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Em cima do joelho

10 de Maio de 2022 | Helena Ramos Fernandes
Em cima do joelho
Opinião

Parece-me, caro leitor, que uma grande parte da população portuguesa, mas não só, utiliza a expressão “em cima do joelho” de forma recorrente. E não devo errar muito se escrever aqui, que para além de expressá-la também a praticam muitas vezes. Mas saberão todos o exacto significado desta expressão idiomática? Talvez não. Ou talvez sim. No entanto, não seria de estranhar se não soubessem, sobretudo os mais jovens. Por se tratar de um conjunto de várias palavras, para o qual não é possível identificar o seu significado mediante o sentido literal dos termos utilizados. Ouvimo-la constantemente e associamo-lo à pressa. Esta expressão é muito utilizada quando um trabalho não tem a qualidade que deveria ter por ter sido feito às pressas.

Quantas vezes lhe terá acontecido algo do género, caro leitor? Por qualquer motivo, desculpável ou não, teve que fazer algo em cima do joelho. Eu admito que comigo, foram algumas. Sobretudo nas coisas simples do dia-a-dia, como fazer uma cama, ou pintar uma unha minutos antes de uma cerimónia. As vezes corre bem, mas outras nem por isso. É certo de que a maioria das vezes, praticamo-la por vontade alheia, e somos levados a correr pela mão de outros. Outros, que em busca de uma solução, precisam de nós. Para apanhar um qualquer comboio que está prestes a entrar na linha. E por vezes, dependendo do motivo apresentado, deixamos a nossa assertividade de lado e alinhamos no desafio. De os colocar numa das carruagens do comboio com uma passagem arduamente conseguida, em cima do joelho. Podemos não conseguir nada, ou errar no horário, no destino ou na escolha do lugar, mas não deixamos de tentar. O que realmente importa nessas alturas é valorizar o gesto e o esforço gasto em prol de uma solução. E mesmo que o final seja imperfeito, há atitudes que não podem ser desprezadas e muito menos criticadas. O tempo pode ser inimigo da perfeição, mas eu não sou. Um trabalho imperfeito e improvisado valerá, na maioria das vezes, muito mais para nós do que qualquer obra perfeita e encomendada.

Quem nunca fez nada em cima do joelho, que fale agora, ou cale-se para sempre. Em circunstâncias pessoais, familiares ou profissionais. Será que isto nos coloca do lado das pessoas ruins, ou dos maus profissionais? Existem algumas excepções, mas no geral, e na minha opinião, quem o pratica não passará de alguém completamente normal!

Quem muito faz dificilmente alcança a perfeição. Uma expressão, não idiomática que encaixa na perfeição com “em cima do joelho”.

Por vezes, por distração, ou por vontade própria ou alheia, a vida leva-nos a fazer muito em pouco tempo. Nessas condições facilmente acabamos por cair no mar da imperfeição. É certo, caro leitor, que nessas condições, com o tempo a correr, que até parece passar mais rápido, e com a adrenalina à flor da pele, a janela de oportunidades do imperfeito escancara-se para nós. Cabe-nos a nós conseguir controlá-la e tentar fechá-la.

Concluindo e para terminar esta retórica, o que devemos realmente fazer, nessas situações, é tentar fechar a janela ou, no caso de esta emperrar, antecipar a queda, e em vez de cair mergulhar nesse mar incerto. Mas sair de seguida, não vá aparecer nas redondezas um qualquer tubarão esfomeado em busca do naco imperfeito.

E agora sem ilustração, faz parte deste processo acolher as repreensões pelos possíveis erros cometidos durante essas correrias. Durante essas maratonas, que sem pedir licença, nos obrigam a correr. Correr atrás de um fim que nem sempre está ao nosso alcance.

Em cima do joelho, quando a pressa nos leva a um trabalho imperfeito. Depressa e bem, há pouco quem. Mas havendo poucos, alguns existirão. E com ou sem pressa, caro leitor, a vida será sempre perfeitamente imperfeita.

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