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HISTÓRIAS SONORAS A PARTIR DA CASA GRANDE

7 de Outubro de 2020 | José Luis Freitas
HISTÓRIAS SONORAS A PARTIR DA CASA GRANDE
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A Casa Grande de Romarigães é um eterno motivo para reinventar a cultura do lugar com as pessoas que nele habitam, de experimentar sobre a nossa identidade convocando a criatividade e o conhecimento, uma casa e uma obra que são palco privilegiado de afirmação do território como um laboratório vivo, uma residência aberta a novos pensamentos e povoadores.

É neste âmbito que Parede de Coura acolhe até 7 de Outubro a residência artística ‘Histórias Sonoras’, com Sofia Saldanha, tendo por referência essa mesma “Casa Grande de Romarigães”, de Aquilino Ribeiro, e obra maior da literatura portuguesa.

Sofia Saldanha nasceu em Braga e trabalhou na Rádio Universitária do Minho (RUM) durante 15 anos. Apesar de nunca ter estudado rádio, rumou para Inglaterra para fazer o mestrado na área, passando a dividir a vida entre Londres e os EUA, completando mestrado na área da rádio no Goldsmiths College, em Londres, e continuando estudos em rádio no Salt Institute for Documentary Studies, nos EUA.

Em 2010, ganhou o prémio Best New Artist Award no Third Coast International Audio Festival, em Chicago, estando actualmente nomeada para novos e importantes prémios internacionais

Em 2017, lançou uma série documental áudio sobre a vida e obra do poeta português Fernando Pessoa, que demorou três anos a produzir,  um audioguia  pela cidade de Lisboa, à procura dos locais que marcaram a vida do escritor, deixando logo aí a certeza da existência de outros projectos do género.

Sofia Saldanha vai agora procurar criar um percurso áudio-guiado com narrativas sonoras dedicadas a vários temas, mas sempre tendo por referência o universo retratado na “Casa Grande de Romarigães”, dando visibilidade à memória oral individual e contribuindo assim para a construção da memória coletiva, procurando também registar histórias do passado e presente da região que se interligam com a obra de Aquilino Ribeiro, que a partir da Quinta do Amparo, em Paredes de Coura, criou uma das obras maiores da literatura portuguesa.

Estivemos à conversa com a Sofia, esplanada como cenário, história e estórias como pano de fundo.

Era uma tarde daquelas “nem carne nem peixe”, daquelas sem sol nem chuva, a nossa interlocutora chegou, passo seguro, confiante, bloco de notas ao colo, olhar cheio de sons e saberes, sorriso quente e enorme que a máscara cobria e o tempo mostraria.

Uma conversa sem assunto, onde o assunto foi conversar; ela à procura das estórias que eu talvez não tivesse para lhe contar; eu à procura desse mesmo alguém que lhas pudesse contar. Assim foi acontecendo o nosso “dedo e meio” de conversa, salpicado aqui e ali pelo entusiasmo, bem retratado no olhar e no sorriso com que a Sofia recebia e anotava qualquer informação, por mais ínfima que esta pudesse ser, por ela julgada útil a estas suas “histórias sonoras”.

Quisemos saber algo mais sobre este trabalho, “trata-se de um trabalho feito apenas de sons, sem qualquer registo vídeo”, diz-nos Sofia Saldanha, acrescentando, ”tomando como ponto de partida a Casa Grande de Romarigães, a casa e a obra literária, a ideia será encontrar um fio condutor, que ainda procuro, que nos leve a todo o território envolvente, sua história e suas estórias”, disse.

Já sabedores, nesta pincelada breve, das linhas orientadoras, quisemos saber, na primeira pessoa,  um pouco mais. “É um trabalho que passa por diversas fases e que em princípio ficará concluído em Abril do próximo ano e onde poderá ser visto o resultado final. O trabalho estará disponível para visualização auditiva nas diversas plataformas e redes sociais, para além disso ele estará disponível, segundo creio,  num novo espaço a surgir após a agendada recuperação do edifício da Casa Grande”, explicou Sofia. E continuou. “Também está prevista a calendarização de uma audição pública, em espaço concelhio a anunciar, penso ainda que o resultado final deste trabalho, à imagem de outros anteriores meus, será alvo de transmissão radiofónica através da Antena 2”, anote, pois, caro leitor.

A terminar, Sofia Saldanha dirigiu-se ainda aos nossos leitores. “Aproveitando a oportunidade que me é dada, gostava de perguntar se algum romariguense quer partilhar comigo histórias vossas ou se podem indicar-me quem terá histórias para contar. Este trabalho tem como ponto de partida “A Casa Grande de Romarigães” e a passagem de Aquilino Ribeiro por cá. Procuro também quem tenha andado na escola na Casa Grande, e pessoas que, ou cujos familiares, privaram com Aquilino Ribeiro. Só trabalho com som, pelo que não registarei as entrevistas em vídeo, só em áudio. Podem enviar-me um email para – sofiasaldanha@hotmail.com ou contactar este jornal”, disse em forma de apelo.

Em jeito de rodapé, fica a constatação de que, apesar da atmosfera da Quinta do Amparo e da sua dimensão literária continuarem bem vivas para aqueles que visitem o local, haverá sempre novos caminhos para evocar e homenagear Aquilino Ribeiro e dar importante contributo para a preservação do seu extraordinário legado literário e, como felizmente se anuncia, arquitectónico.

 

 

 

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