Num passado pouco recente, muito perto dos meus trinta anos, integrei um grupo de ginástica courense. O nosso mestre era um homem de poucas falas mas de muita atitude. O grupo era bastante heterogéneo mas era um grupo espectacular. Praticávamos ginástica localizada. E como todas as práticas desportivas, essa só resultava se houvesse muita dedicação pela nossa parte. Comigo resultou.
Foi nessas andanças que eu percebi que uma das minhas características era a perseverança. Resistia sempre até ao último folego. Não era de desistências! Mas o certo era que só não conseguia vencer o mestre. Ou porque ele era bom na arte ou porque lhe tinha imenso respeito. Sendo humilde comigo mesma, eu tinha-lhe respeito sim, mas ele era realmente muito bom. Daí eu nunca ter conseguido vencê-lo.
Foi num convívio de Natal, com esse mesmo grupo, que ouvi pela primeira vez a anedota da “falta de rancor”. Essa anedota foi reincidente em vários dos nossos jantares convívios. Uma anedota picante sobre uma atitude de vingança com base numa traição. Ou por outras palavras uma atitude provocada pelo rancor em resposta a algo considerado errado e provocatório.
Este relato introdutório pode parecer estranho ao leitor. Mas foi a frase que eu escolhi para título desta crónica que me veio a memória quando decidi escrevê-la. Falta-me o rancor.
Aconteceram imensas coisas, nestas últimas semanas, sobre as quais poderia opinar. Todas me provocaram a vontade de escrever, mas nenhuma me provocou aquele rancor. Mas como não sou de desistir com facilidade, aqui estou nesta linha central de uma crónica que pretendo construir para ser publicada no jornal da minha terra.
Poderia falar das férias e do orçamento familiar disponível, ou do preço do gasóleo que acaba com qualquer disponibilidade… do Mundial de futebol e do nosso Cristiano Ronaldo, ou do Éder… não, esse não foi convocado… da conferência sobre alterações climáticas e do Obama, ou dos 500 mil euros que ele levou para o outro lado do Atlântico… do Ministério da Educação e do nosso Tiago, ou dos nossos professores que lutam pelos seus justos direitos…da Tailândia e do salvamento dos 12 jovens e seu treinador, ou do Saman Kunan que trocou a sua vida pela vida desses meninos…
A verdade é que estou com falta daquele rancor bendito. Aproveito este fim de crónica que nem iniciei, para agradecer ao director deste jornal a amabilidade do convite que me dirigiu para estar presente na apresentação do Livro de autoria de sua mãe. “Estimei ver-vos”, um apanhado de crónicas sobre o quotidiano de uma courense de nome Carminda Gonçalves da Costa. Foi um momento onde a falta de emoção não imperou. Foi bonito e eu gostei!