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O ano em que nasci

25 de Maio de 2021 | Helena Ramos Fernandes
O ano em que nasci
Opinião

O ano de 2021 fica, entre outros acontecimentos, marcado pela vitória merecida do Sporting Clube de Portugal no Campeonato Nacional de Futebol. E não sendo isto mais do que uma coincidência, no ano em que eu nasci este também se sagrou campeão. Um pouco mais de meio século passado este clube de futebol consegue o seu décimo nono, ou vigésimo terceiro título de Campeão Nacional, conforme o critério que considerarmos para a contagem. Por este motivo, caro leitor, estes estão de parabéns.

Aproveito para congratular o clube e os seus adeptos, sobretudo os courenses. Aqueles que este ano, tomaram merecidamente a, não imponente, mas famosa, rotunda de todos os adeptos courenses, independentemente da cor. No meu caso pessoal, e apesar de gostar de verde, apraz-me vê-la em tons de vermelho.

Nesta última semana, caro leitor, também eu estou de parabéns. Não por arrecadar mais um título, mas sim porque ganhei mais um ano na minha vida. Uma vida simples E humilde, enquadrada numa época repleta de acontecimentos.

Em termos históricos nada de muito relevante aconteceu em Portugal no ano em que nasci. Este destaca-se, no entanto, por ter sido o ano em que morreu o homem que proferiu a frase “sei muito bem o que quero e para onde vou”. O Ditador Nacionalista Português que se tornou o Estadista que, bem ou mal, mais tempo governou Portugal.

Apesar de deter orgulhosamente a nacionalidade Portuguesa, eu nasci em terras napoleónicas, caro leitor, dois meses antes da morte de António de Oliveira Salazar. Talvez ele tenha sido o responsável por isso. Eu cresci ouvindo, de forma sistemática, mas não contínua, críticas e relatos pouco abonatórios da sua governança. Estas eram histórias contadas em família, mas nunca muito aprofundadas. Recordo-me que as palavras e frases mais recorrentes nessas histórias eram, miséria, côdea, cartucho, sardinha dividida em três, tostões, repressão, controlo, PIDE, violência, reguadas, ‘a salto’ e contrabando.  No entanto, era notório o misto de orgulho e de saudades que os meus pais sentiam em relação à sua terra natal.

Enquanto isso eu seguia o meu percurso escolar. Entre outras matérias, estudava a História de França. Muitos temas e épocas foram abordados, mas marcaram-me sobretudo o envolvimento da França na Segunda Guerra Mundial e o Holocausto que ocorreu no Terceiro Reich. O inferno que foi para os Judeus e outras minorias não aceites pelos racistas e antissemitas que se consideravam a raça pura e superior. O poder nas mãos erradas é implacável e assume por vezes contornos tão horrendos como são exemplo os genocídios em massa que ocorreram nos campos de concentração nazi. Apesar de ser por vezes repugnante, a História é uma das melhores ferramentas de ensinamentos, principalmente quando estes são dirigidos para o bem ou para não voltar a repetir os mesmos erros do passado.

Para anemizar e colorir esta crónica que se iniciou verde e ficou em tons cinzentos, aponto o ano em que nasci como produtivo em beleza. E sabendo que o conceito de beleza é relativo, foi nesse ano que nasceram as top-models Claudia Shiffer e Naomi Campbell. Toca-me, no entanto pelo facto de eu ter dado à luz, 31 anos mais tarde, a minha e nossa top-model courense.

Em contrapartida, no ano em que eu nasci, perdemos um pouco na música com a morte de Janis Joplin e Jimi Hendrix. Talvez eu tenho herdado não a rouquidão, mas o cabelo farto da Janis. O que acha, caro leitor?

Para finalizar este apanhado que me cercou a nascença, nesse mesmo ano nasceu aquela que viria a ocupar o lugar que eu apontava, em tom de brincadeira durante a minha formação superior agrícola, como meta para a minha ascensão profissional. No ano em que eu nasci, caro leitor, nasceu Maria do Céu Oliveira Antunes, a actual ministra da Agricultura.

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