Última Hora

Guerra camuflada ou inimigo camuflado

13 de Abril de 2021 | Helena Ramos Fernandes
Guerra camuflada ou inimigo camuflado
Opinião

Este estado pandêmico mudou a nossa forma de viver. Concorda comigo, caro leitor? Mudou a vida para quem ficou em casa com pouco para fazer, e alguns até sem redução de vencimento, e para quem voltou ao activo não está a ser bem aceite. Mudou a vida para os que ficaram em casa em teletrabalho e que tiveram que assumir vários papéis em simultâneo. Foram pais a tempo inteiro, professores sem contrato formal, cozinheiros à pressão, cabeleiros por imposição e psicólogos de si mesmo e dos outros. Antevejo aqui dois tipos de possíveis traumas psicológicos pós confinamento provocados por motivos antagónicos.

Para quem como eu continuou a trabalhar, o mundo girou doutra forma, talvez no sentido da normalidade anormal. O trabalho acabou por se transformar numa terapia tendo em conta aquilo que fomos e somos obrigados a fazer por inerência a esta pandemia. Passamos os dias numa falsa realidade de segurança. Aguardando com avidez por uma imunidade de grupo, mas sem que esta nos mate primeiro. Não conseguimos prever o futuro, mas sabemos que este depende sobretudo de nós. O fim desta guerra camuflada ainda não está à vista, ainda há algumas batalhas para enfrentar.

Enquanto isso não acontecer, vive-se e trabalha-se cumprindo com as regras impostas para nos proteger deste inimigo invisível.

Para quem não parou, o trabalho acabou por funcionar como distração ou abstração para este problema comum a todos. Eu confesso, caro leitor, que acabei por utilizá-lo como ansiolítico virtual para me manter calma. Para combater a ansiedade e a tensão que esta guerra camuflada vai semeando por aí. O trabalho acabou por funcionar na medida em que me limitava o tempo. Restou-me pouca disponibilidade para cismar com tanta informação disponível. Escolhi estar informada o quanto basta.

E você, caro leitor, o que fez para se abstrair desta guerra tão bem camuflada. Na qual nem sempre se consegue distinguir o real inimigo. As vezes é o vírus, outras as pessoas, e outras vezes ainda certos decisores ou decisões.

Estamos novamente a desconfinar, aos poucos, diz-se por aí. Mas infelizmente só alguns é que perceberam a mensagem. Aos poucos também vão acontecendo contágios. Só que estes só serão poucos, no início, caso não tomemos todas as precauções para o evitar. Não devemos esquecer que o número de contágios cresce exponencialmente e não aos poucos. Estamos fartos, é verdade! Mas a guerra não acabou, e continuamos sem saber exactamente quem será afinal o real inimigo. Não queime todos os seus cartuchos, caro leitor, pode precisar deles mais tarde. O tempo, a ciência e a cautela acabarão de vez com esta guerra camuflada. Tenhamos esperança e sejamos pacientes. Mas até lá, cuide-se, caro leitor.

Comments are closed.