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Não foi assim que aconteceu

6 de Dezembro de 2023 | Sandra Fernandes
Não foi assim que aconteceu
Opinião

Hoje decidi que ia falar sobre percepções e o que as influenciam. Todos nós já nos
questionámos acerca da veracidade de acontecimentos contados na terceira pessoa.
Acontecimentos nos quais estivemos presentes e assumimos, convictos, não terem
acontecido como foi contado.
Uma das possíveis justificações para estas discordâncias assenta naquilo a que se chama de
capacidade perceptiva. Esta dita capacidade corresponde à habilidade de captar, processar
e entender uma dada informação que nos é fornecida. Um processo cognitivo que nos
permite interpretar o ambiente onde estamos inseridos através de estímulos recebidos.
Neste processo temos uma fase de selecção, onde filtramos os inúmeros estímulos que
recebemos baseando-nos na nossa atenção, experiências, necessidades e preferências.
Depois vem a fase da organização dos estímulos em grupos, que também se rege da mesma
forma que a anterior. Por fim, temos a fase da interpretação que passa pela atribuição de
um significado a cada grupo previamente formado, que acaba também por ser moldado
pelas nossas experiências e expectativas. São muitos os factores que ditam cada uma destas
fases. E estes são tendencialmente diferentes de pessoa para pessoa, justificando muitas
vezes as diferentes visões dos acontecimentos. Por mais que o ponto de vista seja o mesmo,
existe uma camada emocional, por sua vez metafisica, que irá ditar a individualização
daquilo que foi compreendido do momento vivido. Resumindo, a minha versão da história
poderá ser diferente da sua.
Com isto apenas pretendo passar a mensagem de que a nossa verdade pode não ser a
verdade dos outros. Esta dependerá sempre da percepção dos envolvidos numa qualquer
história. E por isso nem sempre aquilo que nós consideramos como irrefutável, o é para
outros. A nossa percepção será sempre guiada pelas nossas motivações, experiências,
sentimentos e até prioridades individuais. Por mais semelhantes que as nossas experiências
de vida possam ser, existirá algo intrínseco que irá diferenciar as nossas concepções de um
mesmo evento. Portanto, a nossa verdade poderá não ser a verdade do outro, por mais que
tenhamos vivido o mesmo momento ao mesmo tempo.

Para finalizar, antes de colocarem em causa a verdade do outro, pensem na complexidade
do que é a percepção para cada uma das partes envolvidas. E, talvez, no final das contas,
ninguém fique com a razão, simplesmente porque, e dependendo da percepção, cada um
de nós vê o mesmo céu à sua maneira.

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