Perante um vírus silencioso e mortal como é o caso do COVID-19, com consequências muito negativas, especialmente na população mais idosa, é imperativo que todas as instituições que acolhem seniores estejam preparadas para enfrentar um problema de tão elevada dimensão.
A Santa Casa da Misericórdia de Paredes de Coura, detentora de uma Estrutura Residencial para Idosos (ERPI), o Lar Nossa Senhora da Conceição, onde residem 85 idosos, uma Unidade de Cuidados Continuados (UCC), nomeadamente uma Unidade de Longa Duração e Manutenção (ULDM), onde estão internados 22 utentes, e o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), que apoia 20 pessoas no seu domicílio, tem tido, portanto, uma preocupação acrescida no que respeita à elaboração de planos de contingência, adequados às normativas emanadas pelas entidades competentes, que sejam exequíveis em cada uma das valências.
Desde que o problema surgiu no nosso país que a atenção tem sido redobrada e a implementação de medidas uma constante, quer as que são determinadas pela Direção-Geral de Saúde (DGS), quer outras que possam contribuir para a minimização do risco para os utentes e colaboradores.
Logo que surgiram os primeiros casos em Portugal, no início de março, impuseram-se medidas de desinfeção e limpeza mais reforçadas nomeadamente: reforço da limpeza de locais mais expostos à utilização pública, como corrimãos, botões de elevador, puxadores de portas e a desinfeção de mãos obrigatória para todos, inclusivamente para as visitas. Nessa altura foram também definidas e apetrechadas salas de isolamento, disponíveis para qualquer pessoa (utente, colaborador ou visitante) que pudesse apresentar algum dos sintomas descritos pela DGS como sendo indicadores de COVID-19, para garantir o rápido isolamento. Sete dias depois do 1.º caso em Portugal, e por ordem das entidades superiores, foram suspensas as visitas a todos os utentes.
Face ao evoluir da pandemia, evoluíram também as medidas de prevenção: suspenderam-se as atividades dos colaboradores que estavam a acumular funções em outras valências externas, por forma a minimizar a “importação” de casos, restringindo-se as atividades diretas com utentes aos colaboradores que estão a trabalhar a tempo inteiro nesta instituição. Na fase seguinte limitaram-se ainda as entradas dos colaboradores internos, mas que não prestam serviços diretos aos utentes, por forma a reduzir a probabilidade de contaminação: só os colaboradores que trabalham diretamente no cuidado dos utentes é que têm acesso às áreas onde estes estão instalados. Quando chegam à instituição estes colaboradores trocam de roupa (não é permitido entrar com roupa vinda do exterior) e fazem a adequada lavagem e desinfeção das mãos.
Os colaboradores foram sensibilizados para os cuidados no exterior e o evitamento de contactos sociais por forma a minimizar a probabilidade de contágio – redução dos movimentos ao fluxo caso-trabalho-casa, bem como para a adoção de procedimentos de conduta social, como por exemplo alterar a frequência e/ou a forma de contacto entre os colaboradores – evitar o aperto de mão, as reuniões presenciais, os postos de trabalho partilhados.
Não é permitido o acesso a de ninguém do exterior, salvaguardando-se apenas a resolução de problemas técnicos inadiáveis, o acesso a equipas de emergência ou situações devidamente justificadas e autorizadas pela Direção.
A lavagem e desinfeção das mãos, a utilização de equipamento de proteção individual, nomeadamente luvas e máscara, é obrigatória, bem como o reforço e da limpeza e desinfeção de todas as superfícies, equipamentos e utensílios. O arejamento dos espaços é feito várias vezes ao dia, garantindo-se a circulação de ar nos diversos espaços, especialmente nos mais frequentados. Por forma a diminuir o n.º de pessoas em simultâneo num mesmo espaço, criaram-se mais salas de estar, com utilização alternada e reduziram-se as atividades em grupo.
Apesar de ter havido rutura de fornecimento, como vimos nas notícias, de alguns equipamentos de proteção individual, a Santa Casa esteve sempre salvaguardada face à existência de um stock interno de todos os equipamentos fundamentais. Atualmente já se conseguiu a obtenção de material mais específico, como por exemplo as viseiras de proteção, que foram criadas pela equipa multidisciplinar com ajudas externas, e a reposição de stocks de consumíveis que, entretanto, foram reforçados no mercado.
Como o vírus pode ser “transportado” através de objetos, foram tomadas medidas de receção de encomendas e bens, que são colocados em espaços isolados e ficam intocáveis durante o período de 24h, até poderem ser devidamente manuseadas com equipamento de proteção individual.
Desde o momento em que foi considerada a fase de mitigação, reviu-se o plano de contingência tendo-se adotado novas medidas. Na UCC, uma vez que o trabalho decorre fundamentalmente com doentes, alguns com estado de saúde crítico, implementou-se a medida sugerida pela ministra da Saúde, a “equipa espelho” ou seja: a equipa de enfermagem e auxiliares foi dividida em duas, sendo que cada uma trabalha sete dias consecutivos, alternadamente. Esta é uma forma de os profissionais não se cruzarem entre si e haver sempre uma equipa que está “em descanso” para eventual situação de emergência. Esta é uma medida que só foi possível implementar com a concordância de todos os colaboradores que, nesta fase difícil, comprovaram o seu elevado sentido de missão.
Em ambas as valências, ERPI e UCC, estão definidas as “alas COVID” ou seja, os espaços onde, em eventual contaminação, os utentes possam ser “internados” garantindo a distância e a salvaguarda dos demais. Ambas as valências estão equipadas com sistemas de gás medicinal (oxigénio) e, como já referimos, acauteladas com os equipamentos necessários para situações de contágio.
Portanto, perante uma situação pandémica como a que nos assolou repentinamente a todos, as cautelas são redobradas e os procedimentos implementados são sempre a pensar no melhor para aqueles que estão à responsabilidade da instituição. O objetivo é salvaguardar ao máximo os idosos na expetativa que tudo corra pelo melhor, implementando todas as medidas que são possíveis em cada uma das valências. São tempos duros, que contam com esforço das equipas que garantem, com sentido de missão e de ajuda ao outro, que nada falte àqueles para quem diariamente trabalhamos.