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Dois dedos de testa

27 de Junho de 2023 | Sandra Fernandes
Dois dedos de testa
Opinião

O tema que irei desenvolver nesta crónica é baseado numa experiência que estou a viver. Um desafio que me está a trazer um leque de momentos novos.

Para quem me acompanha nas redes sociais sabe que desde o início do mês de Junho que estou a viver o sonho de muitos adolescentes. Passar o mês fora das fronteiras portuguesas. Apesar de sentir muita falta do ar português tenho que admitir que estou a passar por uma realização pessoal. Junho de 2023 está a ser uma novidade, estou em Milão, vim correr pelos meus sonhos. A cidade que grita moda e pela qual me apaixonei. Encontrei coragem para sair da zona de conforto e correr atrás daquilo em que acredito. Escolhi este mês por ser um dos que mais se vivem a moda nesta cidade, por o ter considerado mais adequado para tentar a minha sorte.

Isto porque na semana do 16 a 20 de Junho grandes marcas apresentaram as suas colecções masculinas para a Primavera e Verão de 2024. Ou seja, dias onde se podia sentir uma agitação diferente. No entanto, tenho plena consciência de que não existem nem boas nem más alturas, o que realmente importa é a forma como nós aproveitamos as oportunidades e não tanto o período temporal em que elas podem surgir. Sei que existem muitas barreiras que acabam por nos tocar, mas mesmo sabendo que falhar não é algo fácil de assimilar, a angústia e as questões acabam sempre por nos dominar. Estou a traçar o meu caminho, em modo de aventura com segurança, num mundo um tanto quanto selvagem, com muita beleza à mistura. Sinto que estou no bom caminho, mas sem a certeza deste facto, no que toca ao tópico de moda, e mais específico da internacionalização. Tenho fé e estou confiante de que tudo pode acontecer. E conto convosco para acompanharem este meu passo, um passo que para muitos pode ser visto como pequeno, mas acreditem que para mim seria como um salto de pés juntos.

Vai ser difícil ir embora, mas voltar à Itália é uma promessa que coloquei nos meus objectivos.

Antes de voar para cá, tinha expectativas que de certo modo podiam soar um pouco irrealistas, mas, com vontade, concretizáveis. Cheguei lá, mesmo sabendo que nem tudo aparece num golpe de sorte. O importante para mim era tentar e não sentir que tenha sido em vão. Este mês fez-me crescer de um modo que eu achava que não era necessário. Achava que já estava preparada para qualquer situação, mas esta viagem mostrou-me o contrário. Todos nós temos, até ao fim dos nossos dias, algo a melhorar. Não devemos acreditar na verdade mentirosa de já sermos a melhor versão de nós mesmos, porque essa versão pode ser trabalhada diariamente. Nunca seremos aquilo que queremos se não pensarmos primeiro naquilo que queremos ser. E hoje eu vejo isso mais do que nunca. Questionar-me nesta minha aventura tem sido algo constante e, de certa forma, um impulso para a minha vida no geral. Durante este período tenho partilhado pensamentos não só com amigos como com pessoas que já estão bem inseridas na área de que eu tanto gosto. Opiniões que foram de certa forma bastante elucidativas e conscientes. Também fui abordada na rua por pessoas que já possuem um papel importante nesta arte. E como resultado destas minhas interacções, o olhar que tenho da moda neste momento é mais objectivo. Cada dia que passa sinto que esta arte, tal como nós, tem muito que se lhe diga. E que para entrar e a marcar é preciso muito esforço e acima de tudo dedicação. Vontade não me falta, no entanto admito que já senti de tudo durante estes dias, tanto desmotivada e desvalorizada como confiante e destemida. Algo dentro de mim quer dar luz a um mundo que é tão denso emocionalmente! Se tenho receios? Claro que tenho.

Durante esta minha estadia encontrei traços em mim que tive que ir melhorando, e outros aos quais comecei a dar mais valor. O apoio da família e dos amigos, sobretudo daqueles que partilharam comigo esta vivência, foi importante na realização deste meu sonho. A família, mesmo estando longe, é um constante apoio, principalmente para me manter com os pés na terra quando começo a idealizar cenários hipotéticos. Sei que estou diferente. Os dois dedos de testa que tinha quando para cá vim, neste momento transformaram-se numa mão inteira. Neste momento a consciência que atribuo a cada decisão que tomo é bem mais focalizada naquilo que quero ser e naquilo que realmente quero para o meu futuro.

Para finalizar, nunca se esqueçam que nem sempre os momentos mais felizes são a porta certa para a realização, às vezes levantarmo-nos depois de cairmos, com a certeza de que vamos continuar, acaba por se tornar mais gratificante. E apesar dos meus receios, eu sempre acreditei. E para tudo são necessários dois dedos de testa. Ou mais.

 

 

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