Não sei como começar este texto, caro leitor. Talvez por estar emocionalmente afectada pelas imagens de actos atrozes praticados contra inocentes. Por seres como eu, da minha espécie, supostamente inteligentes, racionais e emocionais. As palavras escondem-se na minha mente sem encontrar um nexo ou explicação para construir uma opinião sobre algo que não deveria ter acontecido. São demasiadas as imagens que nos chegam digitalmente, por vezes sem as procurar, sobre crimes de guerra, sobre destruição e bombardeamentos que acabam por atingir inocentes. Imagens que nos afectam, porque ninguém deveria morrer dessa forma, muito menos as crianças. É inadmissível vermos ou imaginarmos uma criança a ser torturada e assassinada de forma intencional por monstros que outrora já foram crianças. Como definir humanidade tendo em conta estes actos criminosos e imorais. Eu não sei, caro leitor. E você? Sabe?
Por outro lado, colocamo-nos frente a frente com a hipocrisia de quem vê e se emociona, mas que passa, momentos depois, a agir como se nada tivesse acontecido. Será que o caro leitor se revê nessa dualidade? Ver a realidade atroz dos que não têm a mesma sorte que nós, e, momentos depois, vermo-nos obrigados a voltar à rotina do dia-a-dia, quase que esquecendo o que lá vai noutro canto deste mundo. E tudo isto porque supostamente vivemos num território em paz. Será que essa atitude, apesar de inevitável, é aceitável? Também não sei, caro leitor.
É verdade que estes últimos anos, vestiram-se demasiadas vezes com histórias tristes e horríveis. Guerras e discórdias. Muito sofrimento provocado pelo comportamento humano, na maioria das vezes, em prol do dinheiro e do poder. Atitudes e actos deploráveis e ignóbeis em algumas situações. E que nos levaram a ter pensamentos diversos e opiniões distintas.
Li há alguns dias, algures numa opinião alheia, algo que me perturbou o raciocínio, algo que branqueou o meu pensamento. Um desabafo, talvez inapropriado, ou apenas ingénuo, que colocava uma pergunta simples, perante um acto monstruoso, perante um atentado contra a humanidade. Alguém questionava se éramos seres humanos ou animais. Somos ambos, caro incógnito! Mas na minha opinião, quando um ser humano pratica algo monstruoso, não pode nem deve ser comparado a um animal. Estaremos perante um ser monstruoso, que por um qualquer motivo e de forma intencional transpõe o limite do bem para o mal, renegando a misericórdia e o respeito pelo outro.
Para mim, e acredito que para si, caro leitor, toda a violência gratuita que é praticada contra seres humanos indefesos e inocentes deve ser repugnada, condenada, mas sobretudo travada. Caso contrário, é tão culpado quem a pratica como quem a tolera. Sobretudo, quando o faz com base em regras criadas e impostas pelo poder estabelecido. Esquecendo-se das outras regras, cartas e tratados, criadas a partir de erros e atrocidades semelhantes praticados no passado, e cujo o intuito seria defenderem os direitos humanos.
Em 26 de junho de 1945, no rescaldo das barbáries praticadas na Segunda Guerra Mundial, foi assinada a Carta das Nações Unidas. Um dos seus princípios era ‘…conseguir uma cooperação internacional para… promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião…’. Em 10 de Dezembro de 1948 surge a Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma ou afirmava o seguinte ‘…Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade…’. Um documento, adoptado pela ONU, que delineava a protecção universal dos direitos humanos. E muito mais se fez pelos nossos supostos direitos. Sendo que estes, definem-se como os direitos básicos de todos os seres humanos, onde se inclui, entre outros, o direito à vida e o direito à paz. Pergunto-me agora para que servem esses pactos, esses compromissos? Quando certos seres humanos insistem em demonstrações de força por motivos que não conseguimos ou não queremos entender. Sobretudo quando o fazem brutalmente atentando de forma irracional sobre os direitos de todos os inocentes a quem roubam a vida, e algumas de forma monstruosa.
Voltando ao incógnito que proferiu aquela questão sobre quem somos, perguntar-lhe-ia agora, seremos nós Seres Humanos ou Monstros?