“Não soltem o Javali”! A frase pode ser confundida de um spot publicitário, mas adequa-se facilmente ao abrupto aumento da população de javalis e dos eventuais prejuízos daí decorrentes.
Em Agualonga, o número crescente de avistamentos desta espécie é motivo de alarme por parte da população. Animais selvagens sempre existiram e sempre foi possível coabitar com a sua presença, protegendo-se cada um à sua maneira. Contudo, depois do alarme de que esta espécie estaria no limiar da extinção, há alguns anos atrás, vemo-nos agora rodeados de javalis, a passear pelas ruas da freguesia ou a alimentar-se nos nossos jardins. “São lobos; javalis; vacas; cavalos; cães… tudo animais selvagens a atormentar-nos! Não sei o que fazer. Já não se pode viver da terra”, admite com evidente tristeza uma moradora afectada pela presença assídua de animais selvagens nas suas propriedades.
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas diz estar a par da realidade e ciente das preocupações da população em relação a esta espécie “que destrói a agricultura; diminui outras espécies de caça como as lebres, perdizes e coelhos, aumenta a probabilidade da propagação da peste suína africana e tem sido causa de um aumento de acidentes nas vias rodoviárias”. A implementação de um plano de correcção do número da população de javalis por parte deste instituto, articulado com as organizações de caça (permitidas de acordo com a legislação em vigor), diz ter diminuído a espécie.
Estes animais vivem em tocas que escavam no solo com as suas patas. Noutros tempos, apenas eram avistados durante a noite para se alimentarem. Com um grande número de eucaliptos e pinheiros (que não alimentam estes animais), os javalis descem às hortas em busca de comida. Actualmente são avistados durante o dia, em grupos até ás dezenas, uma vez que as fêmeas têm grandes proles. Quando se sentem ameaçados, protegem de forma empenhada as suas crias e, se necessário, atacam o intruso. A espécie tem uma estrutura social matriarcal e os machos adultos solitários apenas se juntam às fêmeas no período reprodutor, de Novembro a Janeiro.
Na habitação de Pedro Guedes, com um jardim de 3.000m2 de relva, uma família de javalis (pelas pegadas parecem 2 adultos e 4 crias), destruíram 1/3 de relva neste ano. Há 4 anos consecutivos que este incidente ocorre pela mesma altura do ano (entre Outubro e Janeiro). Os javalis escavam a terra em busca de raízes e tubérculos, e nas zonas onde existe, a bolota e a castanha. Outros alimentos que fazem parte da sua alimentação são pequenos vertebrados como os ratos, coelhos e até ovos ou invertebrados como minhocas ou larvas de insectos.
Os javalis têm dado dores de cabeça a agricultores, mas a Associação Nacional de Conservação da Natureza rejeita que exista uma praga em Portugal. Agricultores e caçadores discordam e consideram estar perante um caso preocupante que está a pôr em causa a subsistência de quem vive da terra. Os moradores de Agualonga dizem ser necessário tomar medidas. “Não se pede a extinção dos animais, mas sim a sua correcção”, afirmam.