Recentemente, passei por um pequeno dissabor sobre direitos de imagem que me fez reflectir profundamente sobre a nossa exposição nas redes sociais. Senti a necessidade de escrever sobre isso. Actualmente as redes sociais permitem que estejamos cada vez mais expostos em todo o lado. Vivemos num cenário onde é difícil delimitar onde termina o espaço pessoal e começa o digital.
Andar na rua, por exemplo, já não é apenas estar fisicamente exposto; é também estar digitalmente vulnerável. Qualquer pessoa pode capturar uma imagem em que, por coincidência, ou não, acabamos por aparecer. De repente, apercebo-me de que faço parte de uma sociedade em que as memórias são recordadas em fotografias quase instantâneas. Posso estar em fotos de desconhecidos sem sequer saber, e, pior ainda, posso nunca ter partilhado uma única foto minha, mas já estar numa rede social de qualquer outra pessoa. Chega a ser assustador, pensar na falta de controle que temos sobre a nossa própria imagem.
Lembro-me de, quando era mais nova e relacionado com os eventos escolares, existir uma autorização, a qual os meus pais tinham que assinar para poder ser fotografada e consequentemente poder aparecer na página da escola e do evento. Mas pensando bem, nós quase que fornecemos essa autorização só por aparecermos. Hoje em dia, tirar uma foto e colocá-la logo on-line já é quase instantâneo e muito mais complicado de gerir. É um conteúdo aparentemente inofensivo mas que pode provocar transtornos naqueles que, por acaso, possam aparecer nessa imagem.
Este pensamento inquieta-me, mas a situação torna-se ainda mais complexa quando, no meu caso profissional, surge a questão dos trabalhos fotográficos. Ao participar em projectos na moda, questiono-me sempre: será que posso publicar uma imagem de um trabalho sem o receio de ser julgada por compartilhar antes de quem a capturou? Afinal, sou eu que estou na imagem, e o trabalho representa também algo meu. Mas porquê, então, existir sempre essa hesitação?
É estranho este paradoxo: é a minha imagem, mas, ao mesmo tempo, estou à mercê de uma “permissão invisível” para compartilhá-la. Tenho um imenso respeito pelo trabalho alheio, sobretudo quando existe um contributo meu. Procuro sempre encontrar um equilíbrio entre o desejo de partilhar o que é meu e o respeito pelo trabalho e tempo dos outros. Portanto, e isto porque já estive em casos onde partilhei algo e fui repreendida, passei a questionar sempre os envolvidos antes de publicar algo que suscite a dúvida. Questionar não só quem capta a foto mas também quem nela aparece, não custa nada e evita confusões e disputas. Somos seres sociáveis e, portanto, não devemos esquecer-nos daquilo que assim nos torna, a comunicação.
Podemos sempre partilhar as publicações de terceiros quando estas são públicas e quando gostamos do conteúdo. Ou, para apoiar de alguma forma quem publica, como muitos de vocês fazem com as minhas publicações. São situações diferentes e muito gratificantes. No meu caso, fazerem-no ajudam-me profissionalmente. Aproveito para deixar um agradecimento especial a quem o faz e a todos aqueles que de alguma forma reagem. Esta sim, é sempre uma sensação boa.
Por fim, escrever sobre isto fez-me reflectir nas seguintes questões: será que algum dia voltaremos a ter mais controlo ou até controlo total sobre a nossa própria imagem? Ou será que teremos que aceitar que, nesta sociedade digital, somos todos personagens numa fotografia contínua, onde ora estamos de frente ora de fundo?