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Desencontrados

21 de Setembro de 2021 | Helena Ramos Fernandes
Desencontrados
Opinião

A vida é feita de caminhos, alguns bem sinuosos e outros aparentemente fáceis e descomplicados, mas talvez só aparentemente. Alguns deles encontram-se no destino mesmo que tenham traçados desencontrados. Outros separam-se para sempre, podendo haver, no entanto, uma possibilidade de se voltarem a encontrar. Elos que se criam, ultrapassando as barreiras da improbabilidade.

A nossa vida, caro leitor, ou a maneira como a sentimos e vivemos só pode ser reproduzida por nós e em parte por quem nos é próximo, mas muito próximo. As histórias que se contam na terceira pessoa nem sempre são verdadeiras. Diria que a maioria das vezes são falsas ou completamente deturpadas. E quando as ouvimos contadas por terceiros, não devemos prestar demasiado atenção às palavras retratadas. É certo que por vezes a história é propositadamente alterada pela pessoa que a viveu. Nesses casos e desde que não nos envolva nem prejudique ninguém, diria que, mesmo que acreditemos nela e a recontemos, não seremos contadores de falsidades sobre factos. Seremos apenas guionistas de um filme que alguém realizou sem se basear em factos reais. Apenas isso. Por vezes a mentira é melhor opção do que a verdade, no entanto, nunca devemos esquecer que ela tem perna curta.

Onde quererei eu chegar com esta introdução, caro leitor? Estamos próximos das eleições autárquicas e olhamos para cada candidato com certezas e com perfis preconcebidos. Já é senso comum dizer-se que nas eleições autárquicas o que realmente interessa são os candidatos, são as pessoas. E não as siglas ou partidos. É sabido, no entanto, que alguns deles se identificam como independentes apesar da sigla que os acompanham. No entanto, e no meu ponto de vista, estes nunca poderão esquecer que atrás dessa suposta candidatura independente existe um partido estruturado com uma ideologia própria e não um simples patrocinador de ideias contrárias.

Voltando ao caminho que eu pretendo traçar com estas minhas palavras, as siglas não devem ser o motivo principal para a escolha dos candidatos que se apresentam para governar o que é de todos nós. Temos a oportunidade de escolher quem vai gerir o nosso património, aquilo a que chamamos de bem comum e, sobretudo, quem vai defender os nossos direitos como munícipes ou fregueses.

Nesse sentido temos que analisar os perfis de cada um deles, e, sobretudo, o percurso que os próprios fizeram, e se este os aproxima do cargo que pretendem que lhes confiemos. Todos os candidatos apresentados nas diferentes listas para estas autárquicas terão as competências mais do que necessárias para gerir parte do nosso bem-estar. Não é isso que estou a pôr em causa. Mas saberão todos eles traçar o caminho correcto para lá chegar? Duvido! Sobretudo daqueles que não são courenses a tempo inteiro. Porque estes não residem cá, não dependem do sistema de saúde concelhio, ou do sistema de educação porque os seus filhos não estudam cá, aqueles que não utilizam nem os serviços nem as infra-estruturas que todos nós utilizamos no nosso dia-a-dia. E, no meu entender, o que mais poderá distanciar um candidato de um cargo numa autarquia, será o de não contribuir para as finanças públicas do concelho onde se candidata, ou profissionalmente ou através da aquisição de bens e serviços diários. Para mim, nunca estes serão bons candidatos. Sejam boas pessoas ou bons profissionais, se não sentirem da mesma forma que todos nós, a nossa terra, o nosso concelho ou a nossa freguesia, não podem ou não devem sequer decidir por nós. Política de proximidade, que seja! Mas por inteira.

Caros leitores, avaliem bem os candidatos antes de lhes entregar o seu voto. O que realmente importa é o que vai receber em troca. E não falo nem de cabazes solidários, nem de promessas apaziguadoras. Falo do que vai receber, você e todos nós, mas por igual. Apenas isso.

Voltando à escolha dos candidatos, não podemos acreditar levianamente em todos as histórias contadas, sobretudo na terceira pessoa. Devemos analisar e avaliar a realidade que envolve cada candidato e sobretudo o que estes podem acrescentar na gestão do que é de todos nós. Devemos, caro leitor, manter os pés bem assentos na terra, na nossa terra, e protegê-la de filmes com guiões demasiados perfeitos, pois corremos o risco de estes não passarem de longas metragens de pura ficção e com final incerto.

Por muito desencontrados que estejam os nossos caminhos, todos eles, caros leitores, vão ter à nossa Terra.

O meu voto para o meu Município já está decidido, e o seu caro leitor? A minha escolha está desencontrada da minha ideologia, no entanto. ambas se cruzam no que realmente importa. Coura e as suas gentes. Nas freguesias, o meu apoio e a minha ideologia estão juntos em alguma delas. Sobretudo porque eu conheço bem alguns desses candidatos e sei do que são capazes.

A minha escolha está bem retratada nesta frase proferida por um político pelo qual tenho uma grande admiração, uma frase que define muito bem o que eu idealizo para a minha Terra: “…Só com uma política que em matéria de recursos nacionais privilegie a agricultura e as pessoas, que aproveite todas as potencialidades dos serviços e da indústria, conjugada com uma política de investigação científica e tecnológica, com uma política cultural, com uma política de educação, poderemos sair da situação dramática em que nos encontramos.” De Francisco Sá Carneiro, in Assembleia da República (1978).

No entanto, mesmo que o seu caminho esteja desencontrado do meu na escolha que eu fiz, não deixe de votar, não se abstenha e vote em branco caso não tenha escolha. Segundo o grande político que eu já citei atrás “A abstenção é um acto de cobardia política”. Desencontro, sim. Cobardia, nunca.

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