR ATLETISMO
Desporto

 

 

Continuando a ronda por courenses com história, o Notícias de Coura rumou, nesta edição, até Padornelo, ao encontro do Senhor Atletismo.

Falar de atletismo é falar de Joaquim da Cunha e Sá, figura incontornável desta modalidade desportiva do nosso concelho, detentor de mais de 500 troféus e uma carreira de 37 anos. Com 71 anos, casado, pai de 3 filhos, recebeu-nos com a amabilidade de sempre, recordando toda uma vida dedicada à actividade profissional, mas ainda com tempo para a actividade desportiva e dedicação a algumas instituições concelhias.

Aos 6 anos de idade, mesmo antes de entrar na escola primária, o Quim Sá começa a trabalhar, auxiliando o pai, na sapataria e tamancaria, em Padornelo. Eram tempos difíceis, onde o trabalho infantil não era reconhecido.

Aos 24 anos, depois de cumprido o serviço militar de 38 meses, rumou a França, ainda no tempo da “mala de cartão”. Por terras gaulesas permaneceu 14 anos, trabalhando na Peugeot. Regressou às origens, aos 38 anos, começando a trabalhar na Carpintaria Carvalho.

Chegado a França, para lá da actividade profissional, começou a jogar futebol, num clube de 3ª divisão francesa, onde permaneceu durante 6 anos. Depois do futebol teve uma incursão pelo ciclismo, onde correu durante 3 anos. Só aos 34 anos é que surge o gosto pelo atletismo. “Se tenho começado no atletismo, em vez do futebol, logo que cheguei a França, poderia ter ido mais longe”, reconhece Quim Sá.

A primeira participação foi num corta-mato inter-fábricas. Num leque de 200 participantes, logrou alcançar o 2º lugar na prova, e sentiu que foi o tabaco que o prejudicou na hora de atacar o primeiro lugar. “Foi aí que tomei a decisão de largar o tabaco”, atira o atleta.

Com o bichinho  do atletismo, ingressou, aos 35 anos, num clube francês, começando a treinar regularmente, todos os dias, entre hora a hora e meia. No clube bateu o recorde em 5 categorias.  “Ainda hoje, com 71 anos, treino todos os dias”, adianta.

No ano seguinte voltou ao corta-mato inter-fábricas, alcançando o 1º lugar, deixando a concorrência muito para trás. Foi aí que começaram os incentivos para se dedicar à modalidade. Com especial apetência e gosto pela maratona, participou ainda em muitas provas de meia-maratona, 100 km, milhas, para lá de muitas provas de estrada mais curtas.

A última prova em que participou antes do regresso a Portugal, foi a prova de 100 km nocturnos, na Suiça, realizando a prova com tempo de 9 horas e 5 minutos, quando os colegas, em média, gastavam 14 horas.

Uma vez chegado a Portugal o atletismo continuou a marcar o seu dia-a-dia. “Comecei por treinar com o Luís Sá e o José Correia”, rememora. Provas são mais que muitas, registando, com um brilho nos olhos, a presença em 17 edições da Maratona dos Descobrimentos em Lisboa, prova em que espera marcar presença este ano.

No mundo do atletismo, a prova que mais gostou de participar foi nos 100 km do Campeonato do Mundo, em Nantes, França, onde gastou o excelente tempo de 7 horas e 50 minutos. Entretanto, a que mais o marcou pela negativa, foi a Volta ao Minho de 407 km, com partida e chegada a Braga. “Fazíamos 2 etapas diárias, onde corríamos cerca de 60 km por dia. Partimos 24 atletas e apenas chegámos 12 ao final”, rematou.

Ao todo conta no currículo com 59 maratonas, 78 meias-maratonas, 4 provas de 100 km, Volta ao Minho, para lá de outras provas de menor dimensão.

Praticar atletismo é um prazer para Joaquim Sá, que ainda formou uma equipa nos Bombeiros Voluntários de Paredes de Coura, chegando esta a ser campeã nacional inter-bombeiros, em Sintra.

Para lá do atletismo, ainda consegue congregar tempos livres para o associativismo, sendo um dos sócios-fundadores da Associação Cultural e Desportiva de Padornelo e um dos elementos mais activos e dinâmicos daquela pujante colectividade, dedicando também grande quinhão da vida aos Bombeiros Voluntários, instituição que serve com grande dedicação.

Figura sobejamente conhecida no meio courense, com quem nos cruzamos muitas vezes nas estradas do nosso burgo, em acções de treino, o Quim Sá é uma lenda viva do desporto courense, reconhecido por todos como um expoente máximo na modalidade, onde, reconhece, chegou um pouco tarde, “mas ainda a tempo de muitas conquistas”.

 

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