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Fadiga pandémica

3 de Novembro de 2020 | Helena Ramos Fernandes
Fadiga pandémica
Opinião

A pandemia por Covid-19 está há demasiado tempo presente no nosso dia-a-dia. Tendo em conta tudo o que esta provoca, oito meses de convivência com o coronavírus é demais. Este não pede licença para passar de terra em terra, com ou sem declarações sob compromisso de honra sobre a sua missão, ele lá vai sem destino. Não bate a porta nem pede permissão para entrar na maioria das casas por onde passa. E sabe porquê, meu caro leitor, porque ele entra sempre pelo nosso pé, apesar da nossa vontade de que isso não aconteça. É necessário cumprir com todas as regras existentes para que este vírus não se propague de forma descontrolada. Basta uma simples distração e lá vai ele, ganancioso, à procura de um hospedeiro desprevenido.

Para mim, caro leitor, ele deixou de ser invisível. Ele está presente em todos as esquinas, mesmo que não esteja. Em todos os gestos, principalmente naqueles que fazemos constantemente e de forma inconsciente. Em todos as pessoas, mesmo que estas não tussam nem espirrem, com o cuidado, no entanto, de não discriminá-las. Se partirmos do princípio que ele está em todo lado, o nosso cumprimento na aplicação das regras básicas como o distanciamento social, o uso de máscara de forma correcta, a prática da etiqueta respiratória, a desinfecção dos espaços e objectos que utilizamos, os cuidados de higiene e da roupa lavada de forma adequada, não será esquecido nem justificado pela distração de uma falsa segurança. E isto, caro leitor, diminuirá consideravelmente a nossa probabilidade de ser contagiado ou de contagiar.

Esta pandemia veio confirmar que o ser humano é na generalidade egoísta. Se isto for verdade, caro leitor, sejamos então egoístas responsáveis.

Quantos de vocês já não ouviram dizer, “estou sem máscara, mas eu estou bem!”. Errado! A frase deveria ser, “as minhas desculpas, vou já colocar a máscara”. Temos que ter a plena consciência de que não usar a máscara é um risco para nós, mas também para os outros. Não é racional colocarmo-nos em risco. É criminoso colocarmos os outros em risco. Não concorda comigo, caro leitor?

Todo este cenário em que vivemos actualmente compara-se ao de um equilibrista numa travessia na corda bamba. Se cumprirmos as regras, teremos a rede de protecção para amparar a nossa queda. Caso contrário, cairemos num vazio sem saber se essa queda será ou não fatal para nós ou para terceiros que se encontrem no nosso caminho.

Outra situação que tem ocorrido constantemente é a mudança de opinião de certos incrédulos quando o mal lhes bate a porta. Alguns só conseguem enxergar o problema quando alguém da família fica doente. Nessas alturas as frases corajosas calam-se e são substituídas pelo silêncio do medo e do arrependimento.

Estamos todos cansados desta pandemia. Mas isto não pode afetcar o nosso comportamento face a este problema. Devemos manter de forma contínua, e sobretudo em casa, comportamentos preventivos para combater este vírus maldito.

A OMS alerta para o aparecimento deste novo tipo de cansaço provocado pela pandemia. O próprio director regional na Europa da OMS, Hans Kluge, alerta para este fenómeno provocado pelos enormes sacrifícios que todos fizeram para conter o novo coronavírus. Este refere na CNBC que todos estes esforços empenhados durante estes quase oito meses de luta, os confinamentos obrigatórios e  as incertezas em relação ao fim desta pandemia, deixaram grande parte de população exausta, e consequentemente com comportamentos apáticos e desmotivados. Desmotivados para continuar nesta luta, e colocando em risco todos os outros. As festas ilegais, os ajuntamentos associados a ingestão de álcool, entre outras, são umas das práticas associadas a esta nova fadiga. Devemos ser tolerantes e tentar lidar com estes infractores com cuidados para conseguirmos reconduzi-los à razão. Todos estamos cansados, mas como nas depressões, alguns tipos são mais perigosos do que outros. Não nos devemos deixar levar pela pronta condenação de quem pratica actos que no momento consideramos irresponsáveis. Devemos ter a destreza de ponderar a nossa actuação para não ferir ainda mais quem já se encontra lesado ou cansado. A fadiga pandêmica não é mais uma justificação, é sim uma realidade com a qual devemos apreender a lidar. Sejamos racionais e deixemos de condenar de forma leviana. Sejamos, caro leitor, solidários nesta luta com várias frentes. Por nós, pelos nossos, por todos!

 

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