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Fotos com estória ou com história

11 de Março de 2025 | Helena Ramos Fernandes
Fotos com estória ou com história
Opinião

No passado dia 1 de Março desloquei-me até Lisboa para assistir ao desfile da coleção SS 2025 ‘Bosque encantado’ da ilustre estilista Fátima Lopes. Não obstante, a minha motivação maior, como será óbvio para o caro leitor, era ver a minha querida filha a desfilar. Fiquei radiante ao ver que a minha menina e moça foi a escolhida para fechar o desfile. Um lugar de honra nessas andanças da Moda Nacional. E estava linda a Sandrinha, que nem uma fada num bosque encantado de um conto florido. Foi deveras um belo momento que aconteceu no Palácio do Instituto Superior de Agronomia, na Tapada da Ajuda em Lisboa. Um espaço para mim familiar por ter feito parte da minha formação acadêmica.

O evento em volta de magia, sensualidade e beleza, tão próprios e característicos da autora, contou com a presença de inúmeras pessoas, entre as quais, muitas individualidades e conhecidos de várias categorias. Confesso que, nessas ocasiões, enquanto espero pelo desfile, distraio-me com as várias figuras que vão chegando ao evento, algumas públicas, outras que eu fui conhecendo ao longo deste percurso que venho a acompanhar já há alguns anos. Mas também há aquelas que eu desconheço, sendo que algumas dessas serão não menos importantes, segundo a mira dos fotógrafos, do que aquelas que todos conhecem. Estes convidados são inúmeras vezes interpelados por mais do que um fotógrafo em busca de uma foto, e estes respondem ao chamamento com umas poses cuidadas, sorrisos. Fotos tiradas, muitas deles com estórias.

Estes fotógrafos, a maioria conhecidos nessas andanças, movem-se cuidadosamente por entre a multidão em busca da foto, com a máquina ao pescoço e a mira a postos. Algo que já não me é estranho. Por vezes um deles, mais distraído ou novo naquelas andanças, pergunta-me com a câmara pronta a disparar, ‘e você quem é’, eu respondo como que da mesma forma, com o sinal de negação, querendo dizer que eu não sou ‘ninguém’, ninguém cujo propósito da foto busca naquele contexto em questão. Na verdade, caro leitor, uma mãe babada à espera para ver a filha desfilar, e como é óbvio, alguém deveras importante para ela. E alguém desejando que essas máquinas trabalhem bastante durante a sua aparição.

Este ano, de entre aqueles fotógrafos todos, um deles chamou a minha atenção. Estranhei o facto de ele não trazer a sua máquina a tiracolo. Um fotógrafo sem a sua máquina, mas que não deixou de ser fotógrafo tendo em conta a obra que criou e que o persegue. Uma obra feita através de uma objectiva que perpetua nas suas fotos milhares de momentos, pessoas e acontecimentos, durante os muitos anos do seu percurso profissional.

Tratava-se de Fernando Corrêa dos Santos, Corrêa com acento circunflexo, como ele referencia sempre que se apresenta, considerado o decano da fotografia portuguesa. O repórter fotográfico português com a carreira mais longa e que completa no dia 1 de Junho, 90 anos de idade. Nesse seu longo percurso profissional fotografou para todos os jornais nacionais, colaborou com diversas revistas, incluindo as mais ‘cor-de-rosa’. Vi-o em muitos desfiles de moda, sendo ele filho e neto de modista de alta costura nada de estranhar, e via-o sempre com a sua máquina a tiracolo. Desta vez não a vi, e estranhei!

Convido o caro leitor a pesquisar sobre ele, verão parte da história nacional retratada em fotos, desde a passagem da Rainha Isabel II por Portugal, ou Salazar a beijar a mão do Cardeal Cerejeira, imagens marcantes do 25 de Abril, a tragédia de Camarate, o primeiro bebé proveta em Portugal entre muitos outros acontecimentos nacionais. Estas sim, fotos com história.

 

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