Não estaremos todos à beira de um ataque de surdez? Os motivos são vários e todos eles acabam por estar relacionados com esta pandemia que dura há demasiado tempo. Este maldito vírus que teima em fintar tudo e todos quando “abrimos uma frecha” à nossa guarda para simplesmente voltarmos a ser humanamente sociais.
Para conseguir vencer este demónio invisível e que ‘estirpamente’ se dá ao luxo de escolher as vítimas que pretende atingir, é necessário seguir regras simples. Mas convenhamos, caro leitor, alguma destas regras são humanamente difíceis de aplicar. E não me venham com falsos moralismos, sobretudo aqueles que considerem nunca vir a cometer um erro desta natureza. Aqueles que apontam o dedo aos que supostamente são criminosos porque não souberam manter o afastamento dos seus entes queridos no Natal. Estes humanos, ou altamente criminosos, para alguns, que não conseguiram abdicar da companhia do pai ou da mãe, do filho ou da filha, numa época que evoca a família. Supostamente porque no próximo ano não haverá Covid-19. Será? Mas, tendo em conta o panorama em que vivemos, talvez também não haja pai e mãe no próximo Natal. Por este motivo em específico e tendo em conta a época em causa, eu não vou condenar ninguém. Muito menos criticar os que não cumpriram com o afastamento familiar no Natal. Simplesmente, caro leitor, porque não consigo. Tal como eles e você, eu sou humana.
Apontar e falar dos erros alheios torna-se demasiado fácil quando fechamos os olhos para os nossos próprios erros. Nestas situações e quando ouvimos outros a delatar sem restrições sobre possíveis infractores, devemos saber usar a nossa racionalidade para processar essa informação. Sejamos humanos, caros leitores.
Este vírus é altamente contagioso e esta é uma realidade incontornável. Mas, caro leitor, contornável é decidir democraticamente quem nos deve representar e defender. É inadmissível que aqueles que escolhemos para governar o nosso país não sejam capazes de decidir de forma pronta e eficaz. Afinal somos e continuaremos a ser apenas números, sobretudo nesta pandemia. Porque é que não se controla de vez esta maldita pandemia? Principalmente quando já existe uma ou várias vacinas. Será que nós não valeremos o custo de uma vacina? Será que não há dinheiro para adquirir as vacinas para todos de uma só vez? Ou será que não há vacinas para todos? Será que a vida humana não vale todo o tipo de negociação?
Pois bem, Excelentíssimo Senhor Primeiro-Ministro, eu peço-lhe que utilize parte da minha contribuição anual para pagar a minha vacina e a dos meus descendentes, agora, e não nos próximos meses. Será que o valor total da minha contribuição anual não é suficiente?
Eu, caro leitor, aprendi bastante com tudo isto. Estamos sempre em constante aprendizagem. Aprendemos com tudo o que vivenciamos mais também com tudo o que nos rodeia e sobretudo com tudo o que ouvimos. E também aprendemos com todas as mensagens que vagueiam pelas redes sociais. E com as críticas por vezes destrutivas que ouvimos ou lemos numa qualquer comunicação. Por isso, sejamos humanos nessa aprendizagem.
Aprender talvez seja um dos actos mais importante da humanidade. Não é vital por si só, é um facto! Mas este será talvez tudo o resto. Tudo o que arrecadamos na passagem por este mundo que não é apenas nosso.
A nossa vida depende sobretudo da bagagem que nos acompanha, dos frutos que vamos colhendo ao longo do nosso percurso. Viver é estar em constante aprendizagem. Viver é colher, colher o que o destino nos oferece, em função da nossa capacidade de armazenamento, tratamento e conservação. A racionalidade é uma das nossas principais ferramentas de colheita. Ela permite-nos escolher o que colher. Mesmo que por vezes a safra seja parca ou de má qualidade.
Os frutos dos pomares da nossa vida nem sempre são bons. Estes podem apresentar-se de bom tamanho, no entanto, faltar-lhes aquele sabor desejado ou procurado. Compete-nos a nós saber escolhê-los e decidir o fim que lhes pretendemos dar. Destes frutos nascerá o sumo que beberemos para saciar a nossa sede. Resta-nos saber o tipo de sede que pretendemos saciar.
Aprender dá fruto. Ouvir também.
Ouvir o que nos rodeia, enche-nos de sensações e sentimentos. Ouvir os outros dá fruto. Mas desde que esses outros sejam frutíferos em sabedoria. Porque nem tudo o que se ouve é fruto bom e proveitoso. Se nós não soubermos escrutinar aquilo que ouvimos os outros dizer estaremos constantemente a armazenar fruta contaminada. Porque nem tudo o que ouvimos é verdadeiro e nem sempre a verdade é proveitosa, no entanto, com tudo o que ouvimos aprendemos. Aprendemos a rejeitar o fruto duvidoso. Se nós tivermos a capacidade de seriar o que os outros nos dizem, colocando a dúvida como mediador em cada ponto, a nossa reacção será construtiva e assertiva. Como diria Freud: “…nunca tenha a certeza de nada, porque a sabedoria começa com a dúvida.”.
E se ouvir os outros dá fruto, eu escolho o fruto bom. Ou o fruto mau, mas processado com humanidade. E você, caro leitor?