“QUERO CHEGAR AO FUTEBOL DOS NACIONAIS”
Oriundo da freguesia de Insalde, o jovem João Paulo Freitas, 27 anos, é hoje um dos mais promissores árbitros dos quadros da AF de Viana do Castelo, nesta que foi a quarta época na arbitragem.
Depois de um percurso inicial como futebolista, com a camisola do Castanheira e também do Courense, conhecido apenas como João Paulo, a quem muitos auguravam uma carreira de sucesso, eis que, um tanto surpreendentemente, trocou as chuteiras pelo apito.
Para saber das motivações dessa mudança, fomos ao encontro do único árbitro principal de Paredes de Coura.
Fale-nos do seu percurso como atleta, desde os escalões de formação até aos seniores.
Antes de iniciar a minha formação no futebol de formação, comecei os primeiros passos no mundo do futebol através dos já extintos torneios de futsal organizados pelo município, onde representei a Associação de Insalde durante cerca de 3 a 4 anos. Depois, com cerca de 10 anos, comecei os primeiros passos no futebol federado no escalão de infantis do Courense, no qual estive 2 anos sendo que no segundo ano, eu e o meu amigo Julien fomos chamados para ir a Lisboa, prestar provas Benfica. Depois durante 5 anos, representei o Castanheira, tendo completado a minha formação ate ao primeiro ano de júnior, completando depois o último ano de júnior na equipa sénior do cube, na qual estivemos a disputar a subida de divisão.
Sendo considerado pela crítica desportiva um atleta com qualidades bem acima da média para o panorama do futebol distrital, com argumentos suficientes para patamares superiores, que motivos o levaram a abandonar a carreira de jogador, enveredando pela arbitragem?
Deixar o futebol foi sem dúvida das decisões mais difíceis que tomei ate hoje. Com 18 anos, quando representava a equipa sénior do Castanheira, fui submetido a uma cirurgia onde iria iniciar um longo calvário nos anos que se seguiram. Nos três anos que se seguiram praticamente não joguei devido a lesão, o que fez com que toda a ambição e o sonho de chegar a outros patamares ficassem por terra. Mais tarde, tive o convite para ingressar na equipa sénior do Courense, contudo, apos finalmente recuperar da lesão, senti que que já não era o mesmo João Paulo de outros tempos, a força psicologia e física já não eram as mesmas, o facto de ter começado uma licenciatura e o convite do Rui Fernandes para ingressar na arbitragem teve um peso muito grande, e após colocar todos os factores na balança, decidi tomar uma das decisões mais difíceis ate hoje, deixar de jogar futebol federado.
Sabemos que iniciou a carreira na arbitragem como árbitro assistente do categorizado Rui Fernandes, um dos árbitros mais categorizados da AF Viana do Castelo. Que ensinamentos recebeu desse conceituado mestre?
Os ensinamentos foram muitos, não só na arbitragem como também na minha vida pessoal. O Rui foi das pessoas mais inteligentes que conheci no futebol ao longo destes anos todos. O saber ocupar o nosso lugar, a humildade e o saber comunicar foi algo que o Rui sempre me transmitiu e que ainda hoje levo sempre comigo tanto para a arbitragem, como Para o meu dia-a-dia. Estava sempre a incentivar-me para que fosse em busca de aprender sempre mais, que investisse na minha formação e ele fartava-se de dar o exemplo, quando aos 40 anos, terminou uma licenciatura e iniciou um mestrado, praticamente um fim-de-semana por mês lá ia o Rui ou a alguma palestra, ou tirar um curso novo que acabava sempre por partilhar connosco fazendo com que também crescêssemos e nos tornássemos pessoas e profissionais cada vez melhores. Tenho o prazer de o chamar de amigo e agradecer-lhe por tudo pois é para mim uma referência e um exemplo.
Depois de algumas épocas como assistente, na época 2019/2020, formou a sua equipa, passando a árbitro principal. Apesar de ter terminado de forma precoce, com muitos jogos por disputar, que balanço faz desta época?
Devo dizer que foi bastante positiva, foi sobretudo uma época de aprendizagem que certamente vai contribuir para que na próxima época esteja mais preparado para os desafios a que me propus.
Acompanhámos semanalmente as nomeações e verificámos que o Conselho de Arbitragem o nomeava sempre para jogos de maior grau de dificuldade na 2ª Divisão. Como analisa essas nomeações?
Isso foi sem dúvida um voto de confiança por parte do Conselho de Arbitragem, por dar a oportunidade tanto a mim, como também a outros colegas que, tal como eu, são novos na arbitragem, e com isso só tenho de deixar o meu obrigado ao presidente, Sr. Fernando Costa Lima.
Qual o jogo mais complicado de dirigir ate hoje e qual o mais fácil?
Enquanto assistente o mais difícil foi um Neves-Correlhã, e enquanto arbitro, um Raianos-Barroselas, na altura 4º classificado contra 3º, depois quanto ao mais fácil, isso é muito relativo, porque não há jogos fáceis, todos têm o seu grau de dificuldade, agora existem equipas que são mais bem comportadas e que facilitam em muito o nosso trabalho, e por essa razão, tenho de deixar aqui os parabéns à equipa sénior do Anais, pois foi uma equipa que arbitrei algumas vezes, e em todas as vezes, foi uma equipa bastante disciplinada e respeitadora.
Como define o comportamento dos jogadores e dos dirigentes na actualidade?
Existe uma discrepância muito grande de comportamentos de jogadores da 2ª Divisão para a 1ª. O comportamento dos jogadores na 2ª Divisão não é de todo o melhor, mas o que me choca mais, é o comportamento de alguns treinadores e dirigentes nos escalões de formação. Num processo de formação é inexplicável como ainda existe pessoas a liderar equipas de miúdos, onde incutem atitudes e comportamentos que não servem de exemplo para ninguém. Mas pior de tudo, é que os pais pagam para os miúdos estarem a receber aquele tipo de “formação”. No escalão de seniores, o comportamento reflecte-se no que é neste momento o futebol português, uma modalidade onde muita coisa é tolerada e onde aqueles que são referências e deveriam dar o exemplo, não o dão.
Como se define como árbitro?
Sou bastante calmo, converso muito com os jogadores e os restantes intervenientes. Coloco-me muitas vezes na posição de jogador, para conseguir interpretar melhor cada decisão. Gosto de deixar fluir o jogo e contribuir para que o jogo seja mais apaixonante. Detesto que me tentem enganar.
Quais os seus objectivos como árbitro? Será que vamos ter o João Paulo nos Nacionais?
O objectivo é, naturalmente, chegar aos escalões Nacionais. Obviamente que é uma tarefa exigente, mas que está perfeitamente ao alcance.