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JOSÉ VARGAS RECORDA PARTICIPAÇÃO NO 25 DE ABRIL

9 de Junho de 2020 | Eduardo Daniel Cerqueira
JOSÉ VARGAS RECORDA PARTICIPAÇÃO NO 25 DE ABRIL
Destaque

“OCUPÁMOS A RTP ATÉ À QUEDA DO REGIME”

 Na sequência da notícia publicada na anterior edição do NC e incluída na freguesia de Mozelos, damos de seguida à estampa uma entrevista com José Vargas, recordando a sua intervenção no terreno durante o 25 de Abril de 1974.

Há muito que José Vargas escolheu Paredes de Coura para viver, adoptou a nossa terra e colocou-a em lugar especial junto do seu coração. Homem de causas, entre as múltiplas participações que tem levado a cabo, de cariz social e cultural, destaque para a presidência que exerceu no Ousam.

 

Recorrendo à pergunta popularizada por Baptista-Bastos, onde é que estava no 25 de Abril?

Estava na Escola Prática de Administração Militar – EPAM a frequentar o 2º ciclo do Curso de Oficiais Milicianos, especialidade de Contabilidade.

Nessa madrugada libertadora tinha conhecimento que ia fazer parte das operações militares?

Fui convidado desde o primeiro minuto por um amigo que fazia parte do movimento. Aceitei com muita esperança o convite e participei com muito orgulho e muita convicção. Sabia que ia ter o privilégio de participar na História de Portugal.

Fale-nos um pouco do episódio de ocupação da Rádio Televisão Portuguesa.

Pouco depois da meia-noite seguiu um pelotão para ocupar a televisão que, pouco depois, seria rendido por voluntários, de que eu fazia parte. Seguimos no início da manhã. Fui colocado num telhado em vigilância onde estive até ao fim da tarde quando as notícias confirmaram a queda do regime. A ocupação da RTP foi pacífica. No princípio ainda apareceu um carro da polícia, mas que desapareceu muito rapidamente e nunca mais voltou.

Depois do controlo da RTP pelo MFA ainda houve algum episódio a nível militar onde participou?

Depois era pouco relevante. Durante 2 semanas fiz vigilâncias na RTP ou no próprio quartel. Houve um episódio aquando do 28 de Setembro. O quartel onde eu estava, Regimento de Artilharia de Coimbra, foi sobrevoado por caças em voos rasantes. Confesso que tive medo!

No primeiro semestre de 1975 estava em Timor, e aí, ficávamos apreensivos quando víamos as fragatas da Indonésia a passear na baía de Díli.

Como viveu o PREC e todos os momentos subsequentes?

Com muita alegria, muita esperança e muita participação, mas também com alguma apreensão. Entretanto, no início de 1975 fui mobilizado para Timor e lá, não só as notícias chegavam desactualizadas, como não havia o ambiente adequada para a vivência. Quando regressei para férias encontrei o país em regime de pré-guerra civil. Já não regressei a Timor devido à invasão da indonésia, e com o 25 de Novembro entrou-se num ambiente menos turbulento, que permitiu eleger a primeira Assembleia da República e formar governos constitucionais.

 O que lhe trouxe e tirou Abril?

Eu ainda não tinha completado 27 anos. Sobretudo aspirava a uma vivência democrática. Isso aconteceu com o 25 de Abril que acabou com o fascismo e com o 25 de Novembro que consagrou a democracia. Depois foi uma consolidação e uma aprendizagem a uma nova forma de se estar em sociedade. A vivência em e da democracia é um processo dinâmico de aprendizagem, de adaptações às mudanças que vão surgindo. Primeiro a mudança provocada pela própria democracia, depois a entrada para a União Europeia, de há duas décadas para cá a revolução tecnológica e, presentemente, a pandemia do Covid-19.

O que me tirou o 25 de Abril foi o medo de viver num regime totalitário, repugnante, cheio de miséria social e moral e sem liberdade no mais amplo sentido do termo

Que mensagem quer deixar às novas gerações?

Já houve duas gerações que apareceram depois de mim, a dos meus filhos e a dos meus netos. Julgo que a geração dos meus filhos sabe o que deve fazer e está a transmitir aos seus descendentes os valores da democracia. Só posso reforçar o que eles já sabem citando duas grandes figuras mundiais da democracia. Dizia Winston Churchill, “A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela”. “Não perguntem o que o país pode fazer por vós”, como dizia Edward Kennedy, “perguntem antes o que vocês podem fazer pelo país”. Vale a pena viver em democracia. O pluralismo e a diferença de ideias fazem com que a nossa opinião fique mais enriquecida e mais fundamentada. Façam com que a vossa vida possa contribuir para um mundo melhor.

 

 

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