Numa crónica de opinião do Público do ano passado, li algo que já ouvi algumas vezes de quem percebe da arte vínica. Li que os brancos têm origem em terras frias e que Portugal é um país de clima quente. Digamos que apesar de nos encontramos entre os países que produzem os melhores vinhos, quando se trata de vinho branco temos que nos empenhar um pouco mais. Ou talvez não, para alguns casos.
Os vinhos da nossa região resultam de um enlace perfeito entre a videira, a terra que a alimenta e o clima que a estimula. Digamos que a definição de terra fria não é uma descrição despropositada para o Norte de Portugal. Assim sendo, os nossos vinhos brancos produzem-se no lugar certo. Um exemplo bem marcante de um enlace mais que perfeito, é sem dúvida o Alvarinho de Monção e Melgaço. Ao tirarem-lhe o lugar certo, é bem provável que também lhe tirem a sua essência. A sua excelência. Fica aqui a deixa para quem o quer, a todo custo, levar para as terras quentes, a Sul do Alto Minho.
Como de costume, estive presente na edição deste ano da Festa do Alvarinho e do Fumeiro de Melgaço. E como sempre a tenda estava lotada! Repleta de pessoas cuja vontade era provar o vinho rei dessas terras minhotas. O alvarinho e o espumante da mesma casta! Eu fui para provar também, com maior incidência nos espumantes dos diferentes produtores presentes na Feira.
Gostei da prova, e do momento também. Também faz parte dessa romaria rever colegas de profissão, produtores com quem já trabalhámos ou amigos de outros tempos. Mas gostei sobretudo do momento porque não caí em excessos. Algo que é comum acontecer a quem vai para beber e pouco ou nada sabe sobre a arte de beber alvarinho. Um dia, alguém me disse: “Para apreciar o vinho não podemos esquecer uma regra importante: O alvarinho é um vinho que se bebe em pé”. Além de ser um vinho fresco que se serve frio, possuí um grau alcoólico muito alto. Algo pouco comum nos restantes vinhos produzidos na Região dos Vinhos Verdes.
Mas essa regra só se aplica se houver razoabilidade na ingestão deste néctar produzido nas terras frias de Monção e Melgaço. Caso contrário será indisposição pela certa! Obviamente que este evento atrai os mais jovens, mas somente os maiores de 18 é que podem proceder à prova. A legislação associada ao consumo de álcool não deixa dúvidas. É completamente proibido o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica pelos menores de 18 anos. E somos nós adultos que devemos controlar esse consumo. Os pais devem orientar os filhos.
Sem dúvida que a atenção e a ação precoce quando surgem os primeiros indícios de um possível consumo são importantes. Nunca esquecer que a pressão dos pares e vontade de pertença ao grupo são razões que levam os mais jovens a iniciarem-se no consumo de bebidas alcoólicas. E estudos recentes apontam números estatísticos bastante preocupantes no que concerne este assunto. Num deles pode se ler que “os portugueses bebem 2,8 milhões de litros de bebidas alcoólicas por dia. O fim da adolescência e os primeiros anos do ensino superior são uma mistura explosiva: na faixa etária dos 18 aos 24 anos, 58% dos jovens consomem álcool. A faixa dos 15 e 16 anos começa a ser também muito problemática, com 2% destes jovens a admitirem que já se embriagaram pelo menos 20 vezes”. Esta é a realidade portuguesa.
Considero que o consumo de álcool requer, na altura devida, uma aprendizagem. E além da recomendação universal que todos conhecemos “beba com moderação” é necessário sobretudo saber beber. Beber é beber com qualidade. Beber devagar e com um bom petisco para acompanhar. Evitar beber mais do que uma bebida por hora é outra recomendação efetuada por profissionais de saúde.
Concluindo, beber vinho verde branco acompanhado por um bom presunto. E já agora, beber o vinho branco das terras frias. Mas sempre com moderação.